quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O milênio na terra e o reino do céu



Os propugnadores da mortalidade natural, contrários à imortalidade da alma, procuram em textos antigos, em escritos dos pais da Igreja, a prova para sua doutrina.

Afirmam que a partir do final do século 2, os padres da Igreja foram aos poucos mudando de ideia, adotando nova crença, e ensinando a imortalidade da alma. Após isso, afirma o livro, os pais da Igreja posteriores tiveram que alegorizar o que a Bíblia ensina, e ensinar que as almas estão no céu, negando a ressurreição, o reino literal de Cristo na terra, o pré-milenismo.

Aliás, o livro traz a afirmação de que o exemplo do pré-milenismo sendo deixado de lado, e o amilenismo adotado mais tarde, seria uma prova de que a doutrina de um período é logo negada por todos mais tarde. O que os pais da Igreja ensinariam em uma época seria negada por outros pais da Igreja em seguida.

O problema com esse exemplo é que a doutrina do milênio não foi nunca um dogma, e havia, como já provado antes, cristãos que ensinavam diferentemente sobre esse ponto, e ainda assim não havia divisão por causa disso. Tratava-se de um ponto discutível, que podia coexistir em diversas opiniões, até que a Igreja chegou a um consenso, sem nunca tê-lo dogmatizado. O que os pais da Igreja ensinam em consenso em uma data, não é mudado depois, mas continua o consenso, que faz parte da tradição da Igreja. Assim é que o milênio foi ensinando, em muitos séculos, por tantos outros, durante toda a história da Igreja, ainda hoje, por exemplo, assim como o milênio espiritual, chamado por muitos como amilenismo. Na verdade, a Igreja crê no milênio, mas espiritualmente, e essa é a doutrina que prevalece.

Ao citar sobre “os bons habitarão a terra”, São Clemente está citando os Provérbios 2, 21-22, sem fazer maiores considerações. Apenas repete o que a Palavra de Deus afirma a respeito. Não diz sobre a imortalidade da alma, nem sobre o céu, onde as almas dos santos já esperam conscientes a ressurreição. Ele apenas cita os Provérbios, sem negar a imortalidade da alma, sem negar o céu, sem afirmar o reino somente na terra, como ensinam outras doutrinas. Clemente não trata dessa questão nessa citação.

Ao afirmar que os bons habitarão a terra, faz o mesmo que Jesus no Sermão da Montanha, que diz: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”. No entanto, sabemos que o mundo será transformado após o juízo, para a humanidade redimida. Sabemos que o reino dos céus também aparece no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que tem o coração de pobres, porque deles é o Reino dos Céus”. Onde morarão os justos para sempre. A terra será, de alguma forma, ligada ao céu, e os habitantes do céu poderão habitar a terra.

Embora essa não era realmente a interpretação de Santo Irineu. Ele pensava em alguns habitando o céu, outros habitando o paraíso, e outros a Jerusalém descida do céu. Tratava-se das primeiras interpretações da Bíblia concernentes à escatologia.

Lembrando que Santo Irineu cria na imortalidade da alma. Ele ensinou que a alma mantem a existência após a morte, separada do corpo. Que a alma mantem a forma que o corpo tinha, e que a alma continua a lembrar dos atos praticados quando estava viva com o corpo. Portanto, a escatologia do milênio não tem nada a ver com negação da imortalidade da alma. Também, dito doutro modo, não tem a imortalidade da alma coisa alguma com a doutrina amilenista, ou do milênio espiritual. De fato, os padres que creem na imortalidade da alma também creem no milênio.

Para provar sua asserção sobre a alma, Santo Irineu baseia-se, perfeitamente, na parábola do rico e Lázaro. E, para provar que cria na imortalidade da alma, mais uma vez, escreve que as almas recebem uma merecida habitação mesmo antes da ressurreição. Ou seja, as almas habitam um lugar espiritual à espera da ressurreição. Porque a alma recebe a vida pela graça de Deus. Eis o que ensinava Santo Irineu.

São Justino afirma que muitos pensam diferente a respeito do milênio, mas são verdadeiros cristãos. Ele tem uma opinião própria, também seguida por outros. Nessa passagem, São Justino fala dos hereges, entre esses um grupo chamado “batistas”, que negam a ressurreição. Por isso, faz uma refutação à ideia dos gnósticos, não em relação à imortalidade da alma, mas por causa da negação da ressurreição.

Por tudo isso, a questão da imortalidade da alma não é prova de que esse foi o motivo de muitos não crerem no milênio literal, e que a questão do milênio não é prova contra a imortalidade da alma. Essas doutrinas estão no patrimônio da Igreja.

Didaque 1:7; Policarpo aos Filipenses 2, 1-3; Didaquê 16,6-8; S. Irineu, Contra heresias livro 5, 32.33.
Gledson Meireles.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Identificando a Igreja


A seguinte apresentação e introdução serve para os artigos "Identificando a Igreja", publicados nesta página. Boa leitura.


Apresentação


Muitos cristãos cultivaram o hábito de estudar a sua fé, de conhecer a história da Igreja, de estar preparados para a apologética e de alimentar sua alma com o evangelho.

Nisso, temos que muitos conhecem a história da Igreja, através de bons livros acadêmicos, tanto aqueles produzidos pela Igreja Católica quanto os livros escritos por autores protestantes. Contudo, mesmo esses podem não estar familiarizados com certos sinais que distinguem a Igreja cristã. Talvez muitos nunca pensaram que questões aparentemente inócuas possuem força determinante para identificar certos conceitos e conhecer determinados sinais.

No entanto, agora não se trata aqui de encontrar um livro de história eclesiástica, propriamente dito, mas uma leitura da história da Igreja com o intuito de conhecer sua organização, a hierarquia essencial dos seus membros, quem foram seus representantes e expoentes no ensino da fé cristã em cada período estudado, qual a sua fé característica, as seitas e heresias enfrentadas, os seus representantes, bem como as características principais que possuíam, e que as faziam diferentes da Igreja Católica, contribuindo assim para o almejado contraste e identificação da verdade entre os seguidores de Cristo.

Dessa forma, conhecendo os líderes cristãos e os chefes das seitas, ou as doutrinas cristãs em comparação com as heresias de cada período, e a forma que a Igreja tratava as seitas e heresias, é possível identificar a Igreja que Jesus Cristo fundou.

É uma fascinante viagem pela história da Igreja que Nosso Senhor fundou, perpassando os séculos, e mostrando a vitalidade e as energias empregadas para manter a Palavra de Deus incontaminada e por defender e anunciar a salvação aos homens.

Introdução


 

O presente livrinho tem a intenção de mostrar onde está a Igreja Católica em cada período que for estudado. O primeiro é dedicado somente o primeiro século, que tem como fundamento a própria Palavra de Deus, em especial o Novo Testamento.

Dessa forma, a maior parte será dedicada a esse tempo, e os critérios escolhidos foram o conhecimento de algumas autoridades cristãs do período, a doutrina cristã que ensinavam, e sua atitude para com ensinos opostos e grupos sectários. Também a identificação dos grupos, suas doutrinas e os chefes e expoentes de cada grupo.

A partir dessa metodologia, alguns conceitos e questionamentos são propostos para a reflexão, enquanto se faz a refutação de certas doutrinas e entendimentos. É esperado que o leitor possa pensar de que lado está, onde se encontraria entre os grupos apresentado.

De acordo com o pensamento prevalecente entre os protestantes, a Igreja não é uma instituição, não tendo a natureza de uma organização, mas é um organismo espiritual, é a união espiritual de crentes e salvos pelo Sangue de Cristo, sendo essa de natureza invisível, e que todas as denominações são apenas o aspecto visível da Igreja, cada qual com maior ou menor grau de pureza, mas sempre imperfeita, inclusive no ensinamento doutrinal, tendo apenas o núcleo do ensino preservado, que é o mínimo de ensino evangélico, bíblico, caracterizador da verdade da salvação mantido por uma rede de igrejas visíveis, o que fez serem igrejas corretas e bíblicas. Dessa forma, o aspecto visível da Igreja teria uma importância secundária.

 

Com essa mentalidade, muitos leem o Novo Testamento e afirmam que as igrejas de Corinto, Éfeso, Tessalônica, e etc., eram todas imperfeitas, enfrentando divisões, heresias, e outros problemas típicos do ser humano, e que eram governadas por líderes locais, sendo cada uma autônoma, sendo comparáveis às denominações protestantes consideradas bíblicas do ponto de vista da Reforma, e que nem por esses problemas tais igrejas do primeiro século deixaram de ser igrejas de Cristo.[1] Parece cair nesse erro, pelo menos em linhas gerais, o teólogo protestante Wayne Grudem, pois ao falar das igrejas “mais” puras e “menos” puras, elenca como exemplo das primeiras a Igreja dos Filipenses e a dos Tessalonicenses, e das últimas as igrejas da Galácia e de Corinto.[2]

Seriam como se fossem as modernas denominações, cada uma com seu credo característico, mantendo unidade apenas nos artigos fundamentais, não importando o fundador de cada uma, pois não tendo caráter institucional, e sendo a pregação do Evangelho bíblico o distintivo da verdadeira Igreja, podem ser fundadas em qualquer tempo, como ainda hoje, serem imperfeitas em vários sentidos, mas tendo a doutrina fundamental mantida, constituirá uma igreja de Cristo, não importando as diferenças e divergências relativas aos pontos secundários da doutrina.

E por isso, citam os pecados que estavam entre os coríntios, as divisões, as heresias, e etc., afirmando que assim também é nos dias de hoje no Protestantismo. Com isso, acalmam suas consciências e afirmam que as divisões são permitidas, benéficas, e, como entendem, mantendo o fundamento, não afetam a unidade.

 

Para refutar tal ideia, segue uma série de estudos onde será identificada a Igreja verdadeira, mostrando que essa é institucional, uma sociedade espiritual organizada, sendo também visível, um organismo vivificado pelo Espírito Santo, constituindo o Corpo de Cristo, onde cada igreja local é governada por um apóstolo, um presbítero ou um bispo, mas todas tendo unidade no grupo dos doze apóstolos, como fundamento governamental, não sendo as igrejas particulares de forma alguma absolutamente autônomas, mas todas submetidas à autoridade apostólica, modelo de governo que permanece até os dias de hoje, não no número, nem em suas características exclusivas, que tinham por serem os apóstolos escolhidos diretamente por Jesus e testemunhas oculares da ressurreição. Assim, os sucessores dos apóstolos continuam no governo eclesiástico. No primeiro século, todas as Igrejas estavam unidas na fé, ou seja, na doutrina, no governo, na disciplina, na moral, no culto.[3]

Que o Senhor Jesus Cristo nos abençoe e ilumine nossas mentes para que conheçamos a verdade, convertamos o nosso coração e estejamos no Seu rebanho.

As divergências sobre a natureza da Igreja contribuem para justificar a existência de igrejas fora da igreja primitiva e católica. A teologia protestante afirma que todos os salvos são a Igreja. Mas, há quem diga que a igreja existiu somente a partir de Cristo, e que os salvos do Antigo Testamento não eram igreja, e haverá ainda salvos futuros que não serão parte da Igreja. Essas são opiniões dispensacionalistas.

O teólogo Wayne Grudem, defendendo a visão não-dispensacionalista, afirma que a Igreja é edificada por Cristo mas é continuação do plano divino já iniciado no Antigo Testamento.[4] Ele define a Igreja assim: “A igreja invisível é a igreja como Deus a vê”. E “A igreja visível é a igreja como os cristãos a vêem.”. E explica que não é a igreja que qualquer pessoa sem o conhecimento do Evangelho pode perceber, mas a igreja conforme os cristãos genuínos percebem. Outro aspecto que o Protestantismo tende a considerar, na prática, como fundamental, é o da igreja local. Mas Grudem traz um esclarecimento importante, que está em concordância com a doutrina cristã católica, de que o termo Igreja é aplicado tanto para a igreja local, como a igreja de uma cidade, como de uma região, como a Igreja universal.

 


 



[1] A autonomia das igrejas é defendida por muitos, que tentam fundamentar sua posição nas Escrituras. As igrejas seriam autônomas, onde cada uma não responderia diante de Deus pelos erros e pecados das outras, não seria castigada por causa do mau testemunho de outras. Também nenhuma teria autoridade sobre outra, mas cada governo se limitaria a chefiar os cristãos locais. Esse entendimento é errôneo pois confunde administração com a própria natureza da Igreja. Sendo uma só, cada igreja local não poderia ser autônoma em essência, mas apenas parte da Igreja universal. Dessa forma, cada ato seu não configura um ato universal, mas é parte dele, sendo apenas o seu ato como grupo local. Jesus, por exemplo, admoesta e ameaça uma igreja de tirar o seu candelabro. Não estava julgando todo o Corpo de Cristo, mas apenas uma parte dele, alguns membros, que formavam uma igreja local, ligada à Igreja única. De fato, Cristo tem um só corpo eclesiástico, não vários.
[2] O problema com a visão de Grudem ao apontar esses casos como exemplo é que parece estar tratando daqueles cristãos específicos como se fossem modernas “denominações”, que não existiam. Para afastar esse erro de pensamento, basta imaginar um padre católico elogiando certas igrejas católicas de um lugar, e exortando outras de outro lugar. Como ficará claro neste estudo, não havia problemas doutrinários na Igreja no primeiro século como se fossem doutrinas diversas entre denominações. O que havia eram heresias que surgiam no meio das igrejas e eram totalmente reprovadas. Isso fica claro nas próprias palavras de Grudem, que sem perceber, mostra o que foi aqui apontado. Ele escreve: “uma igreja pode ter uma excelente doutrina e uma pregação sadia, por exemplo, todavia possuir uma falha lamentável no testemunho a outros...”. Lembrando que as comunidades do Novo Testamento tiveram todas a mesma doutrina, e os problemas de ordem moral, prática, e etc., são comuns na Igreja Católica ainda hoje. No entender protestante, uma igreja mais pura é igualmente cristã em comparação com uma menos pura, onde uma acerta mais doutrinariamente que outra. Nenhum apóstolo jamais pensou coisa igual. Todas as doutrinas que não concordavam com o ensino apostólico foram consideradas sérias deformações doutrinais, e foram denunciadas. A unidade não se tratava apenas em “cooperação voluntária e afiliação entre grupos cristãos”, como afirma Grudem sobre o Protestantismo, mas havia uma unidade doutrinária, de governo, organização, culto, etc. Por isso, um problema doutrinal local poderia ser resolvido pelos apóstolos em um Concílio em outra localidade, por outros presbíteros, como aconteceu no Concílio de Jerusalém. No Protestantismo não acontece isso, pois um concílio luterano não tem jurisdição em uma igreja reformada, nem em uma batista e vice-versa. Sem mencionar as outras denominações.
[3] Muitos enfatizam demais o aspecto invisível da Igreja, afirmando que a Igreja particular, denominacional, nominal, a placa da igreja, e coisas do tipo, não seriam importantes, pois Jesus Cristo é quem salva. Isso indica a diferente conceituação de Igreja entre os entendimentos católico e protestante, onde o último tende a quase deter-se no aspecto invisível de Igreja, considerando os cristãos em geral e em toda a parte como se fossem visivelmente a Igreja, não importando estarem divididos nas denominações, contanto que crendo em certo número de verdades toleradas como parte essencial do Protestantismo.  No entanto, no primeiro século, no tempo apostólico, não há nenhuma diferença entre estar em Cristo e fazer parte da Igreja visível, pois havendo uma única igreja não era possível encontrar cristãos fora da comunhão da Igreja que estava em toda parte. Cada igreja local, em cada cidade, em cada parte de uma cidade, em cada região, era pastoreada pelos apóstolos e epíscopos, presbíteros, diáconos por eles ordenados, e não eram considerados nenhum grupo fora da comunhão visível da Igreja. Não havia igreja fora da autoridade apostólica. O pertencimento à igreja visível é ao mesmo tempo o sinal da membrezia da Igreja invisível, pois a parte visível da Igreja é a expressão da sua parte invisível. E por isso, é impossível encontrar qualquer divergência doutrinária tolerada pelos apóstolos, como formando outro grupo cristão fora da unidade visível estabelecida. Atenção a esse dado: não há tolerância a divergências doutrinárias no Novo Testamento. É impossível negar que no Novo Testamento há uma só Igreja. Portanto, no primeiro século encontra-se uma só Igreja.
[4] Fundamentados na verdade de que só Deus conhece os que são Seus (2 Tm 2,19), muitos formulam ideias que redundam em erro e heresia. Isso porque abrem espaço para a criação de igrejas e a continuidade das divisões. A crítica de que os sacerdotes do AT tornaram-se falsos ainda que descendendo de Aarão, fazendo com que bispos e padres sejam colocados fora da comunhão, ainda que estejam na sucessão apostólica, é algo que não tem respaldo bíblico. Jesus confirmou a autoridade dos fariseus em Mateus 23. A sucessão apostólica é respaldada na doutrina bíblica neotestamentária. A “verdadeira pregação do evangelho” é marca da Igreja, mas quando alguém fere essa característica, é a Igreja quem avalia e pronuncia seu parecer a respeito. A crítica de Martinho Lutero e João Calvino, lembradas por Wayne Grudem, não obedece esse modelo, já que eles deixaram a comunhão visível da Igreja e anatematizaram a Igreja Católica inteira a qual haviam deixado. Os anátemas de Trento estão conforme o paradigma apostólico, não sendo voz de um ou outro cristão, mas de toda a Igreja, reformando a Igreja e rejeitando doutrinas estranhas. Grudem trata das características da Igreja, e refere-se aos templos pagãos, que eram igrejas falsas, as assembleias judaicas, que é exemplo de igreja falsa. E no Cristianismo, como os reformadores protestantes buscavam marcas para confrontar com a Igreja Católica e negar a sucessão apostólica, afirmaram a pregação correta da Palavra de Deus como uma das marcas. No entanto, essa correção da pregação foi estabelecida em seus concílios e confissões, o que abre espaço para maiores esclarecimentos. Sendo os pontos de doutrinas fundamentais, Grudem cita algumas igrejas falsas. A segunda marca é a administração correta dos sacramentos. Ao tratar da Igreja Católica, partindo dessas marcas estudadas, sob a perspectiva protestante, o teólogo Wayne Grudem admite que é uma Igreja verdadeira. É característico do estudo sincero e profundo em busca da verdade a aproximação da verdade. As verdadeiras marcas da Igreja são a catolicidade, apostolicidade, unicidade e a santidade.

Gledson Meireles

domingo, 9 de fevereiro de 2020

A Exortação Apostólica e o celibato

No dia 12 de fevereiro será publicada a Exortação Apostólica referente ao Sínodo da Amazônia, e um dos pontos tratados mais esperados tem a ver com o celibato. De fato, muito esperam a orientação papal para a ordenação de homens casados para a atuar na região amazônica, podendo ser também uma prática a ser estendida por toda a Igreja.
 
O celibato é bíblico. Todos os que creem na Bíblia o sabem ou deveriam saber. Mas também todos sabemos que esse é um assunto controverso. O Protestantismo, por exemplo, é muitíssimo contrário a ele. De fato, os protestantes o colocam como um dos motivos por que não são cristãos católicos, ou posto de outra maneira, apresentam o celibato como algo diabólico, como erro, heresia, desvio, e coisas nesse sentido.
 
Ao avaliar a doutrina, apresentam-se contrários ao celibato "obrigatório", mas ao tecerem seus arrazoados, vemos que na verdade estão falando contra o celibato em si. Parece que não notam o fato.
 
Talvez há católicos que estejam influenciados por tais pensamentos. No entanto, o problema é que muitos nunca pararam para pensar como a Igreja o pensa. Não conhecem os motivos que a Igreja tem para continuar a exigir o celibato.
 
É sabido que não se trata de dogma, ou algo intrínseco ao sacerdócio, mas uma tradição muito bem fundamentada, com motivos bíblicos, e com razões que mesmo nos dias atuais, talvez mais do que nunca, continuam válidas, e as mais indicadas. Sabe-se também que há entre os padres aqueles que pensam não ser problema uma alteração prática nesse sentido, ainda que sejam padres celibatários e não tenham problemas com a doutrina. Lembrando novamente que não se trata de algo imutável.
 
Não se sabe o que o papa decidirá. Será ambíguo o documento? Conterá uma resposta positiva, ou algo positivo ao pedido do sínodo referente ao celibato? Será contrário e decepcionará a muitos?
 
A prudência parece apontar que o papa não abrirá mão da prática milenar da Igreja, mesmo diante das razões apresentadas no sínodo.
 
Gledson Meireles.