Capítulo 11
Mateus 16,18
O livro A História não
contada de Pedro afirma que a interpretação católica desse texto do
evangelho de Mateus, em favor do primado de Pedro, é o último recurso, e é
feito de forma isolada, descontextualizada. Afirma que há protestantes que
reconhecem que a Pedra de Mateus 16,18 é Pedro, e ainda assim são contrários ao
papado. Então, a tese de Pedro ser a pedra não implicaria em nada, somente a
das “chaves”, mas se essas fossem exclusivamente dadas a são Pedro. No entanto,
se forem dadas a outros igualmente, ou seja, se alguém mais a possuísse, e
sabendo que todos os demais apóstolos a possuíam, então todos seriam iguais.
Assim resume-se a tese defendida no livro.
A interpretação que o
livro apresenta liga a declaração de fé representada no pronome [isto ou
isso] ao nome pedra [esta
pedra], como se Jesus estivesse afirmando que sobre aquela declaração
construiria Sua Igreja. Seria a declaração denominada “pedra”? Quer dizer que o
Senhor Jesus chamou de “pedra” as palavras pronunciadas por São Pedro, naquele
momento em que confessou a Sua identidade? Que interpretação nova é essa?
Sabe-se que os santos padres afirmaram sobre esse texto que a
Pedra é Jesus Cristo, e também que a confissão de fé de Pedro era a Pedra, fato,
aliás, que continua a ser dito, como está no Catecismo da Igreja Católica no número
424. Mas, que interpretação primeira o texto revela? Seria essa a interpretação
literal da passagem? Qual é a interpretação fundamental de Mateus 16, 18? Essas questões orientarão o presente estudo.
O livro afirma: “Não é preciso fazer muito esforço para
refutar tal pretensão católica, pois o próprio contexto deixa claro que a pedra
era a confissão de fé de Pedro em Cristo, ou seja, que a pedra é “Cristo, o
Filho do Deus vivo” (v.16):...” (p. 72) Analisar-se-á mais de perto essa
afirmação. O que ela diz, em outras palavras, é que o contexto afirma
claramente que a confissão de fé de Pedro é a pedra, e isso seria encontrado de
forma fácil na leitura da passagem. Mas o leitor atento não vê isso de forma
alguma, muito menos um leitor desavisado.
Estando em Cesareia de Filipe, Nosso Senhor interroga os
discípulos sobre a opinião popular a Seu respeito. O povo não conhecia a
verdadeira identidade de Jesus. Então, pergunta diretamente aos discípulos, aos
Doze, e somente são Pedro confessa a verdadeira fé. Essa revelação, porém,
veio-lhe do céu.
O v. 17 fala da
revelação. Não foi a declaração de fé que são Pedro recebeu, mas a informação
correta a respeito de Jesus, o que possibilitou a sua confissão de fé: “porque isto não lhe foi revelado pela carne
e o sangue”. Trata-se do conteúdo da confissão, ou melhor, a verdade de que
Jesus é o Messias, o Filho de Deus Pai.
E Jesus passa, então, e em resposta à confissão feita, a
afirmar algo sobre Pedro. É sobre a pessoa de Pedro que as palavras se referem.
Note-se que São Pedro dirigiu-se a Jesus, e agora recebe de Jesus essas
palavras: “Eu te digo que tu és Pedro.”
Tais palavras são despercebidas, a maioria das vezes, e como tornaram-se
bastante conhecidas, corre-se o risco de
não ouvi-las mais. O importante é notar que Jesus faz uma afirmação que, em
outras circunstâncias, soaria como óbvia.
Para uma melhor
compreensão é necessário algumas comparações. Hipoteticamente pensemos em Jesus
dizendo a um apóstolo: Eu te digo que tu és Bartolomeu. Mas, certamente
desde criança Bartolomeu possuía aquele nome. Por que afirmar que ele era
Bartolomeu?
Ou poderia dirigir-Se a Tiago e afirmar: Eu te digo que tu
és Tiago. Outra vez, não teria sentido, visto que Tiago sabe, e todos que o
conhecem também o sabem, que ele é Tiago, e esse é o seu nome. Porém, no caso
de são Pedro a situação é outra.
Note que ele não diz: Tu és Jesus. Diferentemente,
afirma: Tu és o Cristo. Por
quê? O nome Jesus foi dado a Ele em Sua infância. Aliás, antes mesmo do
nascimento o Senhor já havia recebido esse nome, que significa: Iavé salva. Portanto,
é o nome que significa Salvador. O nosso Salvador.
Mas, na confissão de Pedro ele diz: Tu és o Cristo. A palavra Cristo quer dizer Ungido, e traduz o
termo hebraico que significa Messias. Pedro então reconhece corretamente que
Jesus é o Messias, o Cristo. É preciso atenção nesse detalhe: Tu és o Cristo.
Essa é a identidade revelada. Todos os apóstolos já conheciam Jesus, mas não
sabiam que Ele era o Cristo, o Messias.
Passando para as palavras de Jesus, Ele não diz: Tu és
Simão. O nome Simão era o nome original daquele apóstolo, e ele sabia bem disso,
assim como Jesus e todos os outros apóstolos, seus conhecidos e, com certeza,
seus familiares. Mas, Jesus diz: Tu és
Pedro.
Essa identificação é nova. A primeira vez que foi feita
remete-se ao chamado de Simão, em João 1,42. Naquele momento o Senhor afirma
que Simão será chamado Cefas. Em Mateus 16,18 há a confirmação: Eu te digo que tu és Pedro [Cefas].
Cefas é a transliteração grega do termo Kepha no original aramaico, e significa
Pedra. Não há distinção no grego koiné
do Novo Testamento para o significado dos termos que traduzem Kepha: Petra e Petrus. Ambos
significam pedra, rocha. Assim, a tradução inglesa protestante King James Version, tida por muitos,
não-católicos, como a tradução perfeita na língua inglesa, traduz Cefas como pedra. Assim, temos a
revelação de duas identidades: Jesus é Cristo, e Simão é Pedro. Em continuação,
analisar-se-ão as palavras de Jesus: e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.
Sabe-se que Pedro é pedra em grego, a pedra aludida como
fundamento da Igreja não pode ser outra que não a pessoa de Pedro. Esse é o
motivo de seu novo nome: ser fundamento da Igreja.
Essa leitura é literal e concorda com todo o contexto, como
ficou esclarecido. Para um estudo bíblico segundo a legítima hermenêutica, não
se pode deixar uma passagem “inexplicada” lançando o sentido de outra sobre
ela. É certo que as passagens menos claras são iluminadas por aquelas mais
claras. No entanto, não é correto deixar uma sem a devida explicação.
Muitos afirmam, como está no livro, que a pedra refere-se à
confissão de fé de Pedro, ou a Jesus Cristo, que é a Pedra da Igreja em tantos
outros textos da Bíblia. Contrariamente a essa leitura, o texto é claro ao
mostrar Jesus explicando qual o sentido do nome Pedro: ser fundamento da
Igreja. Jesus está como o Arquiteto – o Construtor, e Pedro como objeto da
construção. Se alguém contesta essa explicação, que tente, pelos menos,
refutá-la. A metáfora é clara e seu sentido igualmente claro. A correta exegese
revela ser essa a única leitura literal possível.
O livro afirma: “Pedro,
então, é o primeiro a se adiantar e responder aquilo que seria a pedra
fundamental da Igreja – tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (p. 71-72).
Em nenhum momento foi perguntado sobre a pedra da Igreja. Na passagem Jesus é o
Messias, não a pedra. Essa é a identidade revelada de Jesus. Quem cumpre esse
papel, de pedra, e que foi instituído por Cristo é Pedro. Essas são as Palavras
de Jesus. Entenda-se bem: Cristo é a Pedra da Igreja, mas no contexto de Mateus
16,18 Ele estabelece a pedra num sentido diverso, e refere-Se à pessoa do
apóstolo são Pedro. Não é referente ao que Pedro disse, mas à sua pessoa
diretamente. Vem então a explicação no
livro: “e que sobre “esta pedra” (i.e, essa mesma confissão) a Igreja estaria edificada.”
[ênfase no original] (p. 72). É impossível essa leitura. Ninguém consegue ter
essa conclusão ao ler a passagem. Em nenhum momento a declaração de Pedro é
apontada como pedra, sem qualquer indicação. Pelo contrário, a pessoa de Pedro
é a Pedra.
Dessa forma, independentemente dos sentidos do pronome e das
regras gramaticais gregas, o contexto aponta “esta pedra” para a pessoa de
Pedro. A identidade dos nomes é patente (Pedro=Pedra). Impossível outra
interpretação literal.
Os exemplos de Atos 7,17-19 para justificar uma possível
mudança de referência no pronome “esta”, como ocorre no texto de Mateus 16,18,
não ajuda a questão. O fato pode ser comprovado pelo contexto, sem referência
ao grego. E é fácil provar.
No texto de Atos dos Apóstolos, vê-se que apareceu um rei que
não conhecia José. Este rei usou de astúcia. Foi então, que José foi referido
pelo termo “este”, por estar mais próximo do referido pronome? O contexto não
admite essa leitura. A construção gramatical sim, mas o sentido do contexto,
pela leitura natural, não. Sabe-se que José era israelita, filho de Jacó, homem
santo de Deus. O rei que não o conhecia é o foco da passagem, e, portanto, não
seria outro que não José quem usaria de astúcia contra o povo de Deus. José não
cabe nessa interpretação, de forma alguma. A tradução do pronome por “este” em
português só provaria sua inadequabilidade
segundo as regras da língua portuguesa, mas não mostraria José, em hipótese
alguma, como afirmando daquele que usou de astúcia na passagem. Esse alguém que
usou de astúcia contra a “nossa raça” não é da “nossa raça”! Essas palavras
judaicas revelam um estrangeiro. Esse seria outro sinal de que não poderia ser
José, independentemente do pronome utilizado na tradução portuguesa. Ficou
claro: o uso do pronome não impediu o entendimento da passagem, e ainda a
correta interpretação serve de correção da tradução.
Em Atos 4,10-11 ocorre o mesmo. O pronome não poderia indicar
outra pessoa a não ser Jesus. O paralítico não caberia absolutamente nas
descrições contextuais, pois é afirmado que é no nome de Jesus que o paralítico
foi curado, e que esse foi a Pedra rejeitada. Nunca o paralítico caberia nessas
palavras.
Ainda, em João 2,22, se o texto e contexto estão denunciando
quem é contrário ao messianismo de Jesus, não poderiam afirmar que o Cristo
fosse o anticristo! Os próprios termos são autoexcludentes. Se Jesus é o Filho,
e o negador é aquele que nega o Pai E O FILHO (note as palavras claramente
citadas) quem mais poderia ser o anticristo? Obviamente, alguém que nega a
Jesus! O contexto é esclarecedor. O pronome é ajustado por ele.
O autor certamente concorda com essas interpretações, e não
pode refutá-las jamais. O que deve compreender, então, é que em Mateus 16,18
não há qualquer possibilidade de entender o pronome que antecede pedra como referente
a outro termo que não seja o nome Pedro. Seria descontextualizar a passagem.
Entender: ““Tu és
Pedro, e sobre aquela pedra edificarei a minha Igreja...”” remeteria a uma questão:
que pedra? Fora do nome Pedro não se fala em pedra em toda a passagem. Como
referir-se a algo não mencionado antes? Interpretação impossível. Leia
novamente o texto e confira.
Dessa forma, a afirmação com ares de vitória: “Portanto, o argumento católico de que Pedro
tem que ser a pedra de Mateus 16:18 por causa do “sobre esta pedra” morre aqui.”
(p. 74), é uma afirmação que não passa de retórica. Ela mesma foi refutada. A
questão não morre aqui, para a posição do livro, pois foi provado que o
contexto inviabiliza a possibilidade das duas leituras, como apontado pelo
livro. Somente Pedro pode ser a pedra nesse texto. Alguém tentaria refutar essa
interpretação?
O texto em si não deixa a questão aberta, mas fechadíssima. O
que dizer, então, da forma com que o Protestantismo trata a questão, como faz o
livro? Lançar mão de outros textos, em outros contextos, e ligá-los à metáfora
de Mateus 16,18 não explica o mesmo. Os textos citados, como foi mostrado
acima, não refutaram nada.
Outra coisa, uma verdade ensinada por Jesus não necessita de
ser repetida para ser verdade. Basta uma passagem clara, e Mateus 16,18 o é,
para ser autoritativa. Não há ambiguidade na mesma, como afirmado no livro.
O texto de 1 Cor 3,10-11, por exemplo, mostra uma metáfora
diversa. Nele, são Paulo é o construtor, aquele que lança a Rocha, que é Jesus.
Em Mateus 16,18 Jesus é o Construtor, lançando o fundamento que é Pedro. Ambos
os contextos são diversos, e um não explica o outro. Uma leitura alegórica,
como faz Santo Agostinho e outros Padres, pode comportar esse sentido. Mas,
como dito, não é o literal. A leitura alegórica é fundada no literal, mas pode
conduzir a um outro sentido.
O próprio texto de são Pedro (1 Pd 4,11) corrobora isso.
Pedro afirma que os construtores rejeitaram a Pedra Angular: Jesus. Portanto, a
metáfora é diversa daquela usada pelo Senhor em Mateus 16,18. Em 2 Pd 2,4-7
tanto Cristo como os cristão são pedras. Cristo é a Pedra principal, e os
cristãos as pedras outras do edifício. Deus Pai, portanto, é o Construtor.
Trata-se de outra figura. Ninguém pode refutar isso, pois contra fatos não há
argumentos.
A fé em Cristo como Pedra da Igreja é mantida por todos os
cristãos católicos. A doutrina do primado não a contradiz. Assim, a afirmação
seguinte do livro revela outro desentendimento da doutrina católica: “Afirmar que a pedra é Pedro significa negar
todo o cumprimento profético do Antigo Testamento, além de tornar inócuo o fato
de Cristo ser apontado o tempo todo como sendo a pedra, até mesmo com a mesma
palavra petra que é usada em Mateus 16:18.” (p. 77)
Sabe-se que a Pedra da Igreja, a Pedra fundamental, profunda,
e invisível, que dá toda coesão, sustento, força, estabilidade, é Jesus Cristo.
O sentido de pedra relacionado a Pedro é diverso: Ele é a pedra fundamental
posta pelo Senhor, como cabeça dos apóstolos e da Igreja, por sua fé. É uma
pedra visível, com uma constituição diversa, servindo para outro objetivo.
O livro previa relativamente essa explicação: “Quando os católicos se deparam com essa
evidência incontestável, eles tentam contornar o fato afirmando que tanto Pedro
como Jesus são pedras, mas que seria Pedro a pedra específica de Mateus 16:18.”
(p. 77)
De fato, a doutrina católica explica que não pode haver
mistura indevida das metáforas. Assim, Jesus é A LUZ DO MUNDO, e do mesmo modo
afirmou que os discípulos são A LUZ DO MUNDO. Haveria contradição nisso? De
forma alguma. Os cristãos devem mostrar suas obras, testemunhando para a glória
do Pai, sendo luz do mundo por estarem agindo como enviados de Jesus, a Luz do
Mundo. Os discípulos refletem Sua luz.
Entendendo assim, Jesus é a Luz primária, fonte de toda luz,
e os discípulos são a luz secundária, totalmente dependente da luz de Cristo,
como a lua depende da luz do sol para brilhar e iluminar. Como a Lua não tem
luz própria, assim são os discípulos, que podem não brilhar, quando não estão
refletindo a luz de Cristo, deixando, assim, de ser discípulos.
Mas, o livro tenta desfazer esse argumento católico: “Usam como argumento o fato de Jesus ter dito
em outra ocasião que ele é a luz do mundo (Jo.8:12), e depois disse que nós
somos a luz do mundo (Mt.5:14). Contudo, essa analogia é falha por inúmeros
motivos.” (p. 77)
A analogia é falha? Como? Mas não fez todo sentido explicado
acima? Certamente o autor não conseguirá refutar. Deve-se então considerar o
argumento do livro e analisá-lo.
1º “Primeiro, porque
nem tudo o que Cristo é também pode ser aplicado aos seres humanos.”
Correto. É um fato, Mas, vejamos outro fato: quando Cristo aplica o mesmo a
nós, então podemos. Cristo é a Luz, e nós podemos ser a luz, pois Ele mesmo
disse isso. Ele ensinou, e devemos aprender dEle que é a Verdade. Está refutada
a asserção.
Cristo é a Pedra, e afirmou em Suas Escrituras que somos
pedras. Portanto, a imagem da pedra pode ser aplicada a nós. E, portanto,
biblicamente, no contexto geral, como em Mateus 16,18, de modo específico,
Pedro é a pedra. O leitor entendeu? Todos os cristãos são pedras, assim como
Cristo é Pedra, mas não no mesmo sentido, é claro. Então, Pedro é pera em seu
sentido próprio. Concorda com isso a leitura tópica, e o contexto bíblico
geral.
Assim, esse primeiro ponto não prova nada contra a posição de
Pedro em Mateus 16,18 como explicado antes.
O livro afirma: “Todos
os outros humanos são luz em sentido secundário, da mesma forma que todos os
cristãos são pedra em sentido secundário.” (p. 78) Parece que concorda com
a explicação católica. E não poderia ser diferente. Mas, adiante, mostra que
não é esse o caso. A doutrina cristã católica tem Jesus como a fonte de toda
santidade, de todo poder, de todo bem, de toda graça. Não colocamos outro
fundamento, nesse sentido. Se Pedro é fundamento, é diverso o sentido em que o
é. Jesus o afirmou claramente, e é nisso que devemos crer. Assim como Jesus nos
colocou como pedras, em um sentido próprio para nós, também pôs Pedro como
pedra em um sentido especial naquela passagem de Mateus.
O segundo ponto diria a respeito de Pedro não ser a pedra
única da Igreja, mas todos os cristãos juntos. É uma tentativa de destruir o argumento
acima. De fato, porém, essa é, igualmente, a doutrina católica. Pedro somente é
a pedra fundamental em sentido de fundamento visível para a unidade, e de
cabeça, de jurisdição, de governo, que está de acordo com a verdade do
Evangelho, e em união a todos os ministros instituídos. A Igreja não deixa
assim de ser composta por todas as pedras vivas que o Senhor colocou no Seu
edifício, sendo Pedro mais uma dessas pedras. É preciso não entender o
evangelho para não entender isso. Prossigamos.
De outro modo, havia escrito o profeta Isaías: “Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que eu
assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina,
que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.” (Is 28,16).
Nessa passagem Deus é a Pedra de Esquina. São diferentes figuras.
Em Efésios 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento da
Igreja. É bastante clara a passagem. Muitos protestantes poderiam dizer que não
seria assim, e que a passagem deveria ser entendida como Cristo sendo o
fundamento, por ser a pregação dos apóstolos. Ou seja, o conteúdo da pregação
dos apóstolos poderia ser o fundamento. Mas, a passagem não o diz.
Para entender o sentido de fundamento, deve-se pensar em seu
sinônimo, o alicerce. O alicerce, ou mesmo os alicerces, podem ser colocados em
diversos lugares.
“É semelhante ao homem
que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a
rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada
sobre a rocha.” (Lucas 6,48)
Nosso Senhor fala que o homem colocou os alicerces – o fundamento
– sobre a rocha. Assim, há diferenciação entre fundamento e pedra [rocha].
Há quem não coloca o fundamento: “Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma
casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo
caiu; e foi grande a ruína daquela casa.” (v. 49)
Nesse sentido, o texto de Efésios 2,20 deve ser bem
compreendido: “Edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal
pedra da esquina”. Os apóstolos e profetas são os que lançam o fundamento,
ou constituem o próprio fundamento, por seu ensino, pela pura doutrina que
anunciam. Jesus é aí a “pedra de esquina”.
Há dois símbolos: o do 1) fundamento e o da 2) pedra de esquina. Os apóstolos e
profetas constituem o fundamento, e o Senhor Jesus a Pedra de Esquina.
Será que um cristão não crê nisso, como está nessa interpretação?
Igualmente, a passagem de 1 Cor 3,11: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o
qual é Jesus Cristo.” Quem colocou o fundamento aí? A resposta está no
verso anterior (10): “Segundo a graça de
Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro
edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.”
Se os pregadores do evangelho lançam o fundamento, ou seja,
anunciam a Jesus Cristo, então são os arquitetos. Assim, são Paulo diz: “pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento”.
Outros edificam sobre o fundamento posto por São Paulo, ou colocado por outro
dos apóstolos, e sucessores.
Assim, em Ef 2,20 os apóstolos e profetas são o fundamento, e
Cristo é a Pedra Angular. Ser fundamento da Igreja é também uma característica
dada aos cristãos, como foi dada a Pedro em particular em Mateus 16,18. Isso
prova que nós podemos ser pedras, e se há coisas que Cristo é, e que não
podemos nós ser, não é esse o exemplo. Vê-se isso em Apocalipse 21,14, onde a
muralha da Jerusalém celeste tem doze fundamentos. Os apóstolos são ali os
fundamentos.
E o livro continua: “Portanto,
o argumento católico, ao invés de refutar alguma coisa, apenas serve para
fortalecer o argumento dos evangélicos. Ele demonstra que não existe outra
pedra principal além de Cristo, assim como não existe outra luz principal além
dEle.” (p. 79) No entanto, a doutrina católica não coloca outra luz
principal, nem outra pedra principal, no mesmo sentido referido a Jesus Cristo,
mas em sentido diferente.
Duas pedras fundamentais diversas ao mesmo tempo e no mesmo
sentido implicaria em contradição. Tem-se, portanto, que Pedro é pedra em outro
sentido. De fato, o próprio Pedro está edificado sobre a Pedra, que é Jesus,
mas não deixa de ser pedra no sentido em que o Senhor Jesus o colocou no
Evangelho. De modo algum Pedro seria Pedra em significado semelhante àquele de
Jesus Cristo. Esse é o ponto que o livro falhou em considerar. Não soube ler a
metáfora.
Na continuação da argumentação, com fins de fortalecer a
posição, o livro a enfraquece quanto aponta: “A isso deve-se acrescentar que Jesus não diz que somente ele é a luz em
João 8:12, mas a Bíblia diz claramente que somente ele é o fundamento principal
da Igreja (1Co.3:11).” Quer dizer que Jesus não seria Ele somente a Luz,
mas teriam outras luzes? Blasfêmia pensar! Portanto, no seu nascedouro o
argumento é batido. O autor não pensou bem ao usar tal argumento, pois ele dá
lugar a uma leitura blasfema. A Bíblia afirma que só Jesus é a Luz. Mas, em
sentido de participação, todos nós, unidos a Ele, podemos ser luzes, ou
constituir, juntos como Igreja, a luz do mundo. Não somos luz em sentido de que
constituímos outra luz ao lado da Luz que é Cristo. Esse seria o erro.
O pensar na palavra “somente” empregada em relação a
fundamento em 1 Cor 3,11, o livro erradamente ensinando assim, cria problemas
maiores, pois o fundamento é igualmente todos os apóstolos e profetas, sendo
Jesus Pedra Angular. Contradiz a própria Escritura ao afirmar que o fundamento
não é aplicado a mais ninguém “somente” a Cristo, como se não houvesse passagem
chamando alguém mais de fundamento, embora noutro sentido. O texto explicado
dessa forma introduz falsa contradição nas Escrituras. Portanto, está errada a
explicação do livro.
Que fala são Paulo em 1 Cor 3,11? Trata da evangelização, dos
pregadores do Evangelho, os quais lançavam o fundamento nos diversos lugares
onde organizavam as igrejas. O fundamento que colocavam era somente um: Jesus
Cristo. Esse é o ensino da passagem. Dessa forma, entende-se que a mesma não é
correlata de Mateus 16,18. Não há como fazer ligação dessas duas passagens,
como pretendeu o autor.
Igualmente, é um erro afirmar que Pedro era apenas “coluna” e
não pedra. Isso contradiz o texto analisado acima. As metáforas não devem ser
misturadas. Se num momento Pedro, e todos os cristãos são pedras vivas, não
poderiam ser colunas, segundo princípio que o livro adota! Se eles são colunas,
já não poderiam ser pedras! Esse resultado errôneo e inesperado, mas lógico,
deve-se à falha em misturar as metáforas. É outra falha argumentativa.
Num momento, Jesus é o Pastor, noutro é o Cordeiro. Em um é a
Porta, em outro é a Luz. Ainda, pode ser apresentado como Homem, como Leão,
como Cordeiro. São metáforas independentes, cada qual focalizando uma verdade
sobre Cristo. Ninguém poderia negar, pensando corretamente, que Cristo não
fosse o Cordeiro, pois seria o Leão da Tribo de Judá, e leões não são
cordeiros! Ou pensar que Cristo não é o Cordeiro, pois é o Pastor, e o Pastor é
quem cuida dos cordeiros! Ou que não pode ser o Pastor, porque é a Porta das
ovelhas, e o Pastor não pode ser Porta! Logo se nota a fraqueza da mistura de
metáforas! Esse erro adotado no livro leva-o a criar tais problemas. (Se não
for assim, que explique melhor a questão das metáforas, e prove que não foi
refutado pela argumentação registrada aqui.) Por exemplo, quando afirma: “E existe uma gigantesca e colossal diferença
entre ser a pedra de fundamento e ser uma coluna, pois a coluna não é o
fundamento, mas está edificada sobre o fundamento, que é Cristo.” (p. 80)
Esclarecendo mais, a pedra e o fundamento podem ser
diferentes. Por exemplo, Cristo em 1 Cor 3,11 e em 1 Cor 10,3. No primeiro é o
fundamento, que é lançado pelos ministros do Evangelho. No segundo é a Pedra
que sacia a sede de todos, como figurada na pedra que jorrou água e seguia os
hebreus no deserto. Pedra fundamental e pedra donde bebe-se água são figuras
diversas, e não deve-se confundi-las. Percebam isso.
A afirmação seguinte é totalmente errônea em seu objetivo: “Pedro, como Paulo dizia, era uma “coluna” da
Igreja (Gl.2:9), que sabemos que é algo muito diferente de pedra de fundamento.”
(p. 81) De fato, ser coluna difere de ser uma pedra fundamental. No entanto,
como estabelecido antes, num momento pode-se empregar uma figura de linguagem,
enquanto em outro valer-se de artifícios linguísticos diferentes, com o fim de
esclarecer pontos diversos. O livro está totalmente desorientado nessa área. Os
argumentos expostos sobre suas premissas foram refutados. E, certamente, o
mesmo não pode refutar o que está posto aqui.
Pedro não está colocado como fundamento no mesmo sentido que
Cristo está. Deve-se entender bem essa asserção.
A construção de 1 Cor 3,11 é feita pelos ministros do
evangelho. Nessa figura, eles não são pedras, são construtores. Eles não
constroem a Igreja, mas lançam fundamento e usam de vários materiais para
construir sobre o mesmo fundamento, que é Cristo. Trata-se de uma figura
diferente.
Não se pode ligá-la a Gl 2,9. Em Gálatas os apóstolos citados
aparecem como colunas, e colunas são constroem nada (não são autores), mas são
construídas, colocadas pelos construtores (são estruturas, são objetos). A
junção de ambas as passagens revela a falsa exegese empregada para negar o
texto claríssimo de Mateus 16,18. Definitivamente, esse meio não refuta nada nessa
questão.
Para negar que a pedra – fundamento – seja Pedro, o argumento
gira em torno de 1 Cor 3,11 onde é dito haver um único fundamento. Texto já
explicado. É preciso encontrar outra passagem então.
Mas, o incrível, para o argumento do livro, é que no
Apocalipse, numa outra figura, na visão de são João, a muralha da Jerusalém
Celestial tem 12 fundamentos! (Ap 22,14) E nessa visão do Apocalipse não
aparece Jesus como fundamento da cidade e da muralha.
Pelo arrazoado do livro (pelos princípios que deixa implícito
em suas colocações) isso deveria ter ocorrido, mas não ocorreu. Esse fato serve
apenas para mostrar o desajuste das questões colocadas no livro sobre Pedro não
aparecer como pedra, coluna ou fundamento em destaque.
Contudo, ele aparece em Mateus 16,18, de fato, passagem
infelizmente não entendida nas argumentações do livro. Jesus é o fundamento da
Jerusalém celestial, pode-se afirmar (ou não podemos?), mas a visão não revela
isso (cf. Ap 22,14). Mostra assim que não necessita revelar a mesma coisa cada
vez que faz uma revelação nas Escrituras Sagradas. São figuras diferentes,
cenas diferentes, metáforas diferentes.
A Bíblia é harmoniosa, sua verdade não contraria-se em ponto
algum. Contudo, pelos erros que o livro aponta em sua tentativa de negar que
Pedro=Pedra, faz com que o Apocalipse, ou qualquer outra passagem bíblica, não
possa falar de mais de um fundamento, quanto mais de dozes fundamentos, como faz!
Sabendo disso, mais uma vez, deve-se apegar aos argumentos bíblicos, não aos do
livro A História não contada de Pedro,
pois o mesmo os contradiz. O mesmo contradiz os argumentos fundamentados na Bíblia.
Cada metáfora em seu próprio contexto, caro leitor.
O fato também de Mateus 16, 18 ser o único lugar onde
encontra-se claramente Pedro como fundamento, não nega o primado, que é atestado
alhures nas Escrituras, em diversas cenas bíblicas. Cristo não necessita
repetir em todos os sinóticos cada verdade. Basta uma vez, já devemos crer. Essa
verdade sobre Pedro aparece em muitas outras passagens, indicando sua
preeminência, sua primazia, seu destaque na Igreja, sua escolha por Deus. Não é
necessário que em outros lugares sejam narrados o mesmo fato, da mesma forma.
Palavras e meios diferentes valem igualmente. Isso, de que a repetição torna-se
necessária, não se impõe. É apenas uma exigência protestante, revelada em seus
argumentos, que não é encontrada na Bíblia.
Em Marcos está: Tu és o Cristo. Em Lucas: O Cristo de Deus.
Em Mateus: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso mostra evidentemente que
são Mateus narrou mais completamente o fato. Somente isso. Os outros sinóticos
apenas resumiram a questão. São Mateus foi mais claro nesse particular. Nada
mais do que isso.
Resumindo, os outros sinóticos não falam de pedra, mas apenas
narram a resposta de Pedro sobre a messianidade de Jesus. Portanto, a afirmação
seguinte está batida: “A pedra em questão
já havia sido achada.” Não houve procura de pedra, em lugar algum, nenhum
questionamento sobre isso. E mais: se dependesse dos evangelhos de Marcos e
Lucas, não poderíamos saber sobre a passagem de Mateus 16,18? Mas, foi por isso
que Deus, soberanamente, quis que fossem quatro os evangelhos, e muitas vezes
narrou em apenas um, uma questão importante. No entanto, a mesma é confirmada
em outras partes da Bíblia.
Outro ponto errôneo do livro é esse: “Notemos que Mateus, que escreveu em grego seu evangelho...” (p.
87). Mateus escreveu o seu evangelho em aramaico. Pela conclusão vê-se
novamente o erro: ““Tu és PETRUS...”
– Um fragmento de pedra, uma pedra secundária que está edificada sobre a rocha
principal. E sobre a sua confissão: “E sobre esta PETRA” – Uma rocha firme, uma
massa de rocha.” (p. 88)
Jesus teria dito “Tu és Pedro” apenas para mostrar-lhe que
era pequeno, “e sobre esta pedra” para indicar uma rocha grande e firme. Que
tem isso a ver com o contexto? Absolutamente, nada. A explicação é falha, e
introduz uma conversa, um sentido, que não tem a ver com o caso.
Se assim o fosse, ainda restaria explicar o fato de Jesus ter
dito que Simão era pedra e que construiria Sua Igreja sobre a pedra, que
deveria ser entendido como o próprio Cristo? Soaria como se o Tu és Pedro não
passasse de um artifício retórico sem sentido. Esse resultado previsto nas
premissas do livro é evidência da falsidade das mesmas. Portanto, o argumento
cai mais uma vez. O diálogo era com Pedro, e tudo nos versos 16 a 19 se refere
a Pedro, contrariamente ao que o livro tentou inculcar.
A explicação: “E o
“και” significa que Cristo estava dizendo algo como: “quanto a ti, Pedro” ou “e
tu, Pedro”, pois o “και” tira o sentido de ser tudo referência a Pedro.” Mas,
não tinha dito o Senhor no início: Tu és Pedro? Como falar a ele, e não dele, e
depois afirmar: agora, quanto a ti? É uma explicação auto-contraditória.
Jesus já inicia a fala dirigindo-Se a Pedro, e não há qualquer
sinal que indique que tenha mudado de foco.
Testando mais diretamente a explicação do livro: Cristo diria
o Tu és Pedro, afirmando algo do apóstolo, passaria então a falar de algo
outro, da fundação da Igreja sobre Si Mesmo, ou seja, o objeto da confissão de
Pedro, e depois voltaria a falar do apóstolo. Grande confusão!
A leitura normal, no entanto, percebe que: Cristo fala que
Simão é Pedro [pedra], e que sobre a pedra [o apóstolo Pedro] edificará a Sua
Igreja, e que dará a ele as chaves do reino dos céus. Verdade bastante profunda
e simples. Não necessita de uma análise no grego para descobrir nada, mas apenas
para confirmar a leitura a partir do texto corretamente traduzido.
A respeito do aramaico, língua falada por Jesus, o livro
aponta o argumento nele baseado como a “última cartada” dos católicos, que
teria aparência de “bom argumento”. Acreditando que sua exposição foi
bem-sucedida, tenta obscurecer o argumento do aramaico.
E continua: “...que
devemos ficar apenas com aquilo que Jesus supostamente teria dito”. (p. 91)
Na verdade, Jesus o disse, não supostamente, mas de fato. Continuando: “(pois não sabemos as palavras exatas que ele
teria usado, apenas aquilo que ele provavelmente disse) em aramaico?”. Essa
suposição não tem força alguma. Não sabemos as palavras exatas? Talvez
refira-se à frase completa, não aos termos, pois, que o Senhor Jesus Cristo
pronunciou KEPHA há provas cabais nas Escrituras, como João 1,42, já aludido,
que translitera em caracteres gregos o nome de Pedro: CEFAS, e mostra o
significado do mesmo em grego. Nem sempre a Bíblia o traduz. Várias passagens
mostram as transliterações. (cf. 1 Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 2,9) Outra
afirmação refutada.
Voltando a afirmar a suposta referência do pronome ao termo
mais distante, ainda que tendo referência na gramática do aramaico, o livro
tenta reforçar sua posição já refutada, mesmo no grego.
A diferença semasiológica aludida pelo padre Aníbal Reis [ex-padre]
não é prova alguma. O texto grego não a supõe, e ainda menos o aramaico. Isso é
fruto da interpretação que se tentou introduzir, mas, graças a Deus, em Nome de
Jesus Cristo, essa interpretação foi batida acima.
São Mateus escreveu em aramaico, e a tradução grega traduz Kepha por dois termos: petros e petra. Já foi afirmado antes que os dois possuem significados
idênticos. Aliás, os eruditos afirmam que a diferença sutil entre ambos se dá
no uso poético dos mesmos, não afetando seu significado original. O significado
literal permanece.
E o evangelista ouviu Jesus pronunciar aquelas palavras a
Pedro. Não havendo uma passagem sequer que indique diferença de sentido entre Petros e Petra, e sabendo que a escolha do termo Petros se dá por seu uso
apropriado a um nome masculino, está desfeita a questão que tentou ser provada
no livro. Outro fato importante, o grego utiliza lithos para uma pequena pedra (cf. João 8,7.59), que pode ser
normalmente arremessada, e kepha para
indicar uma pedra em tamanho considerável, uma rocha.
Sabendo disso, é um golpe mortal na teoria protestante que
tenta responder contrariamente à verdade cristã católica, de que Pedro teria
sido entendido como “pedra pequena” ou “pedrinha”. E esse golpe de morte
aparece em 1 Pedro 2,4, onde o próprio Senhor Jesus Cristo é chamado PEDRA
usando o grego lithos [λίθον ], o que
prova que, ainda assim, no uso de um substantivo que denota uma pedrinha, o
sentido do mesmo, pelo contexto, não diminui a grandeza do Senhor pelo simples
uso do termo. Jesus sendo chamado de Pedrinha não o faz pequeno. Essa refutação
é radical quanto à argumentação de Pedro ser supostamente um pedaço pequeno de
pedra.
O verso de 1 Pedro 2,5 igualmente utiliza a mesma palavra em
relação a todos os cristãos, e tal fato não diminui a majestade de Cristo.
Portanto, se, ainda como afirmam, Petros
assumisse um sentido diverso de Petra,
o que não é o caso, e foi provado aqui, ainda assim a posição de Pedro como
pedra fundamental estaria de pé. Mais uma vez, a teoria protestante cai num
despenhadeiro profundo.
O livro considera a resposta sobre a concordância com o
gênero masculino, como razão da tradução para Petros: “Alguns católicos,
tentando contornar esse fato e oferecer alguma explicação para a distinção de
Mateus, afirmam que ele distinguiu petrus de petra porque foi forçado a isso,
para não colocar em Pedro um nome feminino (petra).” (p. 93)
Negando isso, o autor nota que há uma falta de concordância
entre o masculino Petrus [Petros] e o termo feminino petra, o que explicaria
que não poderia petra referir-se a petrus, mas a um feminino anterior, a
confissão petrina. Essa explicação já está afastada, como provado no início, não
possuindo nenhuma plausibilidade. Em Zondervan
NIV Bible Commentary afirma-se que,
não fosse a reação protestante contra os excessos das interpretações católicas,
os protestantes teriam reconhecido em Pedro a Pedra no texto em apreço. E
realmente, isso é um fato. Não há nada diverso a ser dito.
Ao primeiro ponto, deve-se afirmar que a Comissão Bíblia
explica que Mateus é o apóstolo de Jesus, e que escreveu na língua dos judeus
palestinos, e isso está baseado na tradição. Se não se sabe ao certo a língua
original, hebraica ou aramaica, por outro lado conhece-se que não foi
originalmente escrito em grego. Esse primeiro ponto apresentado é de pouco
interesse.
Por que Mateus seria a exceção a escrever em aramaico, se os
outros escreveram aos judeus em grego? Simples. Mateus foi o único que escreveu
aos judeus da Palestina, especificamente, e não o faria, logicamente, em grego.
Respondido. Os outros livros sagrados foram endereçados aos judeus da Diáspora.
E sabe-se que fora da Palestina a língua usada pelos judeus era o grego.
A hipótese número 4 não prova nada, por provar demais.
Certamente, o tradutor de Mateus para o grego baseou-se no texto de Marcos, que
encontra-se completo no Evangelho de Mateus. Essa não é uma objeção importante.
E, como escreve o ex-padre Aníbal, a Igreja Católica
baseia-se no texto grego e, portanto, quaisquer objeções que teimem em
esquecer-se disso, como se a Igreja Católica usasse o argumento do texto não
preservado em aramaico, são objeções pueris.
Com mais ares de vitória, afirma o livro: “Portanto, não há escapatórias para os
apologistas católicos.” (p. 95) Será verdade? O que foi mostrado acima não
assemelha-se em nada com essa afirmação. Pelo contrário, cada argumento do
livro está sendo esmagado pelo martelo sagrado da Palavra de Deus. E todos os
argumentos contra a interpretação cristã católica de Mateus 16,18 foram
refutados.
Gledson Meireles.