sábado, 16 de março de 2019

Sobre a aparição de Moisés

As colocações feitas no artigo que tenta explicar a aparição de Moisés são bastante interessantes, e servirão aqui para mais uma avaliação, pois já foi feita refutação neste blog, quando foi tratado o tema da aparição de Moisés na perspectiva de provar a imortalidade da alma.

Agora, aparece um desafio: todos na cena do monte da transfiguração estão em corpo, menos Moisés, o que seria estranho.

No entanto, essa questão não surge do texto bíblico, mas do que estamos averiguando, ou seja, a imortalidade ou a mortalidade da alma. As premissas são criadas a partir desse debate.

Alguém deve saber que anjos são espíritos, não possuindo corpo material algum. Mas, quando vieram à terra, estavam materializados, podendo conversar, comer e beber com outras pessoas, e passar por homens, ou seja, aqueles que os viam achavam que fossem seres humanos.

Também o profeta Elias subiu aos céus há milênios. Ele não morreu, e quando foi arrebatado seu corpo material passou por uma transformação que o capacitou a viver no mundo espiritual, por tanto tempo, até os dias de hoje. Doutro modo, deveria alimentar-se, e estaria sujeito a tudo o que nós estamos aqui na terra. Ninguém seria ingênuo de pensar isso.

No entanto, quando apareceu a Jesus, certamente aquele corpo em glória mostrou-se segundo a aparência dos vivos, tornando-se visível na terra. O corpo que vive com os espíritos celestiais, aquele corpo humano glorificado que está na presença de Deus e na companhia dos santos, agora é visto na terra.

Pois bem, Elias aparece com Moisés. Mas, o que desafiaria o “bom senso” e, depois, a Bíblia, seria que a cena se tornaria estranha se somente Moisés não tivesse corpo, já que todos ali tinham: Jesus, Pedro, Tiago, João e Elias. Um só sem o corpo seria demais!

Mas, eis que algo agora vem à tona para derrubar esse desafio. Devemos lembrar que Jesus, Pedro, Tiago e João estavam vivos ainda, aqui na terra. Os que vieram do céu foram Moisés e Elias, o que já os coloca em posição diversa em relação aos que estavam vivos.

A outra curiosidade é o fato de Elias estar no céu com corpo e alma no mundo espiritual. Se Moisés naquela cena tão breve é motivo de estranheza, o que o objetor pensa da realidade de Elias como um dos únicos corpos glorificados no céu vivendo com anjos que são espíritos puros? Seria estranho alguém viver com corpo ao lado dos demais que não possuem corpos? (isso para fins de análise do argumento) E a glorificação, não explicaria essa possiblidade, de viver como os espíritos?

Por essa razão, o desafio não é grande, e de fato não oferece qualquer dificuldade para a questão. Da mesma forma que anjos materializam-se, mesmo não possuindo essencialmente um corpo, e Elias apareceu como estava antes de subir ao céu, não transformando o seu corpo glorioso de volta ao que era antes da glorificação, assim Moisés veio em seu espírito e tornou-se visível como se estivesse em corpo material. A aparição cumpriu seu papel ali, e não mudou em nada a constituição dos seres de Moisés e de Elias.

“Mas é preciso ressaltar: a crença na ressurreição de Moisés não depende de acreditar que ele foi o primeiro a ressuscitar para nunca mais morrer." Mas isso também oferece alguns problemas, que deveriam ser esclarecidos. Leia no link indicado abaixo.

A conversa que Jesus teve com Moisés e Elias, apenas pelo fato de Moisés estar morto, não poderia ser semelhante a uma “sessão espírita”. Isso porque Jesus não os invocou, e ali não foi feita consulta alguma, nem qualquer processo para aliviar espíritos desencarnados, e nem qualquer outra coisa que pudesse inferir isso. O que ocorreu foi que os dois grandes representantes da Lei e dos Profetas, Elias e Moisés, vieram ao encontro de Jesus que é o grande cumpridor da Lei e dos Profetas, na fundação do Novo Testamento.

A interpretação de que se trata dos símbolos dos que serão arrebatados e dos que serão ressuscitados é belíssima, mas não pode ser defendida nessa cena por um simples fato: não há prova alguma da ressurreição de Moisés, e pelas Escrituras aprendemos o contrário, ou seja, que Moisés ainda não ressuscitou. As outras dificuldades são tratadas em outro lugar, bastando clicar aqui para ler.

Por isso, o contexto e o assunto são referentes à morte de Jesus, o que mostra ser a instituição do Novo Testamento o tema principal.

Gledson Meireles.

terça-feira, 5 de março de 2019

"Catolização" e "Alma católica" das igrejas protestantes? Talvez nem tanto!

O artigo Cuidado com a “catolizacão” das igrejas evangélicas afirma que a mentalidade católica das indulgências agora é prega por protestantes, e que o “catolicismo medieval” está em igreja protestantes contemporâneas.

Essa avaliação contém um erro grave, mas tão sutil que é quase impossível perceber (graças a Deus não há impossibilidade, do contrário não poderia ser feita crítica alguma a esse tipo de pensamento). Mas, como é muito tênue, talvez quem pensa assim não seja, pelo menos antes de grande exercício de estudo e reflexão séria, capaz de compreender o que está sendo exposto aqui.

Mesmo um teólogo, dos mais abalizados do Brasil, o reverendo Augustus Nicodemus, escreveu um texto sobre os protestantes brasileiros, (que pode ser lido clicando no título a seguir, Alma católica dos evangélicos no Brasil), afirmando que possuem uma alma católica, ou seja, que muito do que pensam e fazem é resquício do seu catolicismo.

Contra isso, escrevi uma reflexão sobre o texto, introduzindo comentários após as afirmações mais importantes, enviando o mesmo ao autor, que nunca escreveu uma palavra sobre minha reflexão (certamente, pensei, para não perder tempo com um católico intrometido que com ares de sábio vem criticar algo que não sabe e que não merece uma resposta por não ser membro representante da Igreja que pertence, e coisas do tipo, eu diria, aplicando à atitude do revendo algo que já li em algum lugar, de outro apologista pertencente a uma denominação protestante que escrevia algo semelhante a outra pessoa). Mas, que até hoje acredito que está correta a reflexão que ofereci.

Agora um artigo afirma que o catolicismo, não o atual, senão aquele da era medieval (em termos de qualidades próprias do seu tempo) está nas igrejas protestantes.

Isso é algo similar ao que critiquei, e por isso tomo outra vez a ocasião de publicar o texto inteiro, para aqueles que desejarem pensar sobre o assunto.

Entre outras coisas, afirma o artigo: “A “água benta” do catolicismo virou a “água ungida” de certas igrejas, que pegam do catolicismo o modelo que já havia sido denunciado e derrotado pelos reformadores.”

Esse também é um exemplo citado no texto do Nicodemus, como será visto abaixo, e que não satisfaz uma análise mais profunda. É óbvio que há algo de verdade em toda a aproximação que o autor fez do assunto, e é onde está o valor do artigo (de ambos os artigos, aliás), mas não conseguiu mostrar a verdade toda da questão. Há sinais verdadeiros, mas não conseguiu expor uma matéria correta. O mesmo ocorre no artigo referido. Espero que isso sirva para melhor compreensão do tema.

Autor: Augustus Nicodemus

[Meus comentários entre colchetes]

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. [Essa afirmação já produz um aroma de que o catolicismo é de “má” influência. Será? Você, se for protestante, dirá que sim, com certeza, e coisas do tipo. Mas... Que influência católica “atrapalha” os protestantes ou os chamados “evangélicos”? Coloco entre aspas porque acredito que os cristãos católicos são plenamente evangélicos, não só os protestantes. Os protestantes comungam dessa fé católica.] Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo (“cosmovisão”). [É verdade que o Brasil nasceu sob o signo da cruz, coisa significativamente importante, por exemplo, um protestante não precisa apresentar Jesus a alguém, como se ele não o conhecesse, tornando mais fácil a evangelização protestante do que seria em um país não cristão. Mas, será que o povo brasileiro absorveu a mentalidade puramente católica ou foi essa apreendida com graus diversos de modificação? Penso que essa última alternativa seja a verdadeira, e que o presente artigo do Rev. Augustus Nicodemus ajudará a entender melhor.] O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, seremos 40 milhões neste ano de 2006. [Em 2011 o ramo protestante que mais cresce é, segundo informações que obtive em outro artigo do O Tempora, o Mores, o tradicional, com estagnação entre os pentecostais] – mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica. “Que mal tem tal herança para que se tenha de “livrar-se”? Vamos ver.”. É um fato que a conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica uma mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo [Realmente, essa mudança na cosmovisão é bem lenta]. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados “em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.9-11), sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles [É importante que entender isso]. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou a formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). [Esses dois pontos 1) dicotomia do mundo 2) culto à personalidade são coisas que o paganismo realmente sistematizou religiosamente.] Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã.[Será que o autor, já aqui, pretende mostrar que os protestantes hoje tem alma “católica pagã”, como herdando um “mal”? Talvez. Prossigo.] Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo [Esse aspecto da tendência ao mal na natureza humana é inegável. Já havia tratado disso quando analisava as manifestações cultuais de certas igrejas, que influenciadas por ramos do baixo espiritismo, alimentavam uma herança católica popular, mas que, antes de tudo, é uma tendência do espírito humano. O que não podemos é pensar que tal coisa é parte do Catolicismo. É aí que reside parte do equívoco.]. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil [Volta-se, então, principalmente a ver o catolicismo como essa vertente de “más influências” para os “evangélicos”, os protestantes. Apesar de concordar que há uma tendência natural do homem para os pecados de todos os tipos. A verdade é que a Igreja Católica não absorve nenhuma tendência maléficas. Basta pesquisar.]. E que tendências são essas?

1) O gosto por bispos e apóstolos – [Mas, esse gosto não é negativo. Aliás, é o próprio gosto do Novo Testamento. O que deve acontecer é uma deturpação entre os “evangélicos” criticados nesse artigo. Portanto, é uma interpretação típica desses meios, não do Catolicismo. A crítica não deve ultrapassar aquele terreno.] Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo [Esse é um assunto longo, como sabe o autor, mas é biblicamente fundamentado que o apóstolo Pedro possuía autoridade única]. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. [Esse fato é comum entre os seres humanos. Há a medida correta, mas muitos a ultrapassa. Mesmo entre os presbiterianos isso pode acontecer, não é? Veja que na Igreja Católica o povo do primeiro século almejava que, pelo menos, a sombra de S. Pedro os tocasse! E a Escritura não registra uma só palavra de reprovação nesse sentimento e ato. (Atos dos Apóstolos)] Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes [Que é mal-entendida pelo protestantismo tradicional. De fato, os judeus possuíam sacerdotes, Aarão e os levitas, e mesmo assim constituíam uma nação sacerdotal. O sacerdócio leigo ao lado do ministerial, sem contradição, como no Novo Testamento. Certamente, o senhor Reverendo Augustus tem suas considerações sobre isso.] e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções [E não deve permear, como que por necessidade. Como visto, é a distinção bíblica, já deixada de lado, teoricamente, por Calvino e etc, mas legítima. No entanto, mesmo entre protestantes tradiconais a prática cristã introduz tal distinção].

2) A idéia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações [Isso não nega, como foi comentado, o sacerdócio dos fieis. Quando os protestantes participam da Ceia do Senhor, não estão recebendo bênçãos por celebrarem o sacramento – ordenança – do Memorial da Cruz?]. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo [Não como “feiticeiros”, mas como ministros de Deus, onde o Espírito Santo realiza a obra de Cristo por meio da Igreja.]; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados [Tudo por obra do Espírito Santo, em Nome de Jesus Cristo.]. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com poucas mudanças [Essa mediação é, talvez, mal-entendida entre os protestantes, e certamente a influência “católica” entre eles é percebida de forma diferente. Talvez mesmo não seja influência católica, mas de outro ramo religioso não-cristão, adotado através da livre interpretação da Bíblia pelo fiel. Isso ficará mais claro, abaixo, ao passo que refletimos.]. Até nas igrejas chamadas históricas, os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles e como se os pastores funcionassem como mediadores entre eles e os favores divinos [A oração do justo é sempre ouvida (Tg 5:16).]. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc. [Essas influências são provenientes do baixo espiritismo, mais diretamente, pois os católicos populares são também afetados por esses costumes, mas tais cerimônias e correntes tem inspiração nos cultos espíritas. A cosmovisão está mais embasada nessa vertente religiosa, que influenciou o catolicismo popular. Essa constatação está mais clara até pelos termos utilizados pelos pastores: sessão do descarrego, rosa “ungida” utilizada para absorver os maus “fluídos” (Se a rosa não for levada à igreja o mal permanecerá na sua casa) e etc. Coisas que não fazem parte do Catolicismo.].

3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras [É como foi dito acima. No entanto, é importante esclarecer que o Catolicismo que sincretizou essas influências não é o Oficial, mas o popular, no sentido negativo do termo, que ensina coisas que o Catolicismo rejeita, que não tem autoridade sobre aquele que procura aprender de Cristo. Essas tradições populares não devem fazer parte do credo cristão católico. Servir a Cristo na Igreja Católica que Ele fundou, é aprender dEle.], semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos [que é de inspiração bíblica], uso de relíquias [igualmente bíblico], aparições de Cristo e de Maria [são possibilidades, com aprovação bíblica], objetos ungidos e santificados [esse uso tem conotação espírita entre os protestantes], água benta [bíblica], entre outros [é bom fazer distinções como essas]. Hoje, há um crescimento espantoso, entre setores evangélicos, do uso de copo d’água [entre católicos carismáticos também], rosa ungida [herança de ramos espíritas], sal grosso [também do espiritismo. Por exemplo, levar fotografias de pessoas, sal grosso, e outros objetos para quebrar maldições. Isso nunca foi Catolicismo.], pulseiras abençoadas [influenciam tanto católicos populares (que não conhecem bem a doutrina da Igreja), como protestantes (esses sim, com aprovação dos Pastores das suas igrejas. Fato comprovado na crítica em apreço.). É o que chamei, quando analisava essas questões, de “paganismo oficializado” na igreja, o que difere dos católicos, que usam alguns desses artifícios mas que não são membros ativos da Igreja Católica, e que não recebem esses ensinos diretamente dos seus líderes.)], pentes santos do kit de beleza da rainha Ester [um exemplo de fato da livre interpretação bíblica associada à influências supra-citadas], peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão) [isso é bem diferente do uso das relíquias, que não são reproduzidas para sem distribuídas], o cajado de Moisés...[idem] é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo [Líderes: palavra-chave. Os líderes de muitas igrejas ensinam sistematicamente isso ao seu rebanho]. Esse fenômeno só pode ser explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos [alma católica popular, melhor dizendo, não verdadeiramente cristã católica. Alma humana decaída pelo pecado. Assim, também, os católicos absorvem essas más tendências, à revelia da verdadeira doutrina católica.].

4) A separação entre sagrado e profano – No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça, idealizada e defendida por Tomás de Aquino, um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica.[Essa distinção tem resultados negativos na vida cristã?] Na prática, isso significou a aceitação de duas realidades coexistentes, antagônicas e freqüentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora.[Não será essa prática substanciada mais pelas influências maléficas do paganismo, antes que da distinção teológica entre natureza e graça?] Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir Missa e se confessar [É verdade. É também algo impresso na alma humana, decaída]. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque. [Não era assim no mundo medieval, tão cristão católico. Tudo era mais engendrado. Nas Universidades discutiam-se questões religiosas como hoje discutem-se outras coisas não religiosas ou mesmo anti-religiosas. Portanto, necessário maior exatidão na criticidade desse assunto.] É a mesma atitude dos evangélicos. Falta-nos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica [visão essa injetada, eficazmente, pela Igreja Católica na sociedade de tempos atrás, como foi dito acima] de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada [mentalidade que a Igreja Católica combate], permeada de pressupostos anticristãos, eduque os nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções. Em outros países, os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que, além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciência, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos [Cristãos católicos realmente evangelizados certamente estão nesse rol]. Numa cultura permeada pela idéia de que o sagrado e o profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e freqüentemente antagônicos [deve-se fazer distinção do que entende-se por “mundo” quando tratar dessas distinções], não há como uma visão integral surgir e prevalecer, a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre os evangélicos [E essa reforma, ao invés de desmontar e rejeitar um pressuposto católico, irá desfazer-se de, TAMBÉM, um “catolicismo do povo” (pois outras influências estão permeadas entre os protestantes) e aproximar-se, senão identificar-se, com o Catolicismo cristão de fato.].

5) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo catolicismo romano vem permeando a ética brasileira há séculos [Essa distinção é bíblica.]. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e a condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais [Mas podem tornar-se mortais, já que são pecados, e nunca devem ser menosprezados, mas confessados a Deus. Essa especificidade o senhor esqueceu ou não sabia como explicar]. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais.[No entanto, a cultura não é infalível, mas sempre seleciona hereticamente o que lhe apraz, se não for evangelizada, purificada.] Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável [Isso no âmbito cultural é pouquissimamente, ou nada, católico]. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito ou de que teria sido reeleito por uma margem tão grande [ Seria interessante uma pesquisa com outros candidatos...]. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso [a Igreja Católica ensina o mesmo] e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros [Por quê? É importante um estudo específico]. As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos [É cultural apenas, ou as igrejas protestantes estão mudando – oficialmente - seu modo de ver essas questões?]. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos? [Só se for uma parcelinha de catolicismo popular, não do Catolicismo oficial. Isso deve ter ficado claro.]
O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anticatólicos do mundo. [Outra questão interessante a ser aprofundada.] Só para ilustrar (e sem entrar no mérito dessa polêmica), o Brasil é um dos países onde convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas [aprofundar a questão]. O anticatolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. [Aprofundar essa questão: não será porque os “evangélicos” em outros países também praticavam essas coisas? E de uma forma bastante estranha ao espírito cristão, como percebi na aprovação (usando a Bíblia para tentar defender) do vício do fumo pelo pastor e pregador Spurgeon.] Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima [E ficou mais claro que essa mentalidade é longe de ser realmente católica]. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo [Esse é outro estudo: se os ídolos são os santos e Maria, então realmente necessita-se de um estudo específico aqui (não negando que há pessoas que desconhecem essas coisas e praticam idolatria com elas)], os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo [E vão cada vez aproximar-se do Catolicismo, já que esse tem a cosmovisão da Bíblia. O Sr. Reverendo Augustus não previu isso. E até discorda, não é?]. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento, e não somente os nossos pecados [É com esse princípio que aprendi ouvir e praticar o que ensina a Escritura e, consequentemente, a tradição cristã (não de invenção humana) e a Igreja instituída por Cristo]. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2 Co 10.4-5).

Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos [Volta-se àquilo que disse no decorrer do texto: essas prática, se desvirtuadas, não eram aprovadas pela Igreja da época, nem pode ser hoje.] e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos [essa procura tem sido errônea. Por que não voltar-se àquela instituição cristã que tem a sucessão apostólica (o Sr. Rev. nega isso, eu sei. Com respeito, pergunto: vamos ver se a Bíblia sustenta sua opinião?)], imersas em práticas supersticiosas [a superstição é condenada pela Igreja Católica], me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval [Como ficou, pelo menos, indicado, a resposta correta é: NÃO. O neopentecostalismo é filho da tendência humana para práticas religiosas espúrias aliada ao sincretismo, à adoção de influências de sistemas religiosos pagãos, do espiritismo em suas várias expressões brasileiras.], uma forma de neocatolicismo tardio [de forma alguma, como foi dito] que surge e cresce em nosso país, onde até os evangélicos têm alma católica [popular, um Catolicismo diferente, diga-se finalmente]. E com isso, entende-se que a alma que está influenciando tanto as igrejas protestantes certamente é espírita.
 
Gledson Meireles.