domingo, 10 de dezembro de 2017

Reflexão sobre Apocalipse 20,1-5

O texto sagrado de Apocalipse 20 é um dos mais difíceis do livro. Mas, podemos entender muitas coisas, e tirar delas muitos outros ensinamentos.
 
O anjo desce e trancafia o Dragão no abismo por mil anos. As almas voltam à vida e reinam com Cristo nos mil anos. (Ap 20,4) Essa é a primeira ressurreição.
 
O livro afirma que é sorte feliz e santa de quem participa dessa ressurreição porque sobre eles a segunda morte não tem poder. Isso nos leva a entender que não morrerão mais, não serão condenados.
 
Outra parte muito interessante da visão é que as almas são vistas voltando à vida. Se no mortalismo a alma é fundamentalmente a junção de matéria e espírito (fôlego de vida), o profeta não poderia ter visto almas, já que essas não existiriam.
 
De fato, a matéria havia sido decomposta e o espírito não mais estava ali, pois está tratando de mortos. Depreende-se isso da visão mortalista.
 
O apóstolo não poderia ver as almas se essas não existissem. Ainda, afirma que essas almas voltaram a viver. O texto não diz que foram vistos  "aqueles que foram decapitados", mas que suas almas foram vistas: "as almas daqueles". Essas mesmas almas voltam à vida (psychas - ezesan) Temos a prova da dualidade do homem nessa afirmação.
 
Se se fala da morte física como a primeira morte, então os ressuscitados não morrem mais. Mas, é ordinário que todos os homens morram uma só vez (Hb 9,27), vindo após o juízo. Se a morte física é pensada apenas para os condenados, a segunda morte é mesmo apenas outra morte igual à primeira, da qual não se volta mais.
 
Contudo, se pensamos que há almas após a morte, e portanto existe consciência, podemos pensar igualmente que a segunda morte é realmente a condenação, uma morte espiritual, que irá tragar os réprobos.
 
O texto do v. 5 mostra que os outros mortos não ressuscitaram antes do milênio. Se esses mortos são salvos, então ressuscitarão com a possibilidade da segunda morte ter poder sobre eles. Somente os que participam da 1ª ressurreição são felizes por não ter mais essa má sorte.
 
Se assim fosse, os ressuscitados na 2ª ressurreição deveriam ter "segunda chance", já que ressuscitariam para não morrer ou morrer, dependendo de algo mais. Pensar isso é herético.
 
Por isso, os outros mortos que não ressuscitam e que não reinam no milênio estão condenados. A segunda morte tem poder sobre eles.
 
O milênio é, assim, o tempo da vitória de Cristo com os Seus, reinando. Pode-se aplicar a todos os que estão no céu e na terra reinando espiritualmente com Jesus, e que o milênio é, pelo mesmo, também espiritual.
 
Os mortos, aquelas almas vistas, vivem e reinam com Jesus no céu agora. Os vivos batizados e cheios da graça de Deus reinam agora com Jesus, mesmo vivendo na terra. Temos o entendimento do reinado espiritual. A segunda morte não tem poder sobre quem está com Cristo, pois não há condenação para quem vive em Cristo (cf. Romanos 8,1).
 
Os outros mortos não vivem e não reinam, pois são réprobos, e quando ressurgirem a segunda morte terá poder sobre eles.
 
Por essa leitura de Ap 20,1-5, temos evidência da imortalidade da alma, do milênio espiritual, da segunda morte como condenação.
 
Gledson Meireles.

3 comentários:

  1. Parece que Irineu,Justino e Tertuliano criam no milenio literal.

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  2. O milenarismo ficou em voga nos primeiros séculos, como uma espécie de opinião teológica. Muitos bons cristãos criam no milênio, mas como surgiram teorias absurdas nesse campo, a Igreja decidiu contra certos tipos de mileranismos, o que levou a adotar o milênio espiritual e não literal. Mas, mesmos os padres que criam no milênio sabiam que muitos católicos não criam, sem acusa-los de heresia.

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  3. Eusébio disse que Papias pregava um milênio literal e o próprio Eusébio disse que Papais deve ter entendido mal as palavras dos apóstolos.

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