domingo, 31 de julho de 2016

A eleição de Matias


Para os protestantes, a eleição de Matias é uma evidência de que Pedro não era um chefe, nem bispo, nem primaz, muito menos um papa. Isso porque na eleição do substituto de Judas Iscariotes, "ninguém foi nomeado por Pedro", mas foram lançadas sortes e um escolhido para o lugar de Judas. Essa seria uma cena não apropriada para a figura do pontífice romano, que teria poderes inigualáveis e autoridade indiscutível, fazendo o que bem entende, nomeando e depondo a seu bel-prazer. (Mas essa é um exigência que colocam como objeção, não algo necessário para a postura do papa). Por isso, a eleição de Judas é vista como uma prova de que Pedro não foi papa. Esse foi uma das razões apontadas pelo reverendo Hernandes D. Lopes.

Por esse motivo, é oportuno a apresentação da questão em termos mais de acordo com o contexto bíblico e a correta doutrina da Igreja Católica, para verificarmos essa questão. Deve-se estar aberto à verdade.

Em um daqueles dias, levantou-se Pedro no meio de seus irmãos, na assembleia reunida que constava de umas cento e vinte pessoas, e disse: “Irmãos, convinha que se cumprisse o que o Espírito Santo predisse na escritura pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus.” (Atos 1,15-16)

Houve uma reunião, daquelas que sempre ocorriam nos primeiros dias da Igreja, onde os apóstolos e demais discípulos discutiam coisas importantes relativas ao apostolado, à evangelização, e também onde rezavam e cultuavam a Deus.

Nessa reunião, quem parece estar no comando é justamente o apóstolo Pedro. Ele levanta-se, fala aos irmãos, cita as Escrituras para fundamentar o que vai propor. É ele quem mostra o requisito para que seja escolhido o substituto de Judas. (vv. 21-22) Depois da oração, lançaram a sorte, segundo o costume, e foi sorteado Matias. (v.26)

Disso, temos o seguinte:

1)      Pedro falou no meio dos irmãos.

2)      Mostrou a necessidade de eleger alguém para o lugar de Judas.

3)      Apresentou as exigências mínimas para o cargo.

4)      E em comunhão todos oraram, sortearam Matias, e esse foi incorporado ao número dos doze.

Essa situação indica a postura do líder Pedro dirigindo a Igreja de Jerusalém em assuntos de importância vital para o apostolado, e a concordância de todos aos seus conselhos. Para ser o papa não é necessário que ele mesmo indicasse e nomeasse um dos discípulos, segundo suas próprias opiniões. Ele seguiu as inspirações do Espírito Santo, da forma que devia fazer com chefe, cumpriu o que era necessário, e pelas suas atitudes está mais indicado sua posição de líder do que a de um apóstolo em igualdade de autoridade com os demais.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

As imagens na Igreja no tempo apostólico

Dois argumentos interessantes contra as imagens serão comentados a seguir:

1. Nos primeiros tempos, sendo a Igreja composta majoritariamente de judeus, e com poucos convertidos pagãos, a saber, os prosélitos que conheciam o decálogo, não haveria necessidade de tratar do assunto das imagens, nem mesmo insistir sobre a proibição da idolatria.

2. A partir de Atos 15 esse tema é constante: 1 Cor 12,2; 10,1 4;1 Tess 1,19; 1 Jo 5,21. E por isso não há qualquer vestígio de culto tributado às imagens nessa época.

Então não havia imagens na era apostólica, e as igrejas eram totalmente destituídas da arte que retrata coisas do Cristianismo? A resposta é que não havia nem igrejas para o culto divino ainda, muito menos uma arte cristã desenvolvida. Devemos ver qual o princípio que a Bíblia apresenta nesse sentido.

Obviamente no tempo de Jesus nenhum judeu tinha qualquer relação com os ídolos estrangeiros. Também não era costume judaico fazer imagens de Deus (cf. Dt 4,15), nem de personagens religiosos (profetas, sacerdotes...), e nem de figuras políticas.

Por outro lado, o templo de Jerusalém era adornado com figuras de plantas, flores, animais e anjos. Os ambientes de culto não eram destituídos de imagens, mas belamente adornados. Disso a arqueologia mostra abundância da exemplos.

Assim, devemos perceber duas coisas diferentes: 1º) Há total ausência de ídolos e de culto idolátrico na Igreja primitiva. 2º) Os apóstolos e primeiros discípulos eram acostumados com a arte religiosa no templo, sinagogas e outros lugares, como os cemitérios cristãos. Se usavam essa arte, tinham respeito por ela, e essa influenciava de alguma forma sua espiritualidade.

Diante disso, podemos ver que a Bíblia não trata explicitamente no Novo Testamento dessa segunda realidade, nada dizendo sobre qualquer mudança de princípio. O que vemos é a mesma proibição da idolatria.

Sabemos que os apóstolos não tinham igrejas construídas ainda, e que as reuniões se davam nas casas, nas margens de riachos, e os cristãos ainda frequentavam o templo e a sinagoga. Não há construção de igrejas nesse primeiro século, pelo que consta não existe nenhum registro bíblico, histórico e arqueológico nesse sentido. Portanto, não há que procurar uma arte cristã nos moldes mais tardios nesse período primitivo.

Os cristãos convertidos do paganismo deixaram os “ídolos mudos”, ou seja, as imagens de escultura do paganismo. Eram instados a fugir da idolatria. Eles abandonaram os ídolos e serviam ao Deus vivo e verdadeiro. Nada há sobre a confecção de arte cristã, sob a forma de escultura, pintura, mosaico, etc., nem do seu uso religioso.

Conclui-se que há nesse período, pelo menos, a arte do templo e da sinagoga, e a proibição da idolatria pagã. Não há qualquer proibição de imagens cristãs na igreja nesse período.
 
Gledson Meireles.

Os argumentos mencionados são baseados no livro Desmascarando a Idolatria, de Paulo Cristiano Silva, CACP, 2015.

sábado, 16 de julho de 2016

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Gledson Meireles.

sábado, 2 de julho de 2016

Doutrina católica na Epístola de Barnabé

Barnabé fala dos “divinos frutos da justiça” que eram abundantes entre os cristãos para os quais escrevia. Esses frutos são as boas obras, em outras palavras. Ele fala que está “esperando ser salvo”, que é a doutrina da esperança da salvação. Essa não é a certeza absoluta, que é entendida como a segurança eterna do crente, sentida e percebida por quem está em Cristo. Não se trata disso, pois a esperança da salvação dá uma certeza moral relativa, que não vai para o futuro, mas é algo que diz ao coração do fiel que ele humildemente entrega-se à misericórdia de Deus e nisso está certo de que está salvo, e de que irá ser salvo. É algo um tanto diverso daquilo que afirmam com a doutrina “uma vez salvo, sempre salvo”.

Ele diz: “porque grande é a fé e o amor habitando entre vós”. Essa é a doutrina da fé e das obras, e prossegue: “esperais pela vida que Ele prometeu”. Essa é a esperança que foi explicada acima, que é a doutrina bíblica.

Das doutrinas de Cristo, diz Barnabé: “a esperança da vida, o começo e o fim da mesma”, que diz respeito à justificação e à salvação final. Ele fala do conhecimento, pelos profetas, do passado e do presente, e das coisas que virão, que estão na escatologia, como “os primeiros frutos do conhecimento das coisas que virão”.

Na humildade, Barnabé coloca-se não como “mestre”, mas como um dos irmãos, ou seja, igual aos irmãos. (Epístola de Barnabé, 1)

Ele fala do poder do Maligno sobre o mundo, e as ordenanças de Cristo que devemos guardar. O “temor e a paciência” que auxiliam a fé. Também o sofrimento e a continência contribuem para o cristão.

No capítulo 4 escreve Barnabé das “coisas que são capazes de nos salvar.” Essa linguagem revela a teologia bíblica católica de que as obras são importantes para a salvação. Ele continua dizendo para fugirmos “de todas as obras de iniquidade”. Fala do amor aos cristãos, “individualmente e coletivamente”.

Falando da aliança em Cristo, que vem da fé nEle, volta a mencionar a esperança que nasce da fé. A respeito da perseverança que o cristão deve ter, falando do tempo da perseguição do Anticristo, ele diz que a fé passada não terá nenhum valor. Isso evoca o tema da importância das obras na salvação.

Algo bastante importante para a Igreja: “Não vivam uma vida solitária, retirando-se à parte, como se você já estivessem justificados, mas reúnam-se em um lugar, fazem pesquisa comum sobre o que é melhor para o vosso bem-este geral.” É a admoestação para que ninguém acredite que está salvo e pode agora deixar de participar das reuniões na Igreja, e que pode viver sua vida espiritual separado dos outros. Assim como a Bíblia, Barnabé reprova essa má obra.

Sobre o juízo ele diz que cada um receberá como tiver feito: se é justo sua justiça o precederá, e se é iníquo, a retribuição da iniquidade será dada a ele. Pois, se alguém deixa-se vencer pelo pecado o Diabo pode levá-lo para longe do reino do Senhor. Essa doutrina está em conformidade com a Bíblia. Ela contradiz a doutrina que afirma a segurança eterna do crente.

A salvação perpetrada por Cristo, a santificação pela remissão dos pecados, efetuada pelo Sangue de Cristo, é a doutrina ensinada na Epístola. Ele cita a Escritura que diz respeito, em parte a Israel e em parte a nós. Isso contradiz o Dispensacionalismo, que tem uma divisão total sobre o que é referente a Israel e o que tem a ver com a Igreja. Obviamente, é somente Isaías 53,5.7 que está sendo tratado, mas tal caso pode ser ampliado, e a doutrina de Barnabé não tem contato com o dispensacionalismo que nasceu no século 19.

A nossa renovação foi feita por Cristo pela remissão dos nossos pecados. E a autoridade que teremos para governar sobre a criação será quando tivermos sido tornado perfeitos. (capítulo 6)

No capítulo 8 os apóstolos são mostrados como a autoridade escolhida para pregar o Evangelho, em número de 12, como as tribos de Israel.

Barnabé explica alegoricamente passagens da Escritura, e fala da cruz. Apresenta a Cristo e a cruz. (capítulo 9)

No capítulo 10 ele fala “deste mundo” e do “santo estado” que virá.

No capítulo 11 ele fala da prefiguração da água do batismo e da cruz. Devemos colocar nossa confiança na cruz, por intermédio da nossa descida à água. É uma conexão do batismo e da cruz. Interpreta Ezequiel 47,12 como o batismo, mostrando a verdadeira doutrina de que o batismo é regenerador, e que depois é seguida a vida de fé.

A razão porque Moisés proibiu a feitura de imagens: “Mais Moisés, quando ordenou, Vó não tereis nenhuma imagem esculpida ou grava para Seu Deus, fez assim para eu ele pudesse revelar um tipo de Jesus”. Aqui, Barnabé não é contrário à fabricação de imagens, e mostra que Moisés usou de imagens para ensinar a verdade sobre Cristo.

O dia de santificação dos cristãos é o “oitavo”, contagem alegórica que tem com fundamento a doutrina espiritual do sábado. Cada dia sendo considerado mil anos, a consumação dos séculos será após seis mil anos, onde Cristo restaurará tudo e terá o descanso sabático. Por isso, a Igreja santifica o dia após o sábado, que é o dia início do mundo novo: “Assim, também, nós observamos o oitavo dia com alegria, o dia também no qual Jesus ressuscitou novamente dos mortos. E quando Ele manifestou-Se, Ele ascendeu aos céus.” Essa especificação do oitavo dia é clara, e tem a conotação espiritual baseada na ressurreição de Cristo. (capítulo 15)

Barnabé afirma que os judeus não criam em Deus, mas no templo, como a casa de Deus. Chega mesmo a comparar a atitude judaica com a pagã: “Pois quase da maneira dos gentios eles O adoram no templo”.

Algumas coisas que fazem parte do caminho da luz, e que devem ser praticadas, estão entre elas a lembrança diária do dia do juízo. É importante observar o seguinte: “ou por suas mãos você trabalhará para a redenção dos seus pecados.” Essa e outras doutrinas configuram a mesma doutrina cristã católica, que tem essencialmente esses pontos em contradição com a doutrina do Protestantismo.

É verdade que a escatologia contém, ou pode conter, algumas diferenças, que tantos escritores católicos, em muitos séculos, aderiram, que é principalmente o milênio. Mas, essa doutrina não é claramente exposta aí, tendo apenas uma indicação de que o milênio seria o sétimo dia que será inaugurado após a vinda de Cristo.

Também, há pelo menos uma passagem que parece sugerir o aniquilacionismo, mas que não garante que essa é a fé de Barnabé, por ser apenas uma afirmação que alude veladamente a isso, e podem muito bem estar sem sentido figurado: “mas aquele que escolhe outras coisas será destruído com suas obras”.  Ele afirma que a São pequenos indícios. Aliás, há uma afirmação controvertida: “pois é o caminho da morte eterna com punição”. Os condicionalistas entendem que isso se trata da morte que segue após haver terminado a punição. Porém, é possível entender que a morte é o sinônimo de inferno, já que vem acompanhada de punição: morte eterna COM punição, e não “após” punição. Isso é plausível.

As obras então não apenas como reflexo, mas tem um sentido especial na salvação, como é constante na doutrina católica: “E sejam ensinados por Deus, perguntando diligentemente o que o Senhor pede de vocês, e façam-no para que você sejam salvos [seguros] no dia do juízo.” A epístola pode ser acessada. [aqui]

Essa epístola foi escrita, provavelmente, na era apostólica, entre os anos 70 e 79, mas há eruditos que afirmam o período da data de 117 a 135 d. C. De qualquer forma, estamos próximos do período apostólico se essa sugestão moderna for correta. [https://www.catholicculture.org/commentary/articles.cfm?id=628]

Em geral, o que oferece a Epístola de Barnabé continua na Igreja. Pode-se citar alguns pontos: (1) o método de interpretação alegórica da Bíblia, que é utilizado ao lado do literal, (2) o ensino da divindade de Jesus, como aparece no capítulo 12 da epístola, (3) o valor das boas obras na salvação, (4) a regeneração batismal, (5) justificação pela fé e a salvação final após a perseverança, o que inclui a influência das obras, (6) a guarda do domingo como dia de descanso cristão, (7) o princípio positivo para o uso de imagens.

O Protestantismo geralmente oferece resistência para a utilização do método de interpretação alegórica da Bíblia, que é visto negativamente. Sobre as boas obras é taxativo em afirmar que não tem a ver com a salvação, mas são apenas resultado da salvação na vida do salvo. Isso não é o que Barnabé afirma. Também o protestante tende a não ver a regeneração ocorrendo no batismo, e opõe fé e batismo, enquanto Barnabé afirma que pelo batismo é feita aderência à cruz do Senhor Jesus. Essa é a doutrina cristã católica. O dia de domingo não é um ponto exaltado no Protestantismo como o é na epístola.

Em geral, pode-se afirmar que essencialmente o Protestantismo ensina uma doutrina diferente daquela encontrada na epístola.
Gledson.