O Salmo 69 é messiânico. Isso significa que ele trata da Pessoa de Cristo, do Messias. Dessa forma, podemos aprender muito de Jesus ao ler esse Salmo. No entanto, é preciso entender uma coisa básica, e que é esquecida por muitos teólogos protestantes.
A questão é que por ser um salmo messiânico, isso não quer dizer que todas as afirmações contidas em cada verso do Salmo se aplicam a Cristo. De fato, são apenas algumas porções do texto sagrado que referem-se a Jesus, e não o salmo inteiro.
Para ficar mais claro, basta ler o verso 2, e verá que não fala de Jesus: Salvai-me, ó Deus porque as águas me vão submergir. Só uma
interpretação bastante metafórica pode ver alguma aplicação para a vida de
Jesus nesse verso.
O verso 3 diz: Estou imerso num abismo de lodo, no qual não
há onde firmar o pé. Vim a dar em águas profundas, encontrem-me as ondas.
O verso 6 é ainda mais
enfático: Vós conheceis, ó Deus, a minha
insipiência, e minhas faltas não vos são ocultas. Jesus não era insipiente,
não tinha faltas. Portanto, esse verso absolutamente nada tem a ver com Jesus Cristo.
Da mesma forma, tantos
outros versos não se aplicam a Jesus. Como o verso 9, que diz: Tornei-me um estranho para meus irmãos, um
desconhecido para os filhos de minha mãe. Jesus foi incompreendido por Seus
parentes, chamados “irmãos” nos evangelhos, mas não tornou-Se desconhecido
deles.
Também, esses não eram
filhos de Maria, que só teve um filho, Jesus. Por essa razão, o Novo Testamento
não usa esse verso para falar de Jesus, nem mesmo quando São João escreve, no
capítulo 7, que os irmãos de Jesus não criam nEle. Seria hora apropriada de
lembrar uma profecia, se essa fosse relativa a Cristo, mas não era. O motivo do
versículo não ser aplicado a Jesus nos evangelhos é notório: Jesus era filho
único.
Interessante, que o
verso 10 é usado por São João para falar de Cristo: É que o zelo de vossa casa me consumiu, e os insultos dos que vos
ultrajam caíram sobre mim.
Assim, quando os
protestantes lembram-se dessa passagem para aplicar a Cristo estão fazendo algo
que o contexto bíblico não permite fazer.
Outra questão
importante é que a teologia bíblica faz aplicações de passagens de uma porção
da Escritura a determinada pessoa, sem necessidade de que o contexto original
esteja conectado a isso.
Com isso em mente,
temos que os padres da Igreja interpretam várias passagens bíblicas como referentes
a Maria, e à Igreja de forma geral, segundo o modelo bíblico referido acima. É
o fundamento bíblico posto em prática pelos intérpretes da Igreja.
Dessa forma, os
Cânticos 4, 7 falam de Maria. “És toda
bela minha amada, e não há mancha em ti.”
Essa passagem fala da
Igreja, conforme Efésio 5, 27, pois Deus purifica a Igreja e a levará à total
santidade para entrar no céu. No entanto, há uma pessoa feminina na qual a passagem
tomou forma e cumpriu-se: a virgem Maria. Ela é toda bela, amada de Deus, e não
há mancha nela. Ou seja, não há pecado. Por isso a imaculada conceição.
Como a Igreja será toda
pura, não terá pecado quando estiver para sempre no céu, Maria já recebeu a
graça desde sua criação.
Isso não quer dizer que
todas as passagens dos Cânticos dos Cânticos devem falar de Maria, nem que
todos os versículos do capítulo 4 devem falar de Maria, mas que essa verdade aí
contida, no verso 7, é uma verdade espiritual que aplica-se perfeitamente a
ela. É assim que se faz teologia.
Gledson Meireles.
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