Barnabé fala dos “divinos frutos da justiça” que eram abundantes
entre os cristãos para os quais escrevia. Esses frutos são as boas obras, em
outras palavras. Ele fala que está “esperando ser
salvo”, que é a doutrina da esperança da salvação. Essa não é a certeza
absoluta, que é entendida como a segurança eterna do crente, sentida e
percebida por quem está em Cristo. Não se trata disso, pois a esperança da
salvação dá uma certeza moral relativa, que não vai para o futuro, mas é algo
que diz ao coração do fiel que ele humildemente entrega-se à misericórdia de
Deus e nisso está certo de que está salvo, e de que irá ser salvo. É algo um
tanto diverso daquilo que afirmam com a doutrina “uma vez salvo, sempre salvo”.
Ele diz: “porque grande é a fé e o amor habitando entre vós”. Essa é a doutrina
da fé e das obras, e prossegue: “esperais pela vida
que Ele prometeu”. Essa é a esperança que foi explicada acima, que é a
doutrina bíblica.
Das doutrinas de Cristo, diz
Barnabé: “a esperança da vida, o começo e o fim da
mesma”, que diz respeito à justificação e à salvação final. Ele fala do
conhecimento, pelos profetas, do passado e do presente, e das coisas que virão,
que estão na escatologia, como “os primeiros frutos
do conhecimento das coisas que virão”.
Na humildade, Barnabé coloca-se
não como “mestre”, mas como um dos irmãos, ou seja, igual aos irmãos. (Epístola
de Barnabé, 1)
Ele fala do poder do Maligno
sobre o mundo, e as ordenanças de Cristo que devemos guardar. O “temor e a paciência” que auxiliam a fé. Também o
sofrimento e a continência contribuem para o cristão.
No capítulo 4 escreve Barnabé das
“coisas que são capazes de nos salvar.” Essa
linguagem revela a teologia bíblica católica de que as obras são importantes
para a salvação. Ele continua dizendo para fugirmos “de
todas as obras de iniquidade”. Fala do amor aos cristãos, “individualmente e coletivamente”.
Falando da aliança em Cristo, que
vem da fé nEle, volta a mencionar a esperança que nasce da fé. A respeito da
perseverança que o cristão deve ter, falando do tempo da perseguição do
Anticristo, ele diz que a fé passada não terá nenhum valor. Isso evoca o tema
da importância das obras na salvação.
Algo bastante importante para a
Igreja: “Não vivam uma vida solitária, retirando-se
à parte, como se você já estivessem justificados, mas reúnam-se em um lugar,
fazem pesquisa comum sobre o que é melhor para o vosso bem-este geral.”
É a admoestação para que ninguém acredite que está salvo e pode agora deixar de
participar das reuniões na Igreja, e que pode viver sua vida espiritual
separado dos outros. Assim como a Bíblia, Barnabé reprova essa má obra.
Sobre o juízo ele diz que cada um
receberá como tiver feito: se é justo sua justiça o precederá, e se é iníquo, a
retribuição da iniquidade será dada a ele. Pois, se alguém deixa-se vencer pelo
pecado o Diabo pode levá-lo para longe do reino do Senhor. Essa doutrina está
em conformidade com a Bíblia. Ela contradiz a doutrina que afirma a segurança
eterna do crente.
A salvação perpetrada por Cristo,
a santificação pela remissão dos pecados, efetuada pelo Sangue de Cristo, é a
doutrina ensinada na Epístola. Ele cita a Escritura que diz respeito, em parte
a Israel e em parte a nós. Isso contradiz o Dispensacionalismo, que tem uma
divisão total sobre o que é referente a Israel e o que tem a ver com a Igreja.
Obviamente, é somente Isaías 53,5.7 que está sendo tratado, mas tal caso pode
ser ampliado, e a doutrina de Barnabé não tem contato com o dispensacionalismo
que nasceu no século 19.
A nossa renovação foi feita por
Cristo pela remissão dos nossos pecados. E a autoridade que teremos para
governar sobre a criação será quando tivermos sido tornado perfeitos. (capítulo
6)
No capítulo 8 os apóstolos são
mostrados como a autoridade escolhida para pregar o Evangelho, em número de 12,
como as tribos de Israel.
Barnabé explica alegoricamente passagens da Escritura, e
fala da cruz. Apresenta a Cristo e a cruz. (capítulo 9)
No capítulo 10 ele fala “deste mundo” e do “santo estado”
que virá.
No capítulo 11 ele fala da
prefiguração da água do batismo e da cruz. Devemos colocar nossa confiança na
cruz, por intermédio da nossa descida à água. É uma conexão do batismo e da
cruz. Interpreta Ezequiel 47,12 como o batismo, mostrando a verdadeira doutrina
de que o batismo é regenerador, e que depois é seguida a vida de fé.
A razão porque Moisés proibiu a
feitura de imagens: “Mais Moisés, quando ordenou, Vó não tereis nenhuma imagem
esculpida ou grava para Seu Deus, fez assim para eu ele pudesse revelar um tipo
de Jesus”. Aqui, Barnabé não é contrário à fabricação de imagens, e mostra que
Moisés usou de imagens para ensinar a verdade sobre Cristo.
O dia de santificação dos cristãos
é o “oitavo”, contagem alegórica que tem com fundamento a doutrina espiritual
do sábado. Cada dia sendo considerado mil anos, a consumação dos séculos será
após seis mil anos, onde Cristo restaurará tudo e terá o descanso sabático. Por
isso, a Igreja santifica o dia após o sábado, que é o dia início do mundo novo:
“Assim, também, nós observamos o oitavo dia com
alegria, o dia também no qual Jesus ressuscitou novamente dos mortos. E quando
Ele manifestou-Se, Ele ascendeu aos céus.” Essa especificação do oitavo
dia é clara, e tem a conotação espiritual baseada na ressurreição de Cristo.
(capítulo 15)
Barnabé afirma que os judeus não
criam em Deus, mas no templo, como a casa de Deus. Chega mesmo a comparar a
atitude judaica com a pagã: “Pois quase da maneira
dos gentios eles O adoram no templo”.
Algumas coisas que fazem parte do
caminho da luz, e que devem ser praticadas, estão entre elas a lembrança diária
do dia do juízo. É importante observar o seguinte: “ou
por suas mãos você trabalhará para a redenção dos seus pecados.” Essa e
outras doutrinas configuram a mesma doutrina cristã católica, que tem
essencialmente esses pontos em contradição com a doutrina do Protestantismo.
É verdade que a escatologia
contém, ou pode conter, algumas diferenças, que tantos escritores católicos, em
muitos séculos, aderiram, que é principalmente o milênio. Mas, essa doutrina
não é claramente exposta aí, tendo apenas uma indicação de que o milênio seria
o sétimo dia que será inaugurado após a vinda de Cristo.
Também, há pelo menos uma
passagem que parece sugerir o aniquilacionismo, mas que não garante que essa é
a fé de Barnabé, por ser apenas uma afirmação que alude veladamente a isso, e
podem muito bem estar sem sentido figurado: “mas
aquele que escolhe outras coisas será destruído com suas obras”. Ele afirma que a São pequenos indícios. Aliás,
há uma afirmação controvertida: “pois é o caminho da morte eterna com punição”.
Os condicionalistas entendem que isso se trata da morte que segue após haver
terminado a punição. Porém, é possível entender que a morte é o sinônimo de
inferno, já que vem acompanhada de punição: morte eterna COM punição, e não “após”
punição. Isso é plausível.
As obras então não apenas como
reflexo, mas tem um sentido especial na salvação, como é constante na doutrina
católica: “E sejam ensinados por Deus, perguntando
diligentemente o que o Senhor pede de vocês, e façam-no para que você sejam
salvos [seguros] no dia do juízo.” A epístola pode ser acessada. [aqui]
Essa epístola foi escrita,
provavelmente, na era apostólica, entre os anos 70 e 79, mas há eruditos que
afirmam o período da data de 117 a 135 d. C. De qualquer forma, estamos
próximos do período apostólico se essa sugestão moderna for correta. [https://www.catholicculture.org/commentary/articles.cfm?id=628]
Em geral, o que oferece a Epístola
de Barnabé continua na Igreja. Pode-se citar alguns pontos: (1) o método de interpretação alegórica da
Bíblia, que é utilizado ao lado do literal, (2) o ensino da divindade de Jesus, como aparece no capítulo 12 da epístola, (3) o
valor das boas obras na salvação, (4) a regeneração batismal, (5) justificação
pela fé e a salvação final após a perseverança, o que inclui a influência das
obras, (6) a guarda do domingo como dia de descanso cristão, (7) o princípio
positivo para o uso de imagens.
O Protestantismo geralmente oferece resistência para a utilização do método de interpretação alegórica da Bíblia, que
é visto negativamente. Sobre as boas obras é taxativo em afirmar que não tem a
ver com a salvação, mas são apenas resultado da salvação na vida do salvo. Isso
não é o que Barnabé afirma. Também o protestante tende a não ver a regeneração
ocorrendo no batismo, e opõe fé e batismo, enquanto Barnabé afirma que pelo
batismo é feita aderência à cruz do Senhor Jesus. Essa é a doutrina cristã
católica. O dia de domingo não é um ponto exaltado no Protestantismo como o é
na epístola.
Em geral, pode-se afirmar que
essencialmente o Protestantismo ensina uma doutrina diferente daquela
encontrada na epístola.
Gledson.