sexta-feira, 29 de abril de 2016

A doutrina da Igreja Católica na Didaquê

Na Didaqué vemos que a Igreja no primeiro século ensinava: “Mas se não estiver em necessidade, terá que se responsabilizar pelo motivo e pelo fim por que recebeu. Colocado na prisão, ele não sairá de lá, até ter pago o último quadrante (centavo)”, conforme o que está em Mateus 5,25s. Fala-se nesse parágrafo em uma punição espiritual. Nessa passagem, essa prisão é especificamente onde há o castigo para quem recebeu dons sem necessidade, cometendo pecado por isso.

Também é citado o texto sagrado de Eclesiástico 12,1 para ensinar a prática cristã da esmola.

A Igreja ensinava contra o aborto, como também o infanticídio. Era muito radical contra todo tipo de feitiçaria.

A soberania de Deus é ressaltada: “sabendo que a Deus nada daquilo que acontece é estranho.

A comunhão dos santos não é esquecida, e é preciso ter contato com os santos, conversar com eles, viver junto deles: “Todos os dias procurarás a companhia dos santos, para encontrar apoio em suas palavras”. Os santos são então aqueles que possuem a Palavra de Deus e podem auxiliar-nos com ela.

A confissão dos pecados é ensinada: “Na assembleia, confessarás tuas faltas e não entrarás em oração de má consciência.

A Igreja também ensinava que há a perfeição cristã, quando agimos conformes aqueles conselhos evangélicos de perfeição, e há também o que podemos fazer dentro dos limites de nossa possiblidade: “Pois, se puderes portar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não puderes, faze o que puderes”.

As carnes dos sacrifícios pagãos eram evitadas: “mas abstém-te completamente das carnes oferecidas aos ídolos”.

O batismo é em Nome da Trindade: “No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente”. Esse é o mesmo batismo em Nome do Senhor, pois foi Cristo que o ensinou. Por isso, a Didaqué usa ambas as expressões para falar do batismo, e quando é específico ao apresentar a forma ele afirma que é em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

O uso do batismo era em “água corrente” em primeiro lugar. Não tendo essa água, pode-se usar outra. Como obviamente se espera a água é utilizada naturalmente, fria. Mas, em caso de necessidade pode-se usar a água morna (água quente). Esse é o batismo feito em tanques batismais próprios.

Caso não seja possível, há o batismo por infusão, sem qualquer diferença em sua eficácia: “Na falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Outra coisa que ensina a Igreja no primeiro século é que o que será batizado deve jejuar antes do batismo, um dia antes ou dois. Assim também aquela que batizará. Pensa-se assim no batismo de adultos, e não há qualquer alusão ao batismo de crianças, que não podem fazer o jejum. Não há qualquer parte do documento que negue a existência do batismo de crianças, apenas não faz menção dele em suas instruções. De fato, a instrução não abarca toda a doutrina cristã em todos os pormenores.

A Igreja ensina o jejum em dois dias da semana, na quarta-feira e na sexta-feira. Isso mostra a prática do preceito evangélico de modo a diferenciar-se de muitos pagãos que jejuavam na terça-feira e na quinta-feira.

A Igreja ensinava o Pai-Nosso, mostrando o texto como está no Evangelho, e prescrevia que o cristão rezasse três vezes por dia essa oração.

Para a celebração da Eucaristia há a forma de consagrar o pão e o vinho. Quem participa da Eucaristia deve ser quem foi batizado: “Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor”. Esse batismo “em Nome do Senhor” é aquele que foi ensinado antes, ou seja, o batismo em Nome do Deus Uno e Trino.

A Igreja ensina que ela é visível: “reuni esta Igreja santificada dos quatro ventos no vosso Reino que lhe preparaste”, e também ensina a penitência para quem não está vivendo a santidade necessária: “Aquele que não é (santo) faça penitência: Maranatá! [Cf 1Cor 16,22; Ap 22,20] Amém.”.

Nesse tempo os profetas eram em número considerável, e a Didaquê instrui como reconhecer um verdadeiro profeta.

A Eucaristia não era uma simples refeição judaica, o que sugeriria algo corriqueiro e espontâneo, mas trata-se da uma liturgia. Assim, a Igreja ensina que o dia de reunião era o Dia do Senhor (o domingo).

Duas partes da hierarquia são mencionadas, os bispos e os diáconos.

As orações, as esmolas e as boas obras são exortadas a serem feitas conforme o Evangelho: “Fazei vossas preces, esmolas e todas as vossas ações como vós tendes no Evangelho de Nosso Senhor”.

A Igreja ensina a vigilância, usava a simbologia da lâmpada para falar da fé e a perseverança, instruía a não deixar de participara da Igreja, para que sejamos salvos: “Reuni-vos frequentemente para procurar a salvação de vossas almas”.

A Eucaristia é um sacrifício: “Reuni-vos no dia do Senhor (Domingo) para a Fração do Pão e agradecei (celebrai a Eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro”.

Malaquias 1,11-14 é usado para falar da missa, que é sacrifício Eucarístico.

E a doutrina é clara ao afirmar que somente perseverando até o fim é que há salvação: “pois todo o tempo de vossa fé não vos servirá de nada se no último momento não vos tiverdes tornado perfeitos”.

É exortado sobre a vinda do Anticristo. A respeito da ressurreição fala-se da ressurreição dos salvos, não entrando em específico sobre o juízo final, quando todos serão julgados.

Enfim, podemos perceber o seguinte:

a)      O pagamento do último centavo lembra a doutrina do purgatório.

b)      O livro do Eclesiástico é lido e empregado para ensinar doutrina.

c)      A Igreja é contrária ao aborto.

d)     A Igreja condena a feitiçaria.

e)      A soberania de Deus é pregada.

f)       A veneração dos santos, mesmo vivos, é inculcada.

g)      A Igreja é litúrgica.

h)      A Eucaristia é um sacrifício que a Igreja oferece quando reúne-se para esse fim.

i)        Antes do culto a Deus é feita confissão de pecados.

j)        Os conselhos evangélicos de perfeição são ensinados.

k)      O batismo é feito em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

l)        Em primeiro lugar, o batismo é feito em água corrente, por imersão. É o costume natural daquela época. Mas, também, ensina-se o batismo por infusão, e é ensinado como deve ser realizado.

m)    A Igreja reza o Pai Nosso várias vezes por dia.

n)      A Igreja é visível.

o)      A Igreja é hierárquica.

p)      São ensinadas as rezas, esmolas e boas obras.

q)      É exigida a participação na Igreja.

r)       A perseverança nas boas obras é necessária para a salvação.

Conclusão: a Igreja possuía uma norma litúrgica para cultuar a Deus; cria na inspiração do livro do Eclesiástico; recitava a oração do Pai Nosso; cultivava o respeito dos ministros hierárquicos; tinha em alta honra os santos; exigia a frequência à Igreja como necessária para a salvação; praticava preces, esmolas, jejuns prescritos em dois dias da semana, a penitência, e tudo conforme o Evangelho; batizava em Nome da Trindade Santíssima, em imersão ou aspersão; confessava os pecados antes de oferecer o sacrifício a Deus; a Eucaristia era o sacrifício oferecido; ensinava a Soberania de Deus e a perseverança para ser salvo; condenava a feitiçaria e o aborto etc. Sobre a escatologia pode haver alguma diferença, mas não é muito claro esse ponto. Há a fé na “prisão” de onde pode-se sair após pagar o último centavo. Por isso, está implícita a fé no purgatório.

De forma geral, o Protestantismo não tem a frequência às cerimônias da Igreja como necessárias para a salvação, e quando trata desse assunto restringe-se na questão de que isso é apenas importante; também nos primórdios os reformadores, e, mais importante, as Confissões de Fé, foram adeptos, em princípio, do “uma vez salvo sempre salvo” e não estariam de acordo com a instrução sobre a perseverança até o fim para ser salvo como feita na Didaquê; não fala sobre a prisão de Mateus 5,25-26 dessa forma; quase não pratica o batismo por aspersão e infusão, e ainda há os que afirmam que essas formas são inválidas; não recita orações escritas, nem tem o costume de fazer isso algumas vezes por dia, e coisas assim; não usa Ml 1,11 para expressar o sacrifício cristão como fez a Didaquê; não inculca prática relativa à hierarquia eclesiástica como está no documento; não tem o costume de jejuar em certos dias da semana, ou antes do batismo, pois não possuem um ritual prescrito formal como está na Didaquê e etc. Enfim, com algumas exceções, levando em consideração as variações que há na doutrina nas diversas denominações, o que o Protestantismo prega em essência não condiz com o que está expresso na Doutrina dos Dozes Apóstolos.

É inegável que a Igreja Católica continua a ensinar o mesmo que esse antigo documento, o Catecismo do primeiro século, está ensinando. A Igreja Católica Apostólica Romana ensinava no primeiro século o mesmo que ensina hoje.[1]

Gledson Meireles.


[1] Texto da Didaqué: http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/o-didaque-instrucao-dos-apostolos.html.

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