domingo, 31 de março de 2024

Estudo do Apocalipse 2, 1-17

Feliz Páscoa a todos.

 

Apocalipse 2

Jesus tem os sete candelabros em Sua mão direita. Isso mostra que todas as igrejas citadas são Suas, estão sob Sua autoridade. De fato, o número sete é simbólico, e indica a totalidade da Igreja. Mesmo que no historicismo, onde cada Igreja representaria uma determinada fase história da Igreja, cada uma representa a Igreja inteira.

Na interpretação adventista, a Igreja de Éfeso simbolizaria a Igreja do período até o ano 100 ou até a morte do último apóstolo.

É preciso notar que devemos acompanhar a Igreja em todas as suas fases, olhando para o lugar correto, e não confundindo elementos. Então, a Igreja de Éfeso, na era apostólica, simbolizaria a Igreja inteira desse período, e não uma só comunidade literal e histórica.

Desse modo, a Igreja desejável, pois ainda está no período onde os apóstolos vivem. A revelação está acontecendo, a Bíblia está sendo escrita para o fechamento do Novo Testamento, e os apóstolos e bispos por eles ordenados estão pregando o evangelho em toda parte. São Pedro é o primeiro papa. Após 64 d. C. sucede o papa Lino. Até o fim do século, governa a Igreja o papa Evaristo (97 d. C. a 105 d. C.) Temos assim, no período apostólico, cinco papas. Todos foram mártires da fé.

A doutrina pura da Igreja era espalhada em todos os lugares. E Cristo está entre os candelabros que são as sete Igrejas. Então, Cristo está na Igreja de Éfeso, está em toda a sua fase, guiando-a pelo Espírito Santo.

Naqueles tempos existiam heresias, como a dos nicolaítas, que certamente eram cristãos que pregavam um relaxamento moral, contra a doutrina apostólica, contra a doutrina oficial da Igreja, mas não havia ainda divisão séria entre os cristãos. Assim, devemos olhar para a Igreja de Éfeso como a representante dos verdadeiros cristãos, e os nicolaítas como cristãos hereges.

Quando se diz que a Igreja no período apostólico testava os falsos apóstolos, investigava seu caráter e descobria quem eram os mentirosos, isso indica a autoridade dos apóstolos, bispos e presbíteros daqueles tempos.

De fato, quando surgiu a questão sobre a circuncisão, por volta do ano 49 d. C., como deveria ser considerada pela Igreja, foi necessário um Concílio, onde participaram os apóstolos e os anciãos, e que teve autoridade sobre todos os cristãos da época, e a mensagem foi levada a outros lugares através da carta conciliar.

Outro exemplo, desse período histórico, na igreja de Corinto surgiu um cisma, e o papa Clemente (88 d. C. a 97 d. C.), que era o bispo de Roma, escreve a essa comunidade, entre os anos 93 e 97 d. C. Foi um ato do magistério papal em fins do século primeiro.

É o modo da Igreja Católica resolver questões de fé, pelo seu magistério autêntico, estabelecido por Jesus Cristo.

Assim, o anjo da Igreja é o bispo local. Contudo, considerando a interpretação historicista, onde Éfeso representa toda a Igreja entre a ressurreição de Jesus até o ano 100, temos que o anjo simboliza todas as autoridades desse tempo, sendo o ministério do período apostólico.

A Igreja de Esmirna é a Igreja Católica da fase da perseguição. Durante esse período, considerado pelo adventismo como indo do ano 100 até 323 d. C., a Igreja passou por diversas perseguições no Império Romano, onde morreram milhares. Tertuliano chegou a dizer que o sangue dos cristãos era como uma semente, pois a Igreja crescia cada vez mais. Enfrentadas foram várias heresias, muitas controvérsias, mas o magistério manteve o depósito da fé intacto.

O texto sagrado fala dos falsos judeus. Isso indica que os verdadeiros judeus são aqueles da promessa, da circuncisão do coração. De fato, essa interpretação está correta. Como disse o papa Pio XI: somos espiritualmente semitas. Aqueles que se declaram judeus e não são, na Igreja de Esmirna, considerando sua fase local histórica ou como período de séculos (100 a 323 d. C.), simbolizam os hereges daqueles tempos. Outra vez, a Igreja de Esmira é a Igreja Católica desse período, e os falsos judeus são as heresias.

Fiel até à morte. E há uma promessa aos cristãos e Esmirna: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Essa coroa pode ser da, de fato, no estado intermediário, já que os anciãos, que são os santos do céu, estão com coroas na cabeça. Essa leitura é correta. Mas, há a coroa da justiça (2 Tm 4, 8) que será dada na ressureição, como simbolizado o galardão.

Tribulação de dez dias. Interpretação interessante, considerando a perseguição de Diocleciano, entre 302 a 312 d. C., perfazendo dez anos.

A recompensa do vencedor. E um fato que os cristãos entendiam as promessas de Cristo já em cumprimento na morte. Os mártires já estavam no céu.

A IASD acredita que somente na ressureição essa promessa seria cumprida. Mas não. Os santos já estão na glória, já participam do Reino dos Céus, e já está participando do julgamento do mundo (cf. 1 Cor 6, 2).

Esmirna – mirra, igreja do tempo da perseguição. Essa interpretação é curiosa e é bastante coerente com a doutrina católica, se se considerar os pontos observados segundo a são doutrina.

A Igreja Pérgamo simbolizaria o período de 323 d. C. até 538 d. C. Aqui teria havido influências maléficas, onde “erros e males começaram se infiltrar na igreja”.

O leitor que acompanha desde o início está observando que se trata da mesma Igreja Católica, desde os dias de Jesus Cristo até o ano 100 d. C., depois até 323 d. C., e agora até 538 d. C. Teria ela mudado de figura e agora não era mais Igreja de Cristo?

Pérgamo significando altura, elevação. O texto adventista afirma que “os verdadeiros servos de Deus” precisaram lutar contra os erros desse tempo. E justamente isso foi o que a Igreja Católica fez.

Assim, é preciso notar que esses servos eram a própria Igreja Católica desse período, com sua hierarquia, seus papas, bispos, presbíteros, agindo através de seus sínodos, concílios, doutrinas, liturgia, etc. Aliás, já em 325 d. C. dois anos depois, acontece o Concílio de Niceia, com a Igreja já em liberdade no Império, podendo realizado o concílio convocado pelo Imperador, autenticado pelo papa Silvestre. Esse concílio defendeu a doutrina da divindade de Jesus contra as heresias.

Nesse período foram realizados os Concílios de Niceia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451).

Se pelos critérios adventistas, a Igreja nesse período caiu em heresias, e “cristãos” tiveram que “lutar contra um espírito de práticas, orgulho e popularidade mundanos entre os professos seguidores de Cristo e contra a operação virulenta do mistério da iniquidade, que resultou, por fim, no desenvolvimento do homem da iniquidade papal.”, onde estavam esses “servos de Deus”? Eles já haviam se separado da Igreja Católica, que agora não era mais ilegal no Império, e que havia sido libertada pelo Edito de Milão em 313 d. C.?

Ou eles ainda estavam dentro dela, e participaram dos concílios acima mencionados, que defenderam a fé cristã a todo custo?

Se eles estavam fora da Igreja, certamente não poderiam ser os verdadeiros servos de Cristo, pois não estariam lutando pela verdade nos concílios, contra o arianismo, nestorianismo, etc. Se eles eram os próprios arianos, etc., então está respondido que não são a Igreja fundada por Jesus.

A outra possibilidade é que eles estariam dentro da Igreja ainda. Então, estariam lutando pela conservação da fé cristã original contra as heresias citadas, e estavam fazendo isso em união com o papado, pois a forma ordinária da Igreja para resolver essas questões é o Concílio Ecumênico, que só é validado pelo papa, em comunhão com os bispos. Sendo assim, esses servos de Deus eram católicos fieis, e disso não temos dúvidas. Portanto, ou o leitor é convencido de que a Igreja Católica permanece fiel em todos os períodos, como nesse em consideração, e que a interpretação adventista está equivocada, por não adequar-se ao texto sagrado do Apocalipse 2, 12-17, e contam com essas incoerências doutrinais e históricas.

Se esses cristãos reconhecidamente verdadeiros eram a Igreja Católica, então sabemos que criam em Cristo, na sua divindade, na trindade, na maternidade divina, e cultuavam os mártires, os santos, a Maria, e celebravam a missa, e rezavam pelas almas, etc. Todos esses participam ou estavam de acordo com as decisões conciliares. Se os cristãos aludidos como “servos de Deus” que lutaram contra as iniquidades, estavam fora da comunhão católica, então estavam entre os arianos, nestorianos, simbolizados pelos balaítas, nicolaítas, e etc. Então não participaram de nenhuma das grandes defesas das doutrinas bíblicas dos concílios, e não podem ser os fieis servos de Deus.

Onde está o trono de Satanás. Segundo o adventismo a Igreja foi corrompida nesse período. Isso já foi provado falso. Aqui teria sido lançado os fundamentos do papado. Mas, como visto antes, desde os tempos de Cristo há papas, que são os bispos de Roma, que exercem poder espiritual na Igreja, e são simbolizados pelo anjo de cada Igreja.

Falando à Igreja de Pérgamos, então, que é interpretada como sendo a igreja do período de 323 a 538, Jesus afirma que ela conserva o Seu Nome de não negou a fé. Portanto, não foi corrompida.

Dessa forma, Antipas, que é uma fiel testemunha morta no primeiro século, certamente, e que simboliza os que foram mortos nesse período, para fins de melhor entendimento da interpretação historicista, essa testemunha não pode ser um “anti-papa”, como quer fazer entender a IASD com essa interpretação. E os motivos serão dados a seguir.

De fato, assim sendo, teria havido uma saída da Igreja Católica de muitos católicos, após o ano 323, e se tornaram antipapas, e foram perseguidos pela Igreja. Os que desertaram, ou seja, os que apostataram da fé oficial, seriam esses os “verdadeiros” cristãos, segundo esse entendimento. Porém, isso não faz sentido.

Como visto, pois o Senhor Jesus está na Igreja (entre os candelabros), não permite que ela caia (conforme promessa de estar com a Igreja sempre, cf. Mt 28, 19-20), e o texto afirma que Esmirna finalmente “conservas o meu nome e não negaste a minha fé”, e que Antipas foi morto entre vós, ou seja, em Pérgamo, e em comunhão com a Igreja.

Voltando ao texto do Apocalipse, vemos que dentro da Igreja havia os que sustentavam a doutrina de Balaão, e outros adeptos da doutrina dos nicolaítas. Esses são os que simbolizam a heresia desse período. Portanto, a Igreja de Pérgamo é símbolo da Igreja verdadeira, e os que sustentam a doutrina de Balaão e os que sustentam a doutrina dos nicolaítas são os hereges.

Antipas é servo fiel, unido a Pérgamo, portanto, fiel católico.

Dessa forma, não cabe no texto a interpretação de que a Igreja tenha sido corrompida. O cenário não é: a igreja de antes (desde Cristo a 323) tornou-se corrompida por erros, e passou a perseguir os sinceros servos de Deus que dela saíram, ou que ensinavam contra sua doutrina oficial. Essa interpretação encontra refutação teológica e histórica.

Pois, nesse texto, os que seguem a doutrina de Balaão e a doutrina dos Nicolaítas são os que estão contra a doutrina pregada na Igreja de Pérgamo. Por isso, é fácil concluir que a iniquidade não está na Igreja que adentra esse período, mas em grupos que estão dentro dela e que são denunciados como “os que sustentam a doutrina de Balaão” e os que “sustentam a doutrina dos nicolaítas”. Jesus não destitui a Igreja, mas a exorta a que lute contra essas heresias citadas.

Essas doutrinas certamente eram idolatria espiritual, uma conexão ilícita entre a aqueles cristãos (e não a Igreja em geral) e o mundo. Assim, temos a correção: a Igreja de Pérgamo (Católica), de 323 a 538, lutou contra heresias (de Balaão e dos Nicolaítas). Ela é mostrada como fiel, e é exortada por Jesus.

Em nenhum momento é dito que ela se juntou ao poder civil, como algo pecaminoso, coisa que teria dado origem ao papado. Primeiro, porque a união com o poder civil não é mau por natureza, mas pode trazer benefícios e malefícios. Segundo, o papado é de origem divina, religiosa, e não de origem política. Essa interpretação não coube no texto da carta à Igreja de Pérgamo.

Voltando a olhar a partir da correta perspectiva, quando o autor afirma, da Igreja “Disciplinando ou excluindo aqueles que defendem essas doutrinas perni­ciosas.”, deve-se entender da autoridade legítima da mesma Igreja oficial, que vem sendo considerada, desde os dias de Jesus até o ano 100, até 323, até 538. Não houve mudança de Igreja, não houve destituição, não houve tirada de candelabro.

Dessa forma, se Antipas simbolizasse grupos que se voltaram contra a Igreja oficial, deveria ser mostrado em ação contra Pérgamo, e não como membro fiel.

Ainda. Os cristãos que teriam se separado da Igreja de Pérgamo deveriam disciplinar ou excluir os infieis dos quais eles haviam se separado. Algo estranho.

Antipas é uma testemunha que foi martirizada em Esmirna, membro daquela Igreja fiel. Pérgamo e Antipas estão de um lado, os de Balaão e dos nicolaítas de outro. Portanto, o magistério católico autêntico está em Pérgamo.

Gledson Meireles.

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