Nessa parte o livro tenta provar que
Pedro não tem sucessores. Tenta-se provar que “os bispos romanos não exerciam
um primado universal sobre todos os demais bispos da Igreja” (p. 213) Há mesmo
um sinal de que haverá livro próprio para tratar da questão. Então, o foco
atual é a pessoa do apóstolo.
O Dr. Samuele Bacchiocchi, estudando a
história do papado, aprendeu que: “O processo (da supremacia do papado) começou
já no segundo século quando a primazia do bispo de Roma foi amplamente
reconhecida e aceita.” (Samuele Bacchiocchi, The Role of EGW´s writings in
Biblical Interpretation, p. 12) Obviamente isso já é encontrado nas páginas da
Bíblia, e é realidade no primeiro século. Mas, o Dr. Bacchiocchi, que devotou
grande parte de seus estudos sobre esse assunto particular, e divergiu mesmo de
Ellen White que colocava o estabelecimento do papado em 538, no século sexto,
portanto, é digno de nota frisar, que ele reconheceu tamanha evidência história
“já no segundo século”.
Obviamente, ele não cria na Primazia
do Papado, por negar igualmente a teoria petrina e a sucessão apostólica.
Porém, chegou bastante próximo da verdade, e quase reconheceu a fonte dessa doutrina,
a Bíblia.
A primeira citação da Epístola aos
Magnésios, de Inácio, mostra a organização hierárquica de bispos, presbíteros e
diáconos. Fala-se do bispo como representante de Deus, “que ocupa o lugar de
Deus”. Mais adiante, o livro tenta lançar um sentido maléfico nas Palavras dos
papas quando referem-se a essa realidade, quando dizem que estão representado
Deus na Terra. É justamente isso que Santo Inácio mostra que os bispos
realizam. E o Catecismo da Igreja, como já provado, ensina o mesmo, até os dias
atuais, sem mudança alguma, de que os bispos são vigários de Jesus Cristo.
É o que escreve aos Tralianos: “Quando
vos submeteis ao bispo como a Jesus Cristo”. (p. 214) Assim também fala
em relação aos presbíteros e aos diáconos.
Adiante, mostra que a Igreja tem autoridade
para ensinar a Palavra de Deus: “aquele que age sem o bispo, sem o presbítero
e os diáconos, esse não tem consciência pura”. [ênfases
acrescentadas] Se alguém pensa em ensinar algo que, ao seu livre exame da
Escritura, não estiver de acordo com essa norma objetiva, de unidade com o
bispo, o presbítero, e os diáconos, esse não está na doutrina verdadeira, e
está fora do santuário, como afirma Santo Inácio. Essas palavras são
importantes para provar que o livre exame inexistia na Igreja antes da Reforma
Protestante. Esses registros são da Igreja na Idade Antiga. Ser submisso ao
bispo e ao presbítero é estar bem com Jesus Cristo! Essa norma é bastante
cristã católica.
“Atendei ao bispo, para que Deus vos
atenda.” Com absoluta certeza, nesse caso, não há espaço para heresia. O bispo
deve estar em união com os demais bispos, e presbíteros, e diáconos. Assim, as
autoridades, em comum acordo, na doutrina, impedem que as heresias se imponham.
Note que Santo Inácio inculca a santa obediência nos cristãos. Essa linguagem,
essa doutrina, dificilmente se poderá ler e ouvir no Protestantismo.
Ainda, Santo Inácio escreve:
“submetidos ao bispo e ao presbítero, sejais santificados em
todas as coisas”. Essa submissão do cristão está incluída na santificação sua.
Os textos de Santo Inácio foram
apresentados no livro com outro objetivo, mas usados aqui para lançar um olhar
de perto no que ensinam sobre a autoridade da Igreja. Fez bem em citá-los a
obra analisada.
O fato que o livro aponta é a curiosa
ausência de menção ao papa, quando Santo Inácio cita o bispo, o presbítero, e o
diácono. Assim, conclui o livro que não havia papa! Desse silêncio específico
com relação ao chefe da Igreja, diz-se que esse não existe.
Então, ao frisar na ausência da menção
ao papa na Epístola aos Romanos, escreve: “É claro que não! O fato de Inácio
nem sequer citar o bispo de Roma é somente uma consequência do fato de que tal
bispo não era nem nunca foi superior a todos os demais bispos.” (p. 214)
Pode-se afirmar que, então, o bispo de
Roma ou não existia, ou seria o menor, já que nem foi citado? Não, obviamente.
Contudo, por que a falta de menção, por parte de Santo Inácio? Esse ponto
diferencia a Igreja em Roma das comunidades nas diversas localidades. Se em
todas as outras cartas os bispos são mencionados, e diversas vezes, como afirma
o livro, e na Carta aos Romanos não há tal coisa, deve existir algo diferente
que coloca a Igreja em Roma em destaque.
E a explicação do livro para o fato de
Santo Inácio sempre citar outros bispos e nunca o bispo de Roma é essa: “A
resposta é óbvia: o bispo de Roma não era Sumo Pontífice coisa nenhuma!” (p.
218) Essa resposta não procede. Logicamente, poderia indicar que Roma não tinha
bispo na época, o que não é verdade. Há quem conclui assim. Outra conclusão
seria que Roma tem o menor dos bispos, já que nem menção mereceu, algo
certamente ainda menos verdadeiro. Existe quem afirma que a Igreja era regida
pelo corpo de presbíteros. Mas, Santo Inácio também não se refere a tal grupo
de presbíteros! E do silêncio se prova que não havia bispo? Que dizer de
tamanha “prova”? Felizmente o livro não traz esse argumento. Voltando ao caso.
Sendo assim, há destaque para Roma, e o livro perdeu-se em suas elucubrações,
não fornecendo resposta correta.
Quando Santo Inácio escreve que a
Igreja de Roma preside na “região dos romanos”, o livro coloca como “prova” de
que não presidia em outros lugares, ou seja, não tinha governo universal, mas
apenas regional. Deve-se saber que ainda hoje a diocese de Roma preside na
região dos romanos, mas nem por isso deixa de ter presidência universal. Ainda,
o texto está referindo-se ao local da Igreja que preside, isto é, na região dos
romanos. Assim, não se refere à região que a mesma preside, mas à localidade da
mesma. Às outras igrejas se diz: “a Igreja que está em Éfeso”; “a Igreja que
está em Magnésia”; “a santa Igreja que está na Trália”; “a Igreja de Deus o
Pai, e nosso Senhor Jesus Cristo, que está em Filadélfia”; “a Igreja que está
em Esmirna”. Quanto à Igreja de Roma, diz: “a Igreja... que preside na região
dos romanos”. É clara a diferença. Em nenhuma outra igreja é dito que “preside”
em sua região, ou em qualquer outro lugar, somente à Igreja de Roma é isso
referido. A presidência de Roma é evidente. [cf. Mark Bonocore]
Sobre os elogios que Santo Inácio
dirige à Igreja de Roma, o livro aponta que o mesmo santo elogiou ainda mais os
efésios. De fato, ele fala da Igreja “grandemente abençoada com a plenitude de
Deus Pai”, predestinada, inabalavelmente unida, feliz etc. [Um ponto digno de
nota, diga-se de passagem, é que Santo Inácio escreve: “reanimados pelo sangue
de Deus”, mostrando a fé na Divindade de Jesus Cristo.] Voltando ao tema do
elogio, não parecem iguais em sentido os elogios a Roma. Mas, esse caso não
dirime a questão, e pode passar sem um comentário aprofundado. Pode-se apenas
indicar que Roma é dita ser digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada
feliz, digna de louvor, e que porta a Lei de Jesus Cristo, e o Nome do Pai.
Veja-se a diferença.
Uma análise mais detida revela algumas
verdades. Veja-se que Santo Inácio usa um tom diferente ao escrever aos
romanos, em comparação com suas outras epístolas. Em nenhum lugar urge os
cristãos de Roma a obedecer o bispo, o presbítero e o diácono, como normalmente
faz em outras ocasiões. Pede, no entanto, que orem por ele.
Nessa época, havia três centros
expoentes do Catolicismo: Roma, Antioquia e Alexandria. E a razão disso se dá
por terem sido esses três centros do Cristianismo fundados por São Pedro. Bryan
Cross, em comentário, formidavelmente esclarece, a partir da eclesiologia de
Santo Inácio, que enfoca fortemente a autoridade episcopal, como visto, para a
unidade de fé, que a Pedra visível, a Rocha que é Pedro, é uma conclusão óbvia
nesse cenário. [http://www.calledtocommunion.com/2010/10/st-ignatius-of-antioch-on-the-church/].
Está implícito em seus escritos.
Da afirmação que Santo Inácio acreditava
na fundação da Igreja na Síria, isso é apenas um erro de leitura. Santo Inácio
refere-se ao local onde a profecia a respeito do nome cristão realizou-se:
Antioquia. Não está dizendo que a Igreja foi fundada lá, mas que o nome santo
dos cristãos ali surgiu. Paulo e Pedro estabeleciam as bases da Igreja em
muitos outros lugares, e certamente é a isso que se refere o texto, ao
estabelecimento geral da Igreja, não à sua fundação na Síria.
Na avaliação das citações de São
Clemente, São Policarpo e Santo Ireneu com relação à doutrina do primado de São
Pedro, seguem-se os resultados.
Negando o direito jurisdicional de
Clemente noutra diocese, explica o livro de forma geral: “visto que era muito
comum os bispos daquela época exortarem os de outras comunidades cristãs”. (p.
220) Isso seria como apenas exemplo do costume antigo de exortação a outras
comunidades, não do direito do papa nas igrejas fora de Roma.
E, de forma categórica, esse ponto é
negado: “Se exortar outras comunidades cristãs fosse sinal de autoridade sobre
elas, então Paulo era papa, porque ele escreveu à Igreja de Roma, e o mesmo
deveria ser concedido igualmente a todos os outros que uma vez fizeram o mesmo
a outras comunidades cristãs que não eram de sua jurisdição.” (p. 220)
No pensar protestante todas as igrejas
eram de certa forma “independentes”, ou mesmo absolutamente “independentes”.
Que valor teria essa independência se outros bispos escreviam-lhes cartas com
exortações? Por que motivos? Na verdade, as igrejas antigas funcionavam como
hoje são as comunidades locais, constituindo paróquias e formando dioceses,
podendo ser agrupadas em regionais, resultando de todas essas as igrejas
nacionais, chegando às continentais e, enfim, à Igreja católica [universal]
unida com a Sé Apostólica de Roma. É verdade que cada igreja particular tem sua
autonomia, relativa é claro, pois rege os seus assuntos de acordo com a
realidade local, vivendo em cultura específica, enfrentando problemas diversos
e etc., mas possuem doutrina, moral e culto idêntico à da Igreja em toda a
parte da terra. Assim era a Igreja nos tempos apostólicos, sub-apostólicos,
medievais, modernos e atuais. Una, santa, católica e apostólica.
Ainda, os exemplos de São Paulo
passando mandamentos não é fato de que era o único apóstolo a fazê-lo, mas
meramente fatos que mostram a autoridade apostólica.
Sobre São Clemente, é óbvio que o
mesmo sendo papa cria na Soberania, na autoridade Suprema de Jesus Cristo na
Igreja. Todos os papas crêem. Apontar esse fato como contra-argumento ao papado
é puerilidade crassa.
A citação do Dr. Bacchiocchi sobre a
controvérsia da páscoa mostra bastante claro o poder do papa, no direito de
excomungar outras dioceses, não somente um poder localizado na sua própria
igreja local.
Se os bispos pediram ao papa maior
compreensão e tolerância, ou mesmo o criticaram por sua dura medida em
excomungar as igrejas asiáticas, isso não depõe contra a doutrina do primado,
mas a indica. Mostra apenas que outros não ficaram satisfeitos com a ação papal
daquela forma.
Parece que o assunto do poder do papa
continua sem entendimento no livro. Aliás, é bastante patente isso. Afirma-se
que o papa deveria ter excomungado todos os bispos que não estivessem de acordo
com suas medidas, e somente assim seria realmente um papa, e não ser um homem
que admitisse repreensões de seus companheiros no episcopado. Por esse
princípio seria como se o papa pudesse lançar excomunhões a bel-prazer, por
motivos mesmo pessoais, e fosse capaz de evitar até as incompreensões e
opiniões contrárias em quaisquer assuntos, cortando da comunhão eclesiástica
aqueles que não pensassem como ele. Pura fantasia. O papa não age assim, e nem
o pode. As questões que admitem excomunhão são aquelas que orbitam no domínio
doutrinal, que levam ao cisma, que negam a fé, apostatam, e repulsam à
autoridade do pontífice, causando enorme prejuízo para a unidade da Igreja e à
vida espiritual dos crentes. Não se limitam às questões de cunho privado e de
meros caprichos do ego, como o livro permite compreender.
Desse modo, a seguinte afirmação está
fadada ao fracasso total em sua argumentação: “Essa é a prova mais forte de que o
bispo de Roma estava no mesmo patamar de autoridade de todos os outros bispos,
pois se ele fosse superior aos outros não seria repreendido por eles; ao
contrário, teria a sua decisão aceita, pois seria o primaz, o maior de todos os
bispos, cuja autoridade deveria ser obedecida em qualquer discussão.” (p.
222) Se essa é a prova “mais forte”, então acabaram-se as provas. Todos ao
descanso na sólida doutrina.
Na citação da desavença entre Policarpo
e o bispo de Roma, vê-se a autoridade do papa quando se diz: “evidentemente por
deferência,”, ou em outra tradução: “por respeito”. O papa cede o direito de
consagrar a Policarpo por respeito, não porque não tivesse autoridade superior
à dele, e fosse obrigado por isso.
“Sendo assim, eles comungaram um com o
outro e, na igreja, Aniceto cedeu a Policarpo, sem dúvida por respeito, o ofício de consagrar...” [ênfase
acrescentada] Nota-se que não cedeu por pura submissão ou falta de autoridade,
mas por ter ambos suas razões legítimas, e não intrinsecamente incompatíveis
com a unidade, o papa cede por respeito ao santo irmão e amigo no sacerdócio.
(Eusebio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro 5, XXIV) Assim, o bispo de
Roma não se sujeitou ao de Esmirna, como quis o livro. De fato, conceder o
direito de consagrar, ou seja, de celebrar a eucaristia, em outras palavras, de
celebrar a missa, foi dado pelo papa Aniceto ao bispo Policarpo. É preciso
notar que Policarpo recebeu do papa essa confirmação em seu direito de exercer
o sacerdócio em plena comunhão com a Igreja.
O que ensina a citação da Encíclica
“Como amar o Papa” [Pio X, 18/11/1912] está em contraste com o escrito na
reposta acima. Será, então, que o livro estava correto ao entender que a
vontade e opinião do papa superam todas as opiniões e vontades dos fieis em
toda e qualquer discussão? Na verdade, não se trata disso, mas do princípio do
amor, no qual a pessoa que ama tenta conformar-se com aquela amada. Jesus disse
para amarmos a Ele, o que equivale à obediência. Esse exemplo o papa usa, pois
como representante de Deus na Igreja, como chefe da mesma, é seu dever ensinar
o Evangelho, e estando na verdade deve ter obediência. Esse é o sentido da
alocução feita por São Pio X.
O livro mostra Tertuliano como não
tendo noção da primazia de Roma e acusando o papa de heresia, em Contra Práxeas
1. Para contextualização histórica geral desse tema, é necessário alongar-se um
pouco nesse particular, para compreender as palavras de Tertuliano e sua
ligação com o primado da Sé de Roma.
São Calisto, bispo de Roma, papa de
219 a 224, condena as heresias da época, como bispo dos bispos. Nesse tempo,
Tertuliano havia abraçado a heresia montanista, contrária ao perdão, conferido
pela Igreja Católica, de cristãos que cometeram adultérios e fornicações. Ele
critica o papa Calisto, e em suas críticas é claro o papel do bispo de Roma na
época. Tertuliano usa de sarcasmo e o chama ‘Pontifex Maximus’, comparando-o ao imperador de Roma, e de ‘bispo
dos bispos’, referindo-se ao seu poder sobre toda a Igreja. Refere-se ainda ao
Evangelho, no texto de Mateus 16,18-19 como base para o primado, reconhecido
pelo papa, e negado pelo próprio Tertuliano. [cf. Mark Bonocore: The title Pontifex Maximus] Assim, o
testemunho de Tertuliano é assaz apropriado para compreender a autoridade do
papa, e infeliz por mostrar um homem de sua envergadura negar o primado do papa
e a sucessão apostólica, dando as mãos a um rigorismo heterodoxo.
Fato interessante, também, é que São
Tiago Menor, parente de Jesus, foi sucedido no episcopado de Jerusalém por São
Simão, seu irmão, também primo de Jesus. Isso ocorreu numa reunião de toda a
Igreja, conforme a História Eclesiástica.
São Cipriano, na Epístola 59, n. 14,
refere-se a Roma como a igreja principal, origem do sacerdócio, e que não pode
errar em questões de fé.
No Canon 28 do Concílio de Cartago há
a recomendação de resolver toda questão em sua própria província, proibindo
apelar para outras sedes, numa proibição de apelação a Roma. Esse tempo foi de controvérsia,
e não pode ser usado como inexistência da primazia de Roma, mas, pelo
contrário, de mais um exemplo desse fato.
O caso de São Cipriano na questão
contra o papa Estêvão revela um exemplo em momento de controvérsia. A fé de São
Cipriano, como vista, estava de acordo com o primado, e não contra. O livro
afirma que o fato de São Cipriano reconhecer o bispo de Roma como sucessor de
Pedro seria, por assim dizer, algo semelhante ao natural, pois todas as
dioceses eram vistas como de origem apostólica. Não é bem assim. Que outras
dioceses, exceto Antioquia, Alexandria e Roma, são ditas serem seus bispos
sucessores, não dos apóstolos, mas de Pedro em especial? O livro não provou sua
asserção, e nesse salvatério inútil não logrou o intuito almejado.
Assim, o argumento da sé romana ter
raiz em Pedro não foi para o lixo, mas está de pé, divinamente estabelecido,
pela Bíblia, pela História, e pelo bom senso. Da submissão do cristão ao bispo
local infere-se a submissão ao papa, pois todo bispo deve estar nessa comunhão.
Certamente, esse é o sentido da unidade da Igreja em São Cipriano.
Se são falsas as citações, e todas
manipuladas, como as de que São Cipriano cria que Roma não erra na fé, e que é
a sede da Igreja, que provas o livro apresenta para tal acusação? Para essa
controvérsia o livro aponta artigos do autor, em indicações no rodapé, e afirma:
“tradução mal feita do original (...) [referindo-se
à obra Da Unidade da Igreja] interpolação que é fruto de uma adulteração
vergonhosa no texto de Cipriano [frases
de São Cipriano: “os romanos não podem errar na fé” e “Roma é a matriz e trono
da Igreja Católica”]”.
E, conferindo o artigo citado, há
grande energia contra essas citações de São Cipriano: ““Atrevem-se estes a dirigir-se à cátedra de Pedro, a esta igreja
principal de onde se origina o sacerdócio… esquecidos de que os
romanos não podem errar na fé” (Epist.
59,n.14, Hartel, 683) Essa adulteração é tão vergonhosa que qualquer um que
tenha um mínimo de decência poderia ir conferir na “Epístola 59” de Cipriano e
verá que não existe absolutamente nada que sequer seja parecido com
isso nessa epístola 59 de Cipriano...” [ênfase no original.
Artigo de 4/12/2012]
Realmente, não está na Epístola 59
segundo a edição pesquisada pelo autor. No entanto, esse deveria publicamente,
por justiça, emendar-se dessa acusação de fraude, já que não houve Adulterações católicas nos escritos de
Cipriano, como é o título do artigo, pois, quem tiver a mínima decência
encontrará a citação noutra epístola.
De fato, o que está na Epístola 54,14,
de São Cipriano, assim ensina: “Depois de coisas como essas, ademais, eles ainda ousam – um
falso bispo ter sido consagrado para eles pelos hereges – a sair e levar cartas
dos cismáticos e pessoas profanas ao
trono de Pedro, e à principal igreja de onde a unidade sacerdotal tem sua
fonte, e não considerar que esses foram os romanos cuja fé foi louvada na
pregação do apóstolo, aos quais falta de fé não tem acesso.”
[tradução minha. Site newadvent.org] Os hereges ousavam levar cartas a Roma, e
São Cipriano mostra que os romanos têm a indefectibilidade, em sua Igreja, e o
erro da fé não pode ter lugar entre eles. Importa pouco o que farão dessas
palavras agora, que interpretação ao gosto individual, muitas vezes, será dada,
mas o fato das palavras serem verdadeiras.
O assunto é o cisma, a negação da
autoridade do papa. São Cipriano, então, cita a cátedra de Pedro, o seu TRONO,
fala da origem do sacerdócio em Roma, como fonte de unidade da Igreja inteira,
e refere-se à Igreja de Roma como a ”principal Igreja”. Todos os elementos da
verdadeira doutrina. Mais uma refutação. Graças sejam dadas a Deus por meio de
Jesus Cristo Nosso Senhor.
Se o texto não foi encontrado na Ep
59, o foi na Ep 54, no número 14. Dessa forma, o texto é verdadeiro, não houve
adulteração, nem invenção, nem falsificação. O autor deve suas desculpas.
Recorrer a São Cipriano é de grande
ajuda para a causa protestante, até que as fontes sejam realmente consultadas.
A partir daí, renova-se o desapontamento protestantista.
Em primeiro lugar é preciso saber que São Cipriano errou, e no momento de
controvérsia contra o papa Estêvão perdeu as rédeas e afastou-se,
momentaneamente, daquilo que era próprio da sua fé pessoal. Afastou demais de
sua vigorosa ortodoxia sobre a cátedra papal, contradiz-se, como nota Harnack,
Não é necessário transcorrer por
outros textos, pois para São Cipriano estar na Igreja significa segurança na
fé, união com Cristo, e unir-se aos hereges equivale à perdição. (cf. Da
Unidade da Igreja 6)
Com São
Jerônimo não é diferente: o livro reconhece que o mesmo concede honra ao papa,
mas nega que tenha classificado o papa como superior aos demais, como bispo dos
bispos. E qual é a prova? Vejamos: "Como podemos ter certeza disso? Simplesmente porque Jerônimo
considerava os outros bispos também como “papas”, e vai além e diz ao
bispo de Alexandria que ele era “o mais abençoado papa” da Igreja:
”Jerônimo para o mais abençoado papa Teófilo [Alexandria]”" (p. 230) Pelo que São Jerônimo escreve
entende que o papa, como eram chamados todos os bispos da época, Teófilo teve
importante papel na defesa da fé contra uma heresia, auxiliando mesmo a cidade
de Roma com seus escritos. O santo convida o bispo a escrever mais vezes, a não
hesitar em ajudar os irmãos no Ocidente. Quando escreve que o bispo era
"de uma autoridade tão grande", essas palavras soam como elogio
devido ao fato circunstancial. (Cartas 63 e 88)
Dessas
palavras o livro questiona sobre a primazia do bispo romano, que estaria
ofuscada pela posição do bispo Teófilo, se fosse o caso, sendo que o argumento
tenta refutar o lugar primeiro do papa de Roma.
Quando
pede que uma carta seja enviada a ele e ao bispo de Constantinopla e refere-se
ao consenso universal, o livro conclui que o papa não foi mencionado, e sendo o
consenso universal contrário aos poderes plenos do papa, sua posição estaria
estabelecida. Nada mais errado. O consenso universal da Igreja é ensinado pelo
papa. Não há contraste em ambos os conceitos, mas perfeita unidade. A ideia de
que o papa "teria autoridade para resolver tudo sozinho", segundo
parecer católico, é na verdade um parecer protestante lançado como sendo de
origem católica. É um espantalho.
A citação
da Epístola 146 é usada para colocar Roma fora de cogitação como lugar de
importância central na Igreja no pensar de São Jerônimo. Certamente, o santo
refere-se ao erro do costume ali surgido, e impõe a regra geral da Igreja, sem
por isso negar o lugar de Roma como sede da fé.
Na
verdade, na Epístola 146 São Jerônimo mostra que o episcopado é idêntico em
dignidade onde quer que se encontre, seja em Roma ou em outra diocese. Essa
verdade continua em voga, para os desavisados. Os bispos estão numa mesma
hierarquia, e são no poder da ordem iguais no seu sacerdócio. O papa e outro
bispo de qualquer igreja local da terra estão no mesmo grau de ordem recebida.
O que o papa possui como distinção está no seu poder jurisdicional.
São
Jerônimo ensina que o primado de Pedro servia para a unidade eclesial, para
afastar ocasiões cismáticas. (Ad. Jov. I, 26) Não será difícil entender, por
essas palavras, a importância da unidade de fé e prática para a Igreja em todos
os seus tempos, e assim ter estabelecida a doutrina da sucessão episcopal.
E sendo
Policarpo o bispo de toda a Ásia, segundo São Jerônimo, então o papa não seria
líder na Ásia. Essa e a lição que o livro ensina. Mas, se cada Igreja local tem
o seu bispo, que a governa, então o mesmo é chefe daquela igreja. Significa
isso que o papa não tem nenhuma influência sobre ela, e que não possua o
primado? Esse argumento não funcionou, e mais uma vez o livro deixou essa falha
para corrigi-la, se Deus quiser.
Quando
Eusébio fala de Jesus como o único Sumo Sacerdote do universo, conclui o livro
que ele não cria no papel do papa como líder de toda a Igreja. Além disso,
afirma que o título de papa foi ambicionado pelo bispo de Roma, que o tomou dos
demais. Nada histórico, apenas força retórica. O fato do papa ter ficado com
título exclusivo é realmente um desenvolvimento histórico compreensível e são,
em nada lembrando o que foi dito no livro.
E os
elogios a Antioquia, por São João Crisóstomo, devem ser entendido não no
sentido de jurisdição, de centro da fé, mas noutro sentido. Aí temos, sim, um
exemplo de preeminência de honra.
As
'provas' que o livro tenta inculcar tornam-se cada vez mais problemáticas, ao
passo que o tempo corre. Em pleno século 6, pelos arrazoados convictos do
livro, não deveria haver papa, pois crê-se que São Gregório Magno, que era
papa, teria rejeitado o título de bispo universal.
Vê-se que
São Gregório cita "as ordenanças evangélicas" e "os decretosdos
cânones", o que impõe uma leitura contextualidada doutrinal e
historicamente. Aquele fato não era conhecido, poranto, não tradicional da
Igreja. Tratava-se somente do uso do título "bispo universal' pelo
patriarca de Constantinopla, como sendo um erro no uso do título em si?
Na
verdade, há um sentido inaudito que o papa reprova. Chama de "nome de
blasfêmia", e que o mesmo tira "a honra de todos os sacerdotes".
(p. 234) Seria o papado tendo tal ataque no século 6, pelo grande papa São
Gregório?
O livro
considera um argumento, talvez apresentado em algum site apologético: "Os católicos afirmam que Gregório
Magno não condenou o título de “papa universal” para si próprio, mas condenou
este título somente quando aplicado a João, bispo de Constantinopla, quando
este queria se tornar o único “bispo dos bispos”. Porém, isso não é verdade. " (p. 235)
Então, o
título é sinal do precursor do anticristo, uma condenação para todo aquele que
quiser usar do mesmo. É interessante que o título significa um desprezo aos
outros bispos, negar o caráter de bispo que os outros bispos possuem. (Ep 48)
O que o
papa está reprovando é a ideia de que há apenas um único bispo, e que somente
esse tem o caráter, tal que toda a doutrina depende de si, e toda autoridade
está em si, e que os demais bispos na verdade não o são. Se assim fosse, uma
vez caindo esse bispo a Igreja estaria fadada ao fracasso. Portanto, esse entendimento do
título não é católico.
A
afirmação de que a Igreja da época em questão não era "apostólica
romana" como hoje, é tão gratuita como aquelas afirmações já batidas aqui.
Aliás, Gregório Magno foi papa, e é santo canonizado na Igreja. Viveu numa
época em que a ideia do papado já estava bastante desenvolvida, e se nos
primeiros tempos não havia dúvida, muito menos naqueles de São Gregório. A Bíblia
já é patente quanto à doutirna do primado, e a história vai recebendo maiores
luzes conforme a Igreja debruça-se sobre a Palavra de Deus. Seja louvado Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Outra
informação invertida é a de que o bispo de Roma tinha a primazia de honra por
ser bispo de uma cidade da importância da capital imperial. Pelo visto, na
História ocorre o contrário: Roma é preeminente por ter sido sede do apóstolo
que Cristo escolheu como caput de Sua Igreja.
O Cânon
28 de Calcedônia é apresentado com ideia contrária. (p. 245)
O papado
retamente compreendido, com espírito sincero e orientado pela correta doutrina
é um serviço santo a Deus pelo serviço aos irmãos, e nunca um orgulho.
(o texto acima refuta o capítulo 19)
Gledson Meireles.