Apocalipse
12 – A Igreja Católica
No
livro adventista foi usado o título A Igreja evangélica, o que pode levar o
leitor a pensar no protestantismo como sendo a verdadeira Igreja. De fato, a
Igreja Católica é a igreja original, e o estudo do Apocalipse mostra isso de
forma suficiente.
Os
símbolos são explicados pelos adventistas da seguinte forma: uma mulher: a
igreja verdadeira. Então a mulher corrupta é a igreja falsa. O sol é a
dispensação evangélica, ou seja, a dispensação cristã. A lua é a antiga
dispensação mosaica. A coroa de 12 estrelas são os apóstolos, o Dragão é Roma
pagã, o céu é o lugar da contemplação, que é o céu físico e visível, não a
morada de Deus.
O
único problema aqui, o mais importante, é que o próprio capítulo doze deixa
claro, de forma cabal, que o Dragão é a antiga serpente, o Diabo, Satanás. Esse
é o espírito enganador, adversário, o anjo caído. Dessa forma, não se pode
afirmar que o Dragão é Roma, pois a Bíblia afirma que é Satanás, um ser espiritual
e inteligente, e não o império romano.
É
certo que partindo disso pode-se afirmar, como fez Vitorino no século terceiro
e quarto, afirmando que as sete cabeças do Dragão são os sete reis de Roma.
Assim, parte-se do princípio de que Roma pagã tem o poder do Dragão, e não que
se identifica com o Dragão.
O
período de gravidez da mulher seria o momento em que a Igreja esperava o
Messias, até o desenvolvimento pleno com a coroa dos doze apóstolos. Mas tal
interpretação, que é válida, não faz todo o esforço para entender o texto.
Em
primeiro lugar, a mulher, o filho da mulher e o dragão são seres individuais e
não instituições. De fato, o Filho é Jesus. A mulher é claramente a Sua mãe. E
o Dragão é inequivocamente Satanás.
Somente
a partir dessa realidade é que se pode entender em Maria também a figura da
Igreja, em Cristo o rei com Seu reino, e no Dragão o espírito de Satanás com as
forças diabólicas. Dessa forma, a mulher é a virgem Maria, algo que todo o
Protestantismo tende a negar.
As
duas dispensações, a mosaica e a cristã, são entendidas no adventismo como a
lua e o sol. É magnífica essa interpretação, bastante saudável para a fé. No
entanto, deve-se ver, como acima foi indicado, a virgem Maria sobre a lua,
vestida do sol, com coroa de doze estrelas. Portanto, como a rainha da antiga e
da nova aliança com a luz da graça recebida de Jesus Cristo seu filho.
Em
Maria, a mulher, também a Igreja está acima da dispensação mosaica que
terminou. Também, com Maria, a Igreja está revestida do sol de Cristo, o sol
evangélico. Aqui vemos a santidade de Maria, membro primeiro da Igreja, que
brilha com a luz do sol de Jesus Cristo, e que anuncia a santificação da Igreja
inteira que há de se efetuar no fim. Depois de Cristo, Maria é o membro da
igreja que por sua união singular com Ele, já recebe as glórias que a Igreja
receberá. É preciso ver que a virgem Maria é o significado primário do texto, e
a Igreja é o secundário.
“A terça parte das estrelas do céu”.
Essas estrelas seriam uma parte dos governantes judeus antes da era cristã.
Isso se faz ao pensar que os apóstolos são as 12 estrelas da coroa da mulher.
Mas, devemos entender que essas estrelas que são varridas pelas cauda do Dragão
são do céu, o que simboliza anjos, já que se diz que elas foram lançadas à
terra. Isso mostra que antes não eram da terra.
Não
desfaz o sentido que o adventismo traz como governantes seduzidos pelo mau. No
entanto, Satanás enganando anjos do céu é a cena mais adequada que o Apocalipse
está trazendo nessa visão. O texto de Ap 8, 12 apresenta outro sentido para
sol, lua e estrelas não cabe tão certamente aqui. Ali traz o sentido literal,
de sol, lua e estrelas sendo ofuscados para não brilharem. Trata-se dos astros
nessa visão. Em Apocalipse 12 o sol, a lua e as estrelas são símbolos espirituais.
De
fato, o dragão é um símbolo e lida com estrelas simbólicas. No entanto, o
dragão é símbolo revelado de Satanás. Assim, as estrelas são de fato anjos.
A
interpretação da Judeia tornando-se província romana em 63 a. C. é curiosa. Mas
não precisa muito esforço para identificar o poder simbolizado pelo Dragão,
pois é o poder espiritual de Satanás.
Se
é claro que “o filho varão representa Jesus Cristo” nascido em Belém, deve
ficar claro que a mulher é Maria e o Dragão já está revelado como Satanás.
Então,
eis que surge uma nova revelação ao continuar a procurar o poder simbolizado
pelo Dragão: “Pois o dragão representa algum poder que tentou destruí-lo ao
nascer”. Esse foi Herodes, governador romano. Portanto, nessa tentativa de
destruir Cristo, esse poder perseguiu a mulher, Maria, que levou Cristo para o
Egito, o deserto. E é preciso notar que o Apocalipse afirma que a Mulher recebe
algo, asas de águia, e também é protegida por um tempo no deserto. Assim, temos
que a mulher é tratada de forma especial com proteção divina. Entende-se a santidade
da mulher nesse tratamento de Deus.
Como o dragão foi interpretado como o império romano, chegando mesmo a Herodes, para o
caso específico, o que é notável a profundidade das figuras das profecias, não
é de se espantar que a mulher vestida de sol que dá à luz o filho varão que
reinará sobre todas as nações seja a santa virgem Maria cheia de graça e glória
de Deus. A sua vestimenta é o sol, a luz resplandecente de Deus. Com certeza,
essa mulher é sem pecado.
A
cena é curiosa por mostrar o nascimento de Cristo e logo após sua ascensão. A
mulher fica na terra e é protegida. É Cristo e a Igreja, como afirma muitos
comentaristas? Sim, mas em primeiro lugar, é Cristo e Maria.
Pelo período de
1260 dias, simbolicamente, entende-se o tempo messiânico em que a mulher tem um
papel na história da salvação.
O
adventismo vê a Igreja no deserto como aqueles que estão fora do catolicismo e
são perseguidos por ele de 538 d. C. a 1798 d. C., como 1260 anos literais. A
história mostra que o papado foi fundado por Jesus sobre Pedro, já tinha seu
desenvolvimento claro no primeiro século, com notável influência no segundo, e
inquestionável poder espiritual na Igreja em todo esse período. Assim, escolher
538 d. C. como “quando o papado se consolidou” é algo que tem sido questionado
mesmo por pesquisadores adventistas.
De
fato, a Igreja é o catolicismo sob a perseguição do Império Romano. A Igreja
apostólica cresceu, a mesma igreja dos apóstolos e profetas, e foi perseguida
por Roma, depois conseguiu liberdade de culto, e por fim foi oficializada como
religião do Império. Ao invés de olhar para os que estão fora da comunhão
católica, naqueles primeiros séculos, a história mostra que se trata da própria
Igreja católica que também está sob a figura da mulher. É fácil perceber isso.
Os
vv. 7-12 são interpretados como a guerra ocorrendo na terra, já que a mulher e
o dragão são vistos no céu, mas são personagens da terra. Assim, Miguel
combateria na terra, e seria a guerra entre Cristo e Satanás. A guerra seria o
ministério de Jesus na terra.
No
entanto, o texto afirma que “nem mais se achou no céu o lugar deles” e que o
dragão “foi expulso” e “atirado na terra”. Então, o dragão não é originalmente
da terra. O texto é claro de que se trata de um lugar no céu onde o anjo Miguel
e seu exército lutaram contra o Diabo. Trata-se de um tempo antes da queda.
Na
interpretação adventista o dragão agora é outro, ainda que em todo o capítulo
não se faça nenhuma diferenciação.
Assim,
o dragão do verso 1 seria Roma e agora é Satanás. Trata-se de uma fraqueza na
interpretação do adventismo que tenta ajustar seus dados à história. O leitor
pode notar que no capítulo os símbolos da mulher, do filho e do dragão
continuam até o fim sem mudança de sentido.
Se
o Dragão é Satanás, então é o mesmo que estava para devorar o filho, que foi
precipitado na terra, e que perseguiu a mulher. Essa perseguição é espiritual,
mas possui seus meios físicos. Assim, o dragão se vale dos governantes romanos
da época contra Jesus e sua mãe e a igreja inteira.
Em
um sentido, o poder espiritual contra Cristo e Maria é o que o texto está
indicando, o que desdobra nas perseguições físicas. Após a ascensão de Jesus,
Maria foi protegida. Assim, também, há proteção da Igreja contra as hostes infernais.
Se
o entendimento da queda de Satanás é de que se trata da perseguição à Igreja e
não da sua expulsão do céu, pois mostra que logo que viu sendo expulso passou a
perseguir a mulher, no v. 13, essa dificuldade de desfaz pelo que já foi dito
acima, onde o filho nasce e imediatamente é levado ao céu. Na história, porém,
a subida de Jesus ao céu foi muito tempo após o nascimento em Belém, quando já
estava adulto. Dessa forma, Satanás expulso para a terra na guerra do céu, é
mostrado agora na perseguição da Igreja.
Notemos
que o Apocalipse 12 inicia com a visão do céu: “um grande sinal no céu: uma
mulher...”. E segue: “Depois apareceu outro sinal no céu: um grande dragão
vermelho”. Tudo está no céu, a mulher e o dragão. Assim, é mostrada a guerra e
a precipitação de Satanás e “os seus anjos”, o que simboliza o mesmo que está no verso 4: Varria com sua cauda uma
terça parte das estrelas do céu...”. O texto é amplo em sentido, e mesmo
aludindo à guerra que houve no céu há milênios, também fala da vitória de
Cristo pela cruz e ressurreição. Trata-se de mostrar o tempo do dragão, que é
limitado.
Para
o adventismo a igreja fugiu para o deserto em 538 d. C. Mas o texto afirma que
logo após a ascensão isso aconteceu. O que se deu com a virgem Maria? O que
aconteceu com os apóstolos e primeiros cristãos após a ascensão? Como
seguidores de Jesus, foram perseguidos.
As
palavras “Agora, veio a salvação” podem ser entendidas como a salvação pela fé,
como garantia, mas temos de fato redenção e vida eterna, pelo conhecimento de
Deus e pela possibilidade de estar com Cristo no céu como estão as almas dos
fieis mortos.
Então
afirma o verso 13: “Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra,
perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão.” Está pois provado que se
trata do mesmo dragão do verso 4.
O
diabo teve grande ódio contra a virgem Maria após ver-se derrotado após Jesus
Cristo ressuscitar e subir ao céu. Mas ela foi protegida por Deus. Assim,
passou a perseguir “a igreja que Cristo havia fundado”, como afirma Uriah
Smith.
Ele
frisa o fato da mulher fugir para o deserto, afirmando que a Igreja estava no
deserto, em “estado de reclusão, fora do olhar público, e ocultamento dos
inimigos”. Mas isso lembra em especial o ocultamento da virgem Maria naqueles
anos, pois a Igreja estava em pleno desenvolvimento.
Afirmar
que a Igreja oficial “não era a igreja de Cristo” é fazer um salto para fora do
texto. De fato, há detalhes que o comentarista não trata, como a de que os
descendentes perseguidos são filhos
da mulher. Dessa forma, essa mulher é mãe da Igreja. Essa conclusão parte da
leitura natural dos símbolos apresentados na visão.
Basta
olhar apara a história e ver a Igreja em sua missão e evangelização de todo o
mundo conhecido, dentro do Império Romano, sofrendo duras e sangrentas
perseguições, ensinando, convertendo nações, defendendo a fé por meio de
pregações, escritos, concílios. Se a Igreja fugiu em 538 d. C., deveria ter
sido essa. Mas, se foram minorias que pregavam ideias bastante desconexas e não
participavam do crescimento do evangelho de forma a caracterizar a Igreja
apostólica em desenvolvimento, então trata-se daqueles que não eram dos nossos,
para usar a frase de São João.
As
asas de águia que a Igreja recebeu lembram o momento em a virgem Maria fugiu
apressadamente com Jesus, sob os cuidados de José, para o Egito. Essa foi de
fato a pressa com a qual precisou fugir. A pressa de Maria. Depois, vemos a
Igreja Católica sendo perseguida pelo Império. Basta ver quantos bispos de Roma
(papas) foram mortos desde São Pedro.
E
quanto as águas da boca da serpente, o adventismo afirma que são as falsas
doutrinas do papado. Contudo, onde estão as doutrinas “corretas” que estavam
escondidas com a igreja oculta no deserto? Não foi a Igreja oficial, católica,
que ensinou, pregou, batizou, criou nações, defendeu a fé, alcançou
misericórdia de Deus ao dar a ela liberdade de culto e ter as perseguições
diminuídas? Não foi essa igreja que copiou a Bíblia, que a traduziu, que
preparou edições para a liturgia, para assim garantir o ensino a todos? O papel
dos hereges, daqueles que se revoltavam contra a igreja, em suas pregações,
traduções da Bíblia, escritos, etc, estão circunscritos a pequenos espaços de
tempo, a divisões marcantes, a doutrinas desconexas e errôneas, de modo que não
podem ser historicamente uma igreja, mas grupos divididos que se separavam da
Igreja Católica.
A
terra “socorreu a mulher” poderia ser uma alusão posterior ao Império Romano
aceitando a fé cristã? É possível. Mas o adventismo prefere ver esse tempo
relativo ao século dezesseis com a Reforma Protestante, que começou a fazer seu
trabalho contra o Catolicismo. Martim Lutero falou respeitosamente do papa,
embora já criticasse os abusos cometidos em seu tempo. Chegou, porém, mais
tarde, a comparar o papado com o Anticristo, o que foi um exagero seu. Sua
doutrina foi forjada em muito de sua subjetividade com seus íntimos dramas, que
encontrou certos consolos em seus estudos bíblicos. Porém, continuou seus
conflitos mesmo após ter deixado a igreja por anos.
Quando
o povo pautou sua consciência “apenas pela Palavra”, deixando o Catolicismo, a piedade diminuiu, o
fervor foi se apagando, a religião protestante dividiu-se mais e mais, e Lutero
viu que sob o papado havia mais devoção. De fato, a consciência estava sendo
forjada apenas pelas leituras muitas vezes errôneas da Palavra, e não pela Palavra de Deus.
O
comentarista adventista afirma: “Os defensores da fé verdadeira se
multiplicaram”. Isso porque pensa que todos aqueles que atacavam Roma estavam,
de certa forma, com melhor luz e entendimento.
Embora Lutero aceitasse em maior
grau as doutrinas antigas da Igreja, isso era visto como um menor nível de
reforma. Assim, Zwínglio foi mais longe ao negar pontos essenciais da fé católica,
como fez também Calvino, Melanchton, Bunyan, Knox, Whitefield, Fletcher, Miller
e tantos outros. Dividiam-se, embora unidos em certos pontos, como não é de
surpreender. O que fica patente é que não se pode negar que a Igreja mantém a
mesma fé, não tendo que de acomodar às críticas e novidades surgidas, mesmo
após cinco séculos, de modo que as mudanças não interferiram na essência da
doutrina cristã católica, a ponto de seus adversários muitas vezes afirmarem
que Roma é sempre a mesma, ainda que o façam em sentido bastante pejorativo.
De
fato, a Igreja Católica Romana é sempre a mesma, sempre ensinando o evangelho
eterno de Jesus Cristo. E o comentário segue afirmando que a Igreja Católica,
“a fúria papal” foi destituída de fazer mal à igreja. Que igreja? Os que saíam
do catolicismo, como Lutero e tantos outros. Todos estavam corretos e a igreja
oficial errada? É o que esse conceito de reforma assume, o que não passa em
qualquer escrutínio bíblico e histórico.
Então,
afirma que a terra ajudou a mulher. Mas temos que desde os tempos apostólicos a
terra ajuda a mulher, como fez quando José, Maria e Jesus fugiram para o Egito.
Como também quando muitos ajudaram os primeiros cristãos perseguidos, até o
nível do próprio império que cedeu à força de Cristo agindo na Igreja durante
séculos e tornou-se ele mesmo cristão, membro da cristandade.
Os
descendentes da mulher são “os indivíduos que constituem a igreja verdadeira”. Se
a mulher é a Igreja e os descendentes é a Igreja do fim, então teríamos a
Igreja mãe da Igreja. Mais concordantemente com o capítulo, a mulher Maria é
mãe da Igreja.
Mas
o remanescente não apenas no tempo imediatamente final, antes da Parusia, mas o tempo de toda a
cristandade, desde a ressurreição, de modo que todos os cristãos são os
descendentes da mulher, desde os dias apostólicos.
E
o remanescente tem como característica guardar os mandamentos de Deus. Todos
sabem que a Igreja Católica é o primor de exemplo no ensino do Decálogo. Não há
no Protestantismo qualquer igreja que tenha o decálogo em tão grande apreço,
com tamanha ênfase. Somente os adventistas, surgidos no século dezenove,
aprenderam mais a respeito da Lei e têm os mandamentos como uma de suas ênfases
principais. Por isso, como os católicos, são acusados de ensinar a salvação
pela Lei. Não são os cristãos católicos sempre acusados de ensinar salvação por
obras? Isso deve-se ao fato de sempre estarem firmes na guarda dos mandamentos
de Deus e do testemunho de Cristo.
O
adventismo tem assim a roma pagã, a roma cristã (papal), a besta de dois
chifres, o governo influenciado pelo Protestantismo, agentes contra os que
guardam os mandamentos, ou seja, em especial os adventistas.
Contudo, temos na
história desde os dias dos apóstolos, que Satanás se valeu da Roma pagã e de
tantos outros impérios e reinos para subjugar a Igreja Católica, incluindo as
mãos dadas ao renascimento, ao Protestantismo, ao humanismo, ao iluminismo,
etc., contra o Catolicismo. E, é destaque, que o adventismo, de raízes
batistas, enfatize os governos e suas investidas contra a Igreja. Aliás, a
Igreja Adventista do Sétimo Dia tem atitude anti-católica extrema,
compreensível por suas origens denominacionais e pelo século em que surgiu, e
refutada nessa interpretação do apocalipse.