quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Idolatria

A idolatria é pecado. Muitos pensam saber o que é idolatria, e pensam também que o uso de imagens pelos católicos é idolatria.
 
Há quem afirme que constroem-se basílicas para guardar imagens, que as imagens são poderosas, que recebem sacrifícios e etc., coisas que nenhum cristão católico sequer pode acreditar. E ainda: afirmam que foram católicos!
 
Se foram católicos e acreditavam nisso, eram idólatras mesmo, e por isso quando perceberam que isso era idolatria, deixaram a Igreja.
 
 
 
Gledson Meireles.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Santo Natal

Celebremos o Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador. Que Ele habite nossos corações, nosso espírito. Só Ele é o Senhor, o Redentor, o Salvador. Aleluia!
 
NASCEU-VOS HOJE UM SALVADOR, QUE É O CRISTO-SENHOR, NA CIDADE DE DAVI.
 
GLÓRIA A DEUS NO MAIS ALTO DOS CÉUS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS QUE ELE AMA! (Lucas 2, 11.14)
 
 
Gledson Meireles.
 
 

sábado, 22 de dezembro de 2018

Maria mãe dos cristãos

1) Por que os protestantes não consideram Maria como mãe?

2) Por que você protestante, não consideraria Maria como mãe pelo menos a exemplo do apóstolo João?

3) Que base bíblica você protestante tem para não ter Maria como mãe?

4) Você acha que rejeitar Maria como mãe é o sentimento cristão mais natural?

5) O ministério de Maria só foi apenas gerar Jesus é acabou ali?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Estudos sobre o purgatório

O que é o purgatório?

Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu (CIC, 1030).

A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao Purgatório sobretudo nos concílios de Florença e de Trento (CIC, 1031).

Em primeiro lugar deve-se perceber que o purgatório é para os que morrem “na graça e na amizade de Deus”. Eles são “seguros da sua salvação eterna” (ênfases acrescentadas). 

Quanto à formulação doutrinal, o Catecismo explica que aos poucos foi sendo desenvolvida a fé nessa realidade, principalmente nos Concílios de Florença (século 15) e de Trento (século 16).

Vê-se, assim, que o purgatório não é para condenados, e não constitui condenação. Do mesmo modo, não é segunda chance ou meio adicional para conseguir a entrada no céu. Essas ideias, comumente retratadas nas críticas protestantes, não estão na Bíblia nem no Catecismo.

O que a Igreja ensina está no que foi citado anteriormente (CIC, 1030-31). Dessa forma simples pode-se compreender a doutrina do purgatório.

Porém, para fins didáticos segue-se uma crítica análise da doutrina, a partir da compreensão da Sagrada Escritura, diante das objeções protestantes.
 
A Bíblia Sagrada é o fundamento pelo qual a doutrina será demonstrada, e realizadas as refutações das principais objeções.


A posição protestante apresentada por Dave Hunt

É conhecida a controvérsia entre cristãos católicos e protestantes a respeito do purgatório. Nesse tópico será estudado o tema a partir do ríspido ataque de Dave Hunt.
Analisando a argumentação de Hunt, contra a doutrina cristã do purgatório, pode-se relativamente resumir do seguinte modo:
Cristo tornou possível o perdão dos pecados pelo Seu derramamento de sangue em sacrifício na cruz, já que sem derramamento de sangue não há perdão (Hb 9,22)[1]. Assim, pagou e purgou todas as culpas, tirando o salário do pecado, que é a eterna separação de Deus, a morte (Rm 6,23).
Deus realizou a purgação, que é possível pela fé somente, e realizada no coração pela graça. Somente alguém sem pecado pode oferecer o sacrifico para purgar o pecado. Por isso, somente Cristo pode purgar o pecado, não restando razão de desejar ganhar o perdão através do sofrimento ou qualquer obra.
Tal pensamento seria uma negação blasfema contra o sacrifício completo de Jesus Cristo, pois faria do sacrifício apenas o alcance do perdão, mas, não da purgação do pecado. Desse modo, não é possível sofrer para remir penas, e não é mais necessário o pecador perdoado sofrer por causa do pecado, pois, Cristo pagou a pena completa exigida pela justiça de Deus.
A prova do livro de Macabeus, continua a crítica do autor, não é aceita por se tratar de contradição com a doutrina bíblica de que após a morte vem o julgamento, e assim não há motivo da oração pelos mortos; pelo fato dos Macabeus terem cometido idolatria e estarem condenados; por se tratar de livro sem inspiração, escrito num tempo em que não havia profeta em Israel.
 Além do mais, se as Missas e obras feitas em favor das almas no purgatório podem auxiliá-las, então, o sofrimento não seria necessário de forma alguma, já que pode-se dele ser tirado, por missas, indulgências e sacrifícios de outros cristãos, algo que a cruz de Cristo não pôde realizar, mas que outras maneiras, como a repetição do Seu sacrifício pode, tornando-se clara e fatal contradição.
Esse resumo está fundamentado nos argumentos expostos no Apêndice A: “Purgatório”, no livro “The Woman Rides the Beast”, de Dave Hunt, escritor anti-católico nos Estados Unidos.

Nesse argumento há algumas incompreensões: em primeiro, a justiça de Deus requer o castigo do pecador. Uma vez salvo, o pecador torna-se filho, e não está mais em condenação (Rm 8,1).

Entretanto, a justiça divina permanece, e assim que o filho pecar, o Pai o castigará para discipliná-lo, o que é parte do processo de santificação (Hb 12,1-5).

É nesse aspecto que entra a questão do purgatório, na santificação. O purgatório não é “condenação”, mas uma disciplina final de Deus para que o salvo entre no céu.

O sofrimento é parte da disciplina, e por isso os cristãos podem interceder em favor das almas santas, cumprindo assim a justiça de Deus, e crescendo eles mesmos em santidade, no Espírito Santo.

É dessa forma que há orações pelas almas, e o santo sacrifício da Missa é rezado por elas.

De fato, somente no sacrifício de Cristo é que se torna possível interceder uns pelos outros, e somente por Ele é que há perdão dos pecados e das penas. Somente Cristo nos dá o Espírito de Deus.

Sendo assim, orações, esmolas, indulgências e missas estão no rol dos exercícios espirituais inspirados na Bíblia, e que somente em Cristo têm o seu valor.

Cristo morreu por nossos pecados, e uma vez salvos, somos livres dos pecados e das penas. No entanto, como continuamos com as consequências do pecado, por vezes tornamos a cair, e por isso, ainda que obtemos o perdão assim que nos arrependemos e confessamos, as penas requeridas por Deus para ser expiadas com nossa cooperação permanecem.
 

A Igreja sempre pregou o purgatório


Os Atos de Paulo e Teclas (ano 160) mencionam oração para que a alma de Falconilla seja "transferida para o lugar dos justos".

Essa noção é idêntica à do purgatório, em meados do segundo século. Diz-se que Falconilla estava no inferno, e pedia por salvação. Isso seria a influência gnóstica que ensinava a oração pela salvação, heresia do século II. Dessa forma, não poderia servir tal citação como prova do purgatório. (cf. Site Respostas Cristãs.)
 
O Epitáfio de Abercio (ano 190) traz o pedido de oração por sua alma. No Martírio de Perpétua e Felicidade (ano 202) é afirmado que a alma de Dinocrates, que havia recebido orações, estava num lugar separado por um grande intervalo, e que estava em sofrimento. Após um tempo, a alma foi transferida do lugar de castigo. Esses exemplos harmonizam-se com o purgatório.
 
No ano 211, Tertuliano afirma que oferecia-se sacrifício (santa Missa) no aniversário dos mortos (do seu falecimento). Ainda informa que uma viúva orava por seu falecido marido e oferecia sacrifício anual.

São Cipriano (ano 253) escreve sobre a purificação através das torturas por causa do pecado, mencionando o intervalo entre a morte e a ressurreição, ao mesmo tempo em que afirma a fé na entrada na glória imediatamente, sem essa fase purgatorial, aos que já estão santificados: "estar imediatamente coroado pelo Senhor".

São Cirilo de Jerusalém (ano 350) trata da intercessão dos santos, nas quais através de suas orações e súplicas nossos pedidos são recebidos por Deus, e afirma o grande benefício das orações por aqueles cristãos que morreram.

Gregório de Nissa (ano 382) escreve sobre conhecimento que o salvo terá, após a morte, antes de participar da divindade (da vida de Deus) da necessidade da purgação através do fogo purificador.

São João Crisóstomo (ano 392) exorta a oferecer orações pelas almas. Assim, os cristãos dos primeiros séculos criam no purgatório.

A interpretação do Dr. Samuele Bacchiocchi

Mais precisamente, a negação do purgatório é oriunda da Reforma Protestante. Primeiramente, porém, Lutero se opôs aos abusos da doutrina, não à doutrina em si. (cf. BACCHIOCCHI, p. 127). Parece ter abandonado a crença no purgatório por volta de 1530.

O Dr. Bacchiocchi afirma que “a doutrina do purgatório oferece o mais claro entendimento do sistema Católico de salvação como dispensação da sua Igreja” (ênfase do autor).

E, afirma que, para entendê-lo é preciso considerar as doutrinas relacionadas: do tesouro dos méritos, das orações aos santos e pelos falecidos e as indulgências pelos mortos.

De certa forma, o autor está correto em analisar mais amplamente o cabedal de doutrina para melhor compreensão da doutrina do purgatório.

O Dr. Bacchiocchi, citando S. Tomás, compreende que o purgatório faz parte do processo de salvação que se inicia nesta vida. Certamente, ele poderia concordar com essa verdade, mas não o faz por não crer na imortalidade da alma.

Assim, os sofrimentos purificadores são possíveis pela graça. De fato, a alma que se disciplina na graça, pode alcançar de Deus o perdão das penas. E a alma do purgatório ganha esse mesmo perdão das suas penas pelas orações dos santos na Igreja.

Esse princípio bíblico está em conformidade com a doutrina da cruz. São Paulo diz:
Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir (1 Tm 4:8).

O exercício físico é contraposto ao exercício espiritual. O último é proveitoso tanto para a vida presente quanto para a vida eterna. E vida eterna significa a salvação. Portanto, as obras em estado de graça estão no rol da salvação.

Uma correção do pensamento do Dr. Bacchiocchi parece ser necessária, já que o autor afirma, em sua obra, que o perdão, ensinado na Igreja, deve seguir-se aos atos de satisfação, quando na verdade o perdão precede tais atos, que devem ser realizados em estado de graça, ou seja, em Cristo Jesus nosso Senhor e Salvador (cf. p. 131).

O Dr. Samuele continua com a questão: A salvação é um dom divino da graça ou é uma realização humana pelas obras? Essa pergunta ainda reflete um não entendimento do purgatório.

De fato, somente pode ser purificado das penas, ou imperfeições, aquele que está salvo pela graça. Não há exclusão dessa realidade. As penas eternas e temporais são todas remidas por Cristo. No entanto, há casos em que o salvo deve experimentar as penas temporais para o seu próprio bem, como acontece quando pecamos após a justificação.

O purgatório e a imortalidade da alma


Para os que negam a imortalidade da alma, a doutrina do purgatório teria origem da conjunção com essa noção.

Para as objeções fundamentadas nesse princípio, a visão “dualista” seria influência da cultura helênica entre os judeus (e, depois, entre os cristãos) e isso teria dado oportunidade para a adoção do purgatório entre eles.

Tal foi a visão de Harnack, segundo o Dr. Bacchiocchi. E, acredito, sendo Harnack um liberal, esse é mais um exemplo de seus desvios doutrinários.

A inferência de que 2 Macabeus estaria refletindo influência gentílica não é tão simples como pode parecer. De fato, os judeus daquela época (180 a. C. a 161 a. C.) lutavam contra todo o domínio e influência estrangeira, em defesa da religião judaica.

Outro fator, é que não se trata de um ou outro judeu, que teria adotado uma cosmovisão própria do helenismo, como é possível ocorrer. De fato, no livro da Sabedoria, cap. 3, ocorre o termo “imortalidade”, sob influência grega.

No entanto, a concepção está sob o ideal de justiça israelita, onde o termo é usado para veicular uma doutrina judaica.

Portanto, não é um indivíduo aqui e ali que desistiu da resistência ao império pagão do seu tempo, e tenha adotado “inovações pagãs”, mas trata-se do ramo principal do judaísmo da época, em guerra contra as influências externas.

Ainda que os gregos e sua cultura estivessem tão próximos daqueles judeus, que, aliás, escreveram os livros dos Macabeus, e outros, certamente, em língua grega, as semelhanças quanto à crença na purificação dos pecados dos falecidos podem tratar-se de pontos semelhantes entre as duas culturas religiosas, e não exemplos de absorção de doutrinas do helenismo grego.
 

O Dr. Bacchiocchi enumera cinco pontos para analisar o texto contra o uso católico do mesmo. Preparei um resumo, que mostra que suas ideias ficariam mais ou menos assim, seguido das respostas breves:

1)      O livro não é parte do Canon judaico do Antigo Testamento.

Resposta: os judeus aceitavam o livro de Macabeus. A história do Canon indica que por volta do século 2 foi fechado o Canon excluindo livros. Macabeus foi excluído por não estar em hebraico, um dos critérios estabelecidos pelos rabinos.

2)      O próprio relato de pagar para orar e pelo sacrifício em favor dos mortos seria prova da não inspiração do livro.

Resposta: esse raciocino é circular. Dever-se-ia procurar provas contra a doutrina em questão em outras partes do AT.

3)      Os apócrifos não foram aceitos por Jesus e os apóstolos, que não os citaram no Novo Testamento.

Resposta: a história do Canon afirma algo diverso. Não cabe aqui entrar no mérito da questão.

4)      Macabeus 12:42-46 tem em vista a ressurreição, para ganhar mais benções para os mortos no dia da ressurreição, não o alívio dos sofrimentos no purgatório.

Resposta:  as orações e sacrifício tinham o objetivo de pedir a Deus perdão pelos pecados dos mortos. O fundamento é o mesmo do purgatório, ainda que possa haver diferença nos pormenores.

5)      O texto é anti-bíblico por ensinar que os sacrifícios pelos mortos pode redimir seus pecados, o que não está nos preceitos do Antigo Testamento.

Resposta: o texto é do AT e não contradiz qualquer outra passagem do mesmo. O autor não forneceu provas.

O Dr. Bacchiocchi afirma que uma das razões para rejeitar o purgatório é que a doutrina é inconsistente com o ensino católico[1].

De fato, o purgatório durará até o Juízo Final. Então, quem estiver vivo ou morrer no dia do Juízo não deveria passar pelo mesmo, tendo assim dois padrões de justiça, um para quem antecedeu o juízo e outro que livra alguns de passar por purificação.

O autor vê nisso contradição sem sentido. Ao concluir, ele afirma que:

“Naturalmente, isso não significa que somos eximidos nesta vida presente das consequências temporais dos nossos pecados. Deus permite-nos passar pelo fogo crucial de dores e provações para acelerar e purificar nosso caráter (cf. 2 Cor. 4:17 ; Gal. 6:7 ; Heb. 12:4-11 )...”.

Essa conclusão tem a mesma dificuldade que o autor viu na cessação do purgatório no Juízo Final.

Uma vez que Deus não livra os vivos das dores e provações consequentes do pecado, como deixará tantos, inclusive recentes convertidos, sem a devida purificação do caráter que normalmente dispensa aos salvos na vida presente, já que o Juízo não deixará mais tempo? 

Seria isso um duplo-padrão, como afirmado anteriormente? Ou a santificação do caráter era algo sem valor? (p. 145). Entretanto, essa razão não é importante para rejeitar a doutrina do purgatório.
Não sabendo quanto tempo e de que modo são purificados os que estão no purgatório, não se pode afirmar que no último dia não haja tempo para purificar todos aqueles que necessitam de purificação.


No Protestantismo a doutrina é virtualmente aceita


Não é novidade que o Protestantismo rejeitou essa doutrina no século 16. No entanto, os protestantes aceitam o purgatório sem o saber. Esses utilizam o argumento do sangue de Cristo contra a purificação no purgatório. Mas, imperceptivelmente, professam noção idêntica ao mesmo.

Isso não significa que os protestantes concordem com a doutrina, nem que a desenvolvam do mesmo modo que a Igreja Católica, ou que adotem práticas decorrentes da semelhança doutrinal aludida no título. Essas características não cabem no sistema Protestante.

O que acontece é que na teologia protestante aparecem, inevitavelmente, sombras da doutrina do purgatório, ainda que os protestantes neguem a mesma.

Exemplos disso estão na doutrina do Tribunal de Cristo, aceita por batistas fundamentalistas, como será mostrado abaixo, e como é uma ideia prevalecente em todo o Protestantismo.

Tratando da doutrina do Juízo no Tribunal de Cristo, Franklin Ferguson afirma:

“No Tribunal de Cristo nenhum pecado será exposto, pois todos já foram atirados ao mar do esquecimento divino. Mas, se os pecados foram cometidos contra o próximo, precisamos procurar a pessoa ofendida e pedir perdão em o Nome de Jesus. Se não forem esclarecidos agora, nosso castigo será uma perda de galardão, mas sem condenação alguma de nossas almas.”

Atenção, pois que ele fala do “castigo” que será a “perda do galardão”. Mais adiante, na sua exposição, ele afirma: “Seremos julgados pelo nosso testemunho, pelas nossas obras na vida familiar e social, na pregação do evangelho, pois o nosso serviço aqui na Terra será aprovado ou condenado, conforme o padrão divino.”

Por fim, seguem as palavras do autor, para melhor exposição do tema:

“Nossos erros serão corrigidos; os julgamentos errôneos serão revertidos; as incompreensões serão esclarecidas, as tentativas egoístas de imputar falsidade ou o mal, onde estes não existam, serão denunciadas. Os meios, palavras e intenções serão todos expostos à verdadeira luz, revelando o caráter de cada despenseiro da Palavra. Logo que todas as coisas estiverem resolvidas, cada crente vai receber o que merece. Muitas lágrimas vão deslizar nas faces de alguns, antes que a glória eterna lhes seja propiciada.

Depois disso, nenhuma nuvem vai surgir em nosso firmamento e nenhuma questão pendente será levantada, para minar a alegria dos salvos. Este será um dia feliz, com o sol da justiça brilhando no horizonte, sem sombra alguma que venha perturbar nossa felicidade. Demos graças ao Pai porque Ele nos permitiu chegar ao do Tribunal de Cristo.”[2]

Seguindo a mesma linha, ao tratar do pecado, os puritanos falam das ações corretivas de Deus:

“Todos os outros males são medicina de Deus e são usados como remédios, tanto para a prevenção, como para a cura do pecado (...) E como Ele usa todos os outros males para prevenção, do mesmo modo Ele os usa para a cura do pecado. ”

Começando pela ideia na citação do artigo dos Puritanos[3], os Protestantes poderiam argumentar que tal fato ocorre na vida presente, não na futura e, assim, fugiriam da questão. Porém, quanto à citação de Ferguson, é impossível esse argumento prevalecer, já que tudo gira em torno do Tribunal de Cristo, que não ocorre nesta vida.

Assim, mesmo que negando a doutrina do purgatório, os protestantes por vezes anunciam a mesma verdade, sem perceber, quando tratam de assuntos da Escritura de forma detalhada. Quando CONSEGUIREM DESCOBRIR a incoerência em negar a doutrina do purgatório, haverá para eles grande progresso na compreensão das Escrituras.
 

A interpretação de Dave Hunt sobre o purgatório


É conhecida a controvérsia entre cristãos católicos e protestantes a respeito do purgatório. 

Nesse tópico será estudado o tema a partir do ríspido ataque de Dave Hunt.

Analisando a argumentação de Dave Hunt, contra a doutrina cristã do purgatório, pode-se relativamente resumir do seguinte modo: Cristo tornou possível o perdão dos pecados pelo Seu derramamento de sangue em sacrifício na cruz, já que sem derramamento de sangue não há perdão (Hb 9,22). Assim, pagou e purgou todas as culpas, tirando o salário do pecado, que é a eterna separação de Deus, a morte (Rm 6,23). Deus realizou a purgação, que é possível pela fé somente, e realizada no coração pela graça. Somente alguém sem pecado pode oferecer o sacrifico para purgar o pecado. Por isso, somente Cristo pode purgar o pecado, não restando razão de desejar ganhar o perdão através do sofrimento ou qualquer obra. Tal pensamento seria uma negação blasfema contra o sacrifício completo de Jesus Cristo, pois faria do sacrifício apenas o alcance do perdão, mas, não da purgação do pecado. Desse modo, não é possível sofrer para remir penas, e não é mais necessário o pecador perdoado sofrer por causa do pecado, pois, Cristo pagou a pena completa exigida pela justiça de Deus. A prova do livro de Macabeus não é aceita por se tratar de contradição com a doutrina bíblica de que após a morte vem o julgamento, e assim não há motivo da oração pelos mortos; pelo fato dos Macabeus terem cometido idolatria e estarem condenados; por se tratar de livro sem inspiração, escrito num tempo em que não havia profeta em Israel. Além do mais, se as Missas e obras feitas em favor das almas no purgatório podem auxiliá-las, então, o sofrimento não seria necessário de forma alguma, já que pode-se dele ser tirado, por missas, indulgências e sacrifícios de outros cristãos, algo que a cruz de Cristo não pôde realizar, mas que outras maneiras, como a repetição do Seu sacrifício pode, tornando-se clara e fatal contradição.

Esse resumo está fundamentado nos argumentos expostos no apêndice A: “Purgatório”, no livro “The Woman Rides the Beast”, de Dave Hunt, escritor anti-católico nos Estados Unidos.

Uma avaliação. A imediata transformação do corpo na ressurreição não é evidência contra o purgatório, assim como não indica qualquer alteração na ordem estabelecida de que todos comparecerão diante do tribunal de Cristo para receber o que tiver feito no corpo, onde muitos sofrerão punições temporais (2 Cor 5).

Scott Hahn usa uma analogia para ilustrar isso: alguém quebra a vidraça da casa do vizinho. O vizinho perdoa esse feito, mas ainda permanece a justiça de reformar a janela quebrada. Mateus 5,25-26 e Lucas 12,52-59 tratam de uma prisão após o julgamento, da qual somente sairá depois de pagar o último centavo, o que metaforicamente indica o purgatório.

O coração deverá, após isso, estar totalmente voltado para Deus, repleto da graça recebida. Há uma medida de justiça a ser efetuada, como no caso de Davi perdoado (1 Reis 12,14).

O que os Protestantes falham em levar em conta é o que concerne à justiça de Deus. Apelam para o argumento falho de que a justiça é efetuada somente durante a vida, o que faria toda retribuição ser  necessária somente nesse mundo, esquecendo-se de que a justiça de Deus é a fundamental exigência.

São Tiago afirma, aos cristãos, que aquele que converte um pecador salvará uma alma da morte e cobrirá uma multidão de pecados (5,20). Essa passagem está em completa contradição ao sistema protestante de que não há possibilidade e necessidade de purgar pecados após a cruz!

A metamorfose ocorrida no arrebatamento é um tipo do purgatório, já que após o juízo final não haverá mais purificação. As afirmações de Dave Hunt possuem incorretas suposições e irregularidades. Há certo “sacrifício” a ser oferecido a Deus, por meio de Cristo, para fazer satisfação pelo pecado perdoado. Ajudar os pobres, por exemplo.

Assim, o sofrimento não é o único e obrigatório jeito de livrar-se das penas temporais justas que o pecador merece. Dave Hunt reconhece que Cristo sofreu por nós, mas ainda há sofrimento a ser enfrentado. Explica que Cl 1,24 não trata do suficiente sacrifício. Mas diz que o sofrimento que falta nas tribulações de Cristo, e que os cristãos devem enfrentar, são as perseguições por causa da obediência.

Desse modo, Dave Hunt reconhece que “Ele (Cristo) não sofreu todo o sofrimento necessário para realizar tudo o que a igreja está para realizar”, e que há sofrimento ainda em toda a história, o que, em outras palavras, afirma o mesmo que a doutrina do purgatório, mas, interessantemente, SEM PERCEBER. 

Uma importante explicação do texto de Mateus 5,25 é dada por Tertuliano. O escritor cristão fala do Hades como “a prisão” (Mateus 5,25) e o “último centavo” significando a menor ofensa, indicando uma disciplina compensatória naquele lugar antes da ressurreição.[1]

Jesus Cristo, por Seu sangue derramado na cruz, remiu e purgou todos os pecados e penas devidas, eternas e temporais. Na justificação, Deus cria uma nova criatura para a qual nenhum pecado nem qualquer pena permanecem.

No entanto, mesmo estando na graça de Deus, o fiel pode pecar levemente, ou cair da graça pelo pecado mortal. Mesmos os pecados leves não ficam impunes. O valor do sacrifício de Cristo permite que as penas temporais sejam extirpadas, mas exige uma satisfação do pecador perdoado. Muitas vezes isso significa sofrimento. Por isso, qualquer obra ou sofrimento não tem o poder de purgar pecados e/ou penas do pecado. Somente a graça de Cristo agindo nessas ações (obras, sofrimento aceito) é que pode remir as penas, unicamente pelo sangue derramado na cruz. Eis a grande diferença.[2]
 

Alguns textos bíblicos que indicam o purgatório


Gn 50:10: lamentação por sete dias (pelos mortos). Orações rituais num período específico. Nm 20:29 (choraram a Aarão). Dt 34:8 (prantearam a Moisés).

O entendimento judaico dessas práticas é que as orações podem auxiliar os mortos na dor da purificação e apressa o passo da sua jornada em direção a Deus. O fato é que havia luto pelos mortos, e isso é prescrito na Lei. A explicação acima mostra o sentido que o Povo de Deus vê nessa prática.

Se há certo cuidado em ajudar as almas para que sejam purificadas, então há embrionariamente a ideia do purgatório (Leia os textos citados de Gn 50,10; Nm 20,29 e Dt 34,8).
Hb 12:29 Deus é um fogo consumidor.
Ap 21:27 nada de impuro entrará no céu.
Mat 5:26,18:34; Lc 12:58-59: O sentido literal fornece a base do purgatório. A interpretação protestante que vê nessa passagem apenas uma exortação social é, no mínimo, próxima da heresia.

Estaria Cristo, nosso Senhor, preocupado em tratar de maus cidadãos, ameaçando-os com a prisão, quando sempre Suas palavras são primeiramente relativas ao Reino dos Céus?

Essas palavras do Senhor devem ser entendidas espiritualmente. São metafóricas: Deus é o Juiz, o caminho é a vida e a prisão se refere ao fato de que deve-se pagar o último centavo antes de ser solto, o que equivale ao purgatório. E o oficial que entrega ao juiz? Como as parábolas não necessitam que cada elemento seja explicado, ainda assim pode-se especular que um anjo tenha a função do oficial como retrata a passagem.

Mateus 5:48: o cristão deve ser perfeito. Se tal perfeição não é concluída em vida, deverá ser antes de entrar na glória. Os protestantes certamente entendem que somos perfeitos em Cristo. E tal fato é verdade. No entanto, a perfeição em Cristo atingirá o cristão em seu próprio ser, realmente. Isso nos ensina o Espírito Santo nos tornará perfeitos na realidade do nosso ser, o que não pode ser negado.

Mateus 12:31-32: Esse texto revela que a blasfêmia contra o Espírito Santo não terá perdão nunca. Ainda mais, revela que há perdão após a morte. Que tipo de perdão seria esse?
 
Sabe-se que não há segunda chance, pois a morte sela para a eternidade. Essa passagem é explicada quanto às penas dos pecados, e os pecados veniais, já que esses não tiram a graça, mas merecem correção da justiça de Deus.

E de fato, todo salvo arrepende-se de todos os pecados, mesmos daqueles que não se lembra, confiando no perdão de Deus. No entanto, como, pela Justiça, Deus castiga mesmo o filho, haverá tal purificação do salvo. A expressão "no futuro" indica além da morte. Os Judeus pensaram no Reino terreno que será implantado. Há os que pensam no milênio, onde haveria "segunda chance". Tal parecer é antibíblico. A doutrina do purgatório não ensina segunda chance, pelo contrário, alerta sobre a correção purificadora de Deus.
1 Cor 3:13: esse fogo não é o da destruição, como pensam alguns, mas o da purificação. Não se trata do fogo de Deus para o Juízo Final. A salvação através do fogo não é pelas obras condenadas, ou pela obra condenada.
O fogo apenas revela a obra. Portanto, aquele que tem obra imperfeita é purificado e sofre detrimento. Esse é o fundamento do purgatório. A queima das obras imperfeitas sugere o que está sendo realizado na alma diante de Cristo. A respeito da interpretação que afirma ser o texto referente aos falsos mestres, isso não é verdade. Toda a passagem trata dos fieis, em sentido geral, mostrando como exemplo os ministros ordenados. A Igreja ensina que esse texto refere-se ao purgatório.As notas da Bíblia de Jerusalém (caso sejam consultadas) parecem estar um tanto influenciadas por doutrina estranha.
1 Coríntios 3:15: o mesmo contexto. Esse fogo virá após a morte: quer se trate do julgamento imediatamente após a morte ou do julgamento final dos salvos, o texto refere-se indubitavelmente ao castigo dos pecados após essa vida. É perspicaz em si mesmo. Não há necessidade de conhecer o texto original para chegar a tal conclusão, que é clara pelo texto e contexto.
No entanto, se se quiser alguma comprovação no original grego, os estudiosos afirmam que o "sofrer detrimento" é tradução de zemiothesetai, da raiz zemitoo, que refere-se a punição. Ambas deduzem o hebraico anash, que significa punição, penalidade.
Então, há comprovadamente punição temporal, mas a pessoa é salva. Por esse motivo, há esse estado antes de entrar na glória, pois no céu não há punição, e no inferno ninguém está salvo. Tal fato é claro pelo contexto inteiro, pois não se fala de condenados nessa passagem.
1 Pd 1:7: a fé é purificada já nesta vida através das tribulações. É mais valiosa que o ouro. Será de louvor, honra e glória quando da Parusia. Essa realidade também está de acordo com a purificação ocorrida no julgamento, ou em relação a ele.
2 Tm 1:18: São Paulo pede a misericórdia de Deus para seu amigo, o cristão Onésiforo, no dia do Julgamento. Esse pedido é claramente uma oração. Pelo contexto, Onesíforo era falecido.[1] Não adiantam repetições como "o purgatório é anti-bíblico" e outras afirmações assim, pois a doutrina bíblica o estabelece.
Ainda que São Paulo tenha orado em favor de Onesíforo vivo, sua oração refere-se ao tempo em que estaria morto, para auxiliá-lo quando da sua apresentação diante do trono de Deus. Se ele pede a Deus a misericórdia para seu amigo, é porque isso é proveitoso e não desnecessário. Contudo, o contexto todo indica que Onesíforo já estava morto, e por isso a oração refere-se ao dia do juízo.

 

O texto de 2 Macabeus 12:38-45

Os debates sobre o purgatório deveriam ser mais profundos, e os protestantes, para melhor entender a doutrina e demonstrar suas razões concernentes a ela, deveriam considerar os argumentos, respondendo-os, aos invés de repetir sua posição cada vez que são confrontados.
A Enciclopédia Barsa Britânica traz a informação de que foi a partir de 1439 que a doutrina do purgatório começou a ser pregada pela Igreja, o que configura uma informação incoerente. De fato, a mesma Enciclopédia reconhece que a fé na doutrina referida é anterior à era cristã. Debates “católicos x protestantes” atestam que a data (1439) é considerada por muitos como o "início" do dogma. Por sua vez, alguns afirmam que a criação do mesmo se deu em 593, tornado dogma somente na data acima aludida.
Os protestantes, em geral, manifestam dificuldade em entender 2 Macabeus 12. De fato, o sr. Moysés, protestante anti-católico, assim escreve: "O livro apócrifo de Macabeus fala da morte de seus soldados, devido à idolatria. Traziam, sob suas túnicas, os baalins (miniaturas do deus baal)". É por tal motivo que muitos creem que aqueles judeus teriam sido condenados. Dom Estêvão forneceu a explicação contextualizada do fato, o que por si já refuta a posição do sr. Moysés: "Ele (Moysés) talvez não tenha lido o trecho inteiro: após afirmar que foram encontrados soldados judeus mortos pela fidelidade às suas tradições religiosas, mas portadores de estatuetas proibidas pela Lei, o autor sagrado refere que 'os judeus se puseram em oração em favor dos mortos e Judas Macabeu mandou oferecer um sacrifício pelo pecado em Jerusalém, agindo com grande acerto e nobreza'. - Não se tratava de obter a conversão dos falecidos, mas, sim, de pedir ao Eterno a purificação daqueles fiéis cujo amor estava voltado para Deus, mas ainda era marcado por incoerências, a que estão sujeitos mesmo os mais zelosos homens de Deus. "
O que a Igreja ensina é que pode haver, ainda, imperfeição no salvo quando da sua morte, e que há necessidade de purificação para que atinja a santidade necessária. Há um processo de santificação, que pode concluir-se após a morte (Catecismo, 1030). Tim Staples comenta que tal doutrina parece tão simples, quase autoevidente para os católicos, mas que para os protestantes é uma doutrina repugnante, a qual teria sido inventada na Idade Média. E mito deve ser desfeito para entender a doutrina.
Tim Staples corretamente identifica as duas razões que os protestantes apresentam quando são confrontados com o texto de Macabeus: 1) negam sua inspiração, e 2) afirmam que os soldados cometeram idolatria, e estariam no inferno.
Essa é, no mínimo, a resposta para negar o purgatório. Os soldados judeus certamente haviam apegado-se àqueles objetos pagãos por cobiça, ou talvez por superstição, o que constitui pecado, mas parece não ter sido de idolatria.
De qualquer forma, como somente Deus conhece os corações e sabe do grau de culpa que aqueles homens tiveram, os judeus acreditavam poder oferecer orações e sacrifícios para que fossem livres daquele pecado, considerado venial, já que não pediriam a Deus o perdão por idólatras.
Esse fato lembra o pecado de Acã, que cobiçou a capa babilônica, o ouro e a prata dos pagãos, e os tomou e escondeu. Reconheceu, porém, seu pecado contra o Senhor, confessou, mas foi apedrejado (Josué 7:20,21). No caso dos macabeus, Deus conhecia o pecado deles, e os fez cair mortos na batalha. Isso foi o que entenderam seus companheiros, sabendo que haviam morrido por terem pecado contra o Senhor. No entanto, como já comentado, esse pecado foi considerado possível de ser expiado por Deus, já que eles eram fieis judeus.
 

O ensino do Senhor Jesus em Mateus 5:25,26

O texto de Mateus 5 é o início do Sermão da Montanha, de ensinos profundos sobre o Reino dos Céus. Os vv. 1-12 falam das bem-aventuranças, mencionando os “pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”.
O Senhor fala do galardão que é preparado para os fieis que Lhe são obedientes, e do cumprimento da Lei. Segue mostrando a reforma que estava realizando, iniciando com o mandamento: Não matarás (v. 21).
Jesus afirma que não é apenas o homicídio que seria considerado pecado, mas mesmo a cólera faria a pessoa réu de juízo. Perfeitamente um ensino sobre a conduta cristã no reino dos Céus, já que os juízes e o Sinédrio da época não ratificavam as Palavras de Cristo, não O reconhecendo como Messias.
Nesse contexto, Jesus fala da reconciliação antes de oferecer algo no altar, e menciona a prisão da qual sairia antes de pagar o último centavo. Se alguém não reconciliou-se com o irmão, e foi desse modo diante do juiz, não sairá antes da prisão de pagar o “último ceitil”.
Staples afirma que os católicos, como Tertuliano (ano 208), reconhecem o sentido espiritual dessa passagem, ou como diz: “esse ensinamento é parabólico”. Obviamente, esse sentido é fundamentado no literal. Ou seja, o sentido espiritual tem sua explicação no significado que o texto literal informa.
O Senhor usa “o exemplo da prisão e a penitência necessária que ela representa como uma metáfora para o sofrimento purgatorial” (Tim Staples).
Os protestantes acreditam que o Senhor estaria apenas dando instruções para esta vida, como a conduta cristã apenas nos moldes sociais. Isso é corroborado por Karl Weiss, que reclama do padre Vicente Wrosz, asseverando que o mesmo: "Nem por um momento, contudo, cita o contexto da passagem bíblica", e explica-a da seguinte maneira: "Não se trata, portanto, de uma parábola ou de uma revelação sobre o reino de Deus, mas de uma mensagem direta sobre os caminhos do homicídio".
A respeito da oferta, o teólogo escreve: "Jesus continua sua explanação mostrando que ninguém deve entregar uma oferta a Deus se estiver com algum assunto mal resolvido com um irmão, pois aquele problema a ser resolvido pode se transformar em um problema judicial e levar um dos que pleiteia à prisão." Ele afirma que Jesus não estava falando metaforicamente, mas as palavras eram denotativas ou literais, no concreto significado social, sendo, portanto, conselhos de conduta cristã e corretas atitudes sociais. Em outras palavras, o Senhor estaria preocupado se alguns dos discípulos fossem presos, pela polícia da época, por questões de briga - na igreja. É, obviamente, uma interpretação infundada e que tem o objetivo claro de negar o purgatório nessa passagem.
Assim, é que entende-se as palavras de Staples: "A interpretação tradicional Protestante é muito fraca quando os versos são tomados contextualmente". E de fato o é. Vejamos o ensino de Jesus no contexto do capítulo 5 e em toda a Bíblia.
"Eles (os versículos) são encontrados no meio do famoso Sermão da Montanha, onde nosso Senhor ensina sobre o céu (v. 20), o inferno (29-30), e ambos os pecados mortais (22) e veniais (19), em um contexto que apresenta “o reino do céu” como o objetivo último (veja 3-12). Nosso Senhor continua a dizer se você não ama seus inimigos “que recompensa tem você”(46)? E Ele deixa bem claro que essas “recompensas” não são desse mundo. Elas são “recompensas do Pai de vocês que está no céu” (6:1) ou “tesouros no céu” (6:19).
Mais adiante, como João assinala no capítulo 20, verso 31 do seu Evangelho, toda Escritura é escrita “para que crendo, você tenha vida em seu nome”.
A Escritura deve ser sempre vista no contexto de nossa completa realização da vida divina no mundo vindouro. Nossa vida presente é apresentada “um vapor, que aparece por um pouco, e depois se desvanece”. Pareceria estranho ver a ênfase no outro mundo em todo do Sermão da Montanha, excetuando estes dois versos.
Adicione a isso o fato que a palavra grega para prisão, phulake, é a mesma palavra usada por Pedro (em 1 Pedro 3:19) para descrever o “lugar da prisão” ao qual Jesus desceu após a Sua morte para liberar os espíritos presos dos crentes do Antigo Testamento, e a posição Católica faz até mais sentido. Phulake é demonstravelmente usado no Novo Testamento para referir-se a um lugar de prisão temporária e não exclusivamente nessa vida."

Os argumentos de Mike Gendrom sobre o purgatório

Mike afirma que os católicos são vítimas enganadas por uma fabricação fatal. Escreve que a invenção do purgatório é uma das mais sedutivas atrações da religião Católica Romana. Cita Jonh MacArthur, que afirma ser o purgatório uma rede segura para o católico, o qual não vai para o inferno, e se ele não existisse não haveria segurança, nem oportunidade de entrar no céu. O purgatório é uma segunda chance, é uma outra chance depois da morte. Essas palavras são de um estudioso protestante sobre o purgatório. É inacreditável alguém que estuda uma doutrina e não a entende. Talvez o Catecismo seja difícil demais, quase impossível de entender, como Rick Jones afirma em uma de suas análises. Contudo, essa dificuldade parece ser típica para aqueles que perdem a fé.
Segundo Mike Gendrom, nos primeiros dois séculos da Igreja não havia a fé no purgatório, ou mais exatamente, não há menção da doutrina. Então, a crença teria entrado na Igreja com os pagãos que abraçaram a fé cristã, mas que não deixaram suas tradições pagãs, quando o imperador Teodósio (379-395) oficializou o Cristianismo no Império. O autor afirma que a base da doutrina é extra-bíblica. Admite, no entanto, que a mesma era conhecida pelos judeus e pagãos antes da era cristã.
Mike interpreta a concepção de pecado venial como uma mentira (Gen 3:4), e repete a já conhecida tese de que a cruz foi suficiente para purificar de todo o pecado, não restando nenhuma purificação para o salvo. Essa ideia já foi refutada neste estudo.
Para o autor, a Bíblia não fornece suporte algum para a doutrina, não dando nome e nem o conceito de um fogo purificador. Ele considera a prática dos judeus macabeus como iníqua. Sobre a prova de 1 Coríntios 3:15, Gendrom afirma que o contexto trata do teste das obras do homem através do fogo. As obras que permanecem são aquelas feitas para a glória de Deus, as outras são queimadas e destruídas. Não são os pecados dos homens, mas suas obras espúrias.
Mike Gendrom usa a Bíblia para sua refutação da doutrina do purgatório, da forma como foi entendida acima. Resumidamente temos o seguinte: primeiro é que não há como purificar o pecado fora do sangue de Jesus. O homem deve confiar em Cristo, não num lugar. Chama a doutrina de uma das muitas mentiras de Satanás. E cita Judas 24, que afirma que Cristo apresentará os santos perante Sua glória.
 

Os erros de argumentação de Gendrom

É importante notar que a exposição de Mike sobre o purgatório é mesclada de erros. Ele acredita que o purgatório é uma chance de salvação, e que expia os pecados fora do sangue de Cristo. Considera os pecados veniais da mesma forma como os mortais, e interpreta as provas de Macabeus e 1 Coríntios como sendo respectivamente práticas erradas e tratando de outra questão.
 

1 Coríntios 3:15

"Em outra tentativa de encontrar suporte para o Purgatório, muitos católicos apontam para esse verso: "Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo" (1 Cor 3:15). Claramente, o contexto desse verso é o teste das obras de um homem pelo fogo. As obras que permanecem são aqueles feitas para a glória de Cristo e são chamadas ouro, prata e pedras preciosas (Ef 2:10). Todas as outras obras supérfluas são queimadas no fogo e são chamadas madeira, palha, feno. Não são os pecados do homem que estão sendo purgados. São as obras espúrias que estão sendo queimadas e destruídas"(Mike Gendrom).
A explicação de Gendrom é um tanto evasiva e errônea. Ele tenta tirar qualquer alusão ao purgatório, e com tal convicção ele introduz problemas de heresia. O autor afirma que o contexto refere-se ao teste das obras do homem, e que há obras feitas para a glória de Deus e obras espúrias. Aquelas são aprovadas e as últimas destruídas.
Deveria o autor responder o motivo de queimar algo que não é imperfeito, pois se não são pecados, então são de acordo com a Vontade Deus. Se as obras espúrias do homem não são pecaminosas, por que foram queimadas? E se essas mesmas obras espúrias não foram feitas para a glória de Cristo, então para a glória de quem seriam? O homem pode agir segundo a vontade divina ou de forma neutra? Se as obras espúrias não fossem más, deveriam, no mínimo, ter nenhum peso no teste, e não mereceriam a destruição, já que seriam boas, ou no mínimo neutras, o que não existe. Por essas questões já pode-se imaginar o absurdo a que chegou Mike Gendrom. A verdade é que o texto estabelece os elementos verdadeiros da doutrina do purgatório.
Agora, apresento a explicação de Tim Staples sobre 1 Coríntios 3:15 (contexto, 11-15), a qual refutará mais profundamente a interpretação de Mike Gendrom.
 

O texto mais claro

"Primeira Coríntios 3:11-15 pode ser o texto mais simples de toda Sagrada Escritura quando se trata do Purgatório:
Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.
E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. 
Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. 
Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo. 
Nenhum cristão pode, pelo menos, negar que esse texto fala do julgamento de Deus onde as obras do fiel serão testadas após a morte. A passagem diz que nossas obras passarão pelo "fogo", falando figuradamente. Na Escritura o "fogo" é usado metaforicamente de duas maneiras: como um agente purificador (Ml 3:2-3; Mt 3:11; Mc 9:49) e como aquilo que consome (Mt 3:12; 2 Ts 2:7,8). Assim, é aqui um adequado símbolo para o julgamento de Deus. Algumas das "obras" representadas estão sendo queimadas e algumas estão sendo purificadas. Essas obras permanecem ou queimam de acordo com sua "qualidade" essencial. (Gr. hopoiov, "de que sorte").
O que está sendo referido não pode ser o céu porque há imperfeições que necessitam ser "queimadas" (ver Hb 1:13; Ap 21:27). Não pode ser o inferno, pois almas estão sendo salvas. Então, o que é? Os Protestantes chamam-no de "o Julgamento", e nós católicos concordamos. Os católicos simplesmente especificam a parte do julgamento dos salvos onde as imperfeições são purgadas como purgatório.
Pelo que nos explica Staples, ainda que se quisesse fugir, diante de todas as provas aqui apresentadas, e dizer que o texto sagrado acima tivesse outra aplicação, não seria possível fornecer um exemplo razoável. Se se dissesse que os que tivessem sua obra de acordo com o Senhor teriam recebido recompensa, e aqueles que tivessem sua obra reprovada teriam escapado por um fio, tal implicação seria que a salvação se deu "pelas" obras, onde um salvou-se pela justiça apresentada e outros conseguiram quase que inexplicavelmente! Veja que heresia!
Concluindo, o texto trata do julgamento daqueles que construíram suas vidas sobre Jesus Cristo, o verdadeiro fundamento, mostrando que uns recebem recompensas por seus frutos na graça, e outros, ainda que com alguns pecados, são purgados e são salvos. A distinção entre pecados se dá no fato de que há aqueles que desligam de Cristo, enquanto outros não, o que a santa Igreja ensina, conforme a Sagrada Escritura, sobre pecados mortais e veniais.

 

A soma das nossas ações

O protestante irá imediatamente focar no fato de que em nenhum lugar o texto explicitamente menciona "a purificação do pecado". Ele descreve somente o teste das obras. A passagem enfatiza as recompensas que os crentes receberão por seu serviço, não como seu caráter é purificado do pecado. E os crentes assistem aqui, que suas obras passam pelo fogo, enquanto eles escapam dele.
Aqui está a resposta bíblica e católica. Primeiro, deve-se questionar, o que são pecados, senão obras más ou iníquas (ver Mt 7:21-23; Jo 8:40; Gl 5:19-21)? Se essas obras não representam pecados e imperfeições, por que necessitariam ser eliminadas? Segundo, é impossível para uma obra ser purificada à parte do ser humano que a realizou. As obras em si não existem fora da pessoa que as realizou. Nós somos, num certo sentido, o que nós fazemos, no que diz respeito a nossas escolhas morais. Não há tal coisa como uma obra flutuando em volta de algum lugar separada de um ser humano, que poderia ser purificada à parte desse ser humano. A ideia de obras serem separadas de pessoas não faz sentido.
O mais importante, contudo, essa ideia de obras serem queimadas à parte da alma que realizou a obra contradiz o texto. O texto diz que as obras serão testadas pelo fogo, mas "se a obra permanecer (...) esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento.". E, "o tal será salvo, todavia, como pelo fogo". (Gk. dia puros). A verdade é: ambos, as obras do indivíduo e o indivíduo, passarão pelo "fogo" purificador descrito por Paulo, para que "ele" possa finalmente ser salvo e entrar na alegria do Senhor. Soa muito como o purgatório, não é?" Até aqui Tim Staples.
Finalmente, o purgatório é o resultado do julgamento dos salvos que ainda possuem faltas veniais, e que serão purgados com o fogo purificador. Não se fala de outra chance de salvação e nem de purificação fora de Cristo. A purificação é feita naqueles que construíram suas obras sobre o verdadeiro fundamento que é Jesus Cristo.
 

Ainda sobre 1 Coríntios 3:11-15

O Dr. Samuele Bacchiocchi reconhece a dificuldade para explicar o texto de 1 Coríntios 3:11-15.
No entanto, afirma que a interpretação católica ignora três pontos importantes.
1)      São Paulo está falando sobre o “teste das obras” e não do “sofrimento de almas”. O Dr. Bacchiocchi afirma: “Simplesmente afirmado, a questão aqui não é sobre o “pecado” e sua punição, mas sobre a “recompensa” pelo serviço prestado por aqueles que já estão salvos”.
2)      Somente suas obras são queimadas. Ele questiona o fato dos que praticam obras perfeitas passarem pelo teste de fogo.
3)      O fogo não purga a alma do pecado, mas testa a obra. O foco está no galardão que os crentes irão receber por seus serviços.
A isso pode-se responder que:
1)      O teste de obras atinge aquele que as praticou, já que as obras não são elementos separados como tendo existência independente do praticante. Quando obras imperfeitas não passam no teste, quem sofre a perda é o praticante. Ou alguém duvida¿ As obras desaparecem, mas o praticante, que está salvo, escapa do fogo perdendo a recompensa das obras. Ele sofre ao ver o veredito de Deus, no julgamento, reprovar suas obras, e aniquilá-las, tornando-as inócuas para o seu relacionamento com Deus, e sua vida em relação a Cristo. Assim sendo, aquele que ama a Jesus, e viveu no Seu caminho, sofrerá por ver que sua vida incluiu coisas que a Deus não agradou, e que foi queimada pelo fogo purificador. Se essas obras imperfeitas foram destruídas, e o homem que as praticou foi salvo, então segue-se que sua consciência agora limpa,
2)      Sobre a queimação das obras já foi respondido acima. Por que até os que fizeram obras perfeitas parecem passar pelo fogo? Note que o texto louva as obras que resistiram o julgamento. Nada fala de sofrimento por parte do praticante, mas que esse recebe a recompensa. Portanto, esse fogo não faz sofrer quem praticou obras segundo a vontade de Deus. O salvo passa pelo fogo, suas obras resistem, ele não sofre, é santificado e entra na glória. Há também a possível explicação de que o mesmo seria como que não passou pelo fogo, quando se compara o que foi dito daquele que teve as obras queimadas.
3) Quando o fogo testa a obra, destruindo-a, purifica o praticante, para que entre no céu. Para que serve o julgamento? Somente para recompensar ou não recompensar? Na verdade, o juízo das almas santas é também para terminar a santificação. O fiel salvo, que escapou do incêndio, não sofreu nada com a perda do galardão? Perder algo causa sofrimento. Reflita. É, portanto, satisfatória a explicação católica.

 

Para melhor entendimento, considerarei a interpretação de Norman Geisler.

 
Norman Geisler afirma que o texto de 1 Coríntios 3,15

(1) “não diz, nem sugere, qualquer coisa que o crente possa sofrer, em termos de consequências temporais no purgatório, por causa de seus pecados”.

(2) Os apologistas católicos reduzem o sofrimento purgatorial a uma experiência de santificação após a morte.

(3) todos já estão santificados para aparecer diante de Deus, já estando perfeitos diante de Deus, e a necessidade de melhorar na prática não há o que ter com a perfeição já existente para o reino.

(4) O contexto não fala da consequência do pecado, mas da recompensa. “Será a perda de uma recompensa por não ter servido fielmente a Cristo”. Não há nada para sofrer porque Cristo já pagou pelos nossos pecados.

(5) O fogo não purifica, mas revela e testa a nossa obra. Não há nada no texto de purificação do pecado. Ao finalizar, Norman Geisler afirma que a purificação é pragmática, o que entende-se que Geisler reconhecer tratar de um tipo de purificação. O foco é o que o cristão irá receber e não como o seu caráter será purificado.

Pelo que há no argumento de Norman Geisler sobre essa passagem, pode-se resumir que o crente já estaria absoluta e perfeitamente santo para entrar no céu, e a necessidade de santificação seria apenas pragmática, funcional, entendida apenas materialmente. Sendo assim, voltemos à Palavra de Deus para responder à crítica e interpretação de Geisler.

É preciso notar que o assunto é profundo, mas que o que foi ensinado é como leite para criancinhas, já que São Paulo afirma que eles não estavam preparados para alimento espiritual mais sólido. Assim, o desenvolvimento do raciocínio do que está em 1 Coríntios 3,15 é bastante profundo, mas ao mesmo tempo facilmente compreensível.

Como poderia os crentes estarem perfeitos para entrar no céu, e ao mesmo tempo necessitarem de melhorar na prática, quando essa melhora é praticamente dispensável, já que não afeta a entrada no reino? O bom senso já denuncia esse erro.

E a palavra de Deus rejeita tal interpretação, mostrando que no juízo as obras são analisadas e aquele que as tem reprovadas é, no entanto, salvo “como através do fogo”, ou seja, comparável a quem está passando por um caminho de fogo, ou como já indica outra tradução possível, como quem escapa de um incêndio.

Imagine o salvo sendo julgado, vendo sua vida examinada à luz da lei de Deus e de Cristo, e reconhecendo nela obras que desagradaram a Deus, e que foram mal construídas nem Nome de Jesus, e escutando a reprovação das suas faltas e dos seus pecados, pronunciada pelo Divino Juiz dos vivos e dos mortos?

A explicação simplista de que se trata de apenas receber galardão ou perder o galardão, não faz justiça ao texto sagrado. Quem recebe prêmio tem uma alegria maior. Quem perde sofre de alguma maneira. De fato, alguém estaria muito alegre nessas circunstâncias? Ou sentiria uma santa contrição e aperfeiçoaria sua relação com Deus, por ver exatamente em que não foi fiel? Exatamente a segunda opção, que implica uma purificação do caráter e aperfeiçoamento da relação com Deus.

Perceba que aquele que “sofre perda” não pode não sentir o que decorre da perda, pois o motivo disso é ter cometido pecados, veniais é claro, mas que foram reprovados. Será feliz, aliás como não ser, já que foi salvo. Mas antes disso, passará por purificação pelo fogo. É o que ensina a Bíblia.

A ilustração da construção com vários materiais denotam, segundo o sentido de cada material, as obras santas ou os pecados, a partir do significado desses objetos no cenário apresentado. O ouro, a prata e as pedras preciosas são as obras aceitas por Deus. Por outro lado a madeira, a palha e o feno são os pecados, chamados veniais porque não afastaram de Deus, mas serão castigados por serem pecados. A purificação é interior, no próprio coração do salvo, e não uma mera atitude pragmática.

Além disso, a alegação de que são as obras que passarão pelo fogo é contrariada pela Bíblia, como já provado, que apresenta a seguir, não mais as obras, mas o salvo como que passando pelo fogo. Essa é a verdadeira teologia.


A interpretação de Norman Geisler de Macabeus 12, 42-46


Geisler não interpreta esse texto, pois certamente reconhece que o mesmo é claro sobre o assunto. O que afirma é apenas relativo ao que pensa do livro, não reconhecendo sua inspiração. Assim, as implicações da passagem de Macabeus 12, 42-46 são fortes no assunto da purificação pós-morte.

 

A interpretação de Norman Geisler de Mateus 12, 32


Jesus afirma que a blasfêmia contra o Espírito Santo não tem perdão. É uma afirmação categórica. Esse sentido absoluto da impossibilidade do perdão, porém, traz um sentido possível de ser desenvolvido, pois o Senhor Jesus não disse simplesmente que não há perdão, mas que não o há aqui e nem no outro mundo.

O pecado mortal não pode ser perdoado após a morte, porque ele causa um desligamento, um afastamento entre a pessoa e Deus. Mas Jesus pode perdoar, aqui neste mundo, qualquer pecado, desde que haja arrependimento.
Ao afirmar que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado no mundo futuro, dá a entender que há pecados que o podem. Fazendo uma correta exegese bíblica, chega-se à conclusão que são apenas faltas veniais, e que configuram a doutrina do purgatório.
 


A interpretação de Norman Geisler de Mateus 5,25.26


Norman Geisler entende, em primeiro lugar, que a prisão dessa passagem é material, a partir dos versos 21 e 22, mas não consegue apresentar mais nada além dessa afirmação.
Se Jesus está falando em todo o contexto de coisas espirituais, como poderia no meio de um verso passar a falar em medidas policiais, em prisões terrenas? Já se nota que a interpretação está deslocada e sem fundamento.
A segunda razão é que a ideia de purgatório viria antes, e a passagem serviria para ilustrar o que já está sendo crido. A terceira razão seria que o crente não necessitaria de pagar por pecados nem temporalmente.
Todas as “razões” que Geisler apresenta nesse contexto são inócuas. A primeira já está refutada no presente estudo.
A segunda é descabida. De fato, a Escritura apresenta essa prisão espiritual, e tratando de explicá-la chega-se, por meio de outros textos bíblicos, à doutrina do purgatório. Sendo a presente passagem uma das que fundamentam a doutrina.


Sofrimentos naturais temporários

O purgatório implica em sofrimento temporário. Os protestantes creem que no mundo há uma relação de causa e efeito quanto ao que semeamos (cf. Geisler), mas negam que isso possa ocorrer após a morte. É como se a justiça de Deus, que exige reparação, e que é manifesta na mesma relação de causa e efeito, é como se a mesma deixasse de existir pela morte. Ou em outras palavras, é como se Deus não tivesse castigando os filhos como faz um bom Pai, como está estabelecido em Hebreus 12.
Em Romanos 6,7 está escrito que o salário do pecado é a morte. Mas o condenado morto não tem quitada a sua pena quando morre, pois o único que pode libertá-lo do pecado é Jesus. Assim, o salvo também necessita de enfrentar consequências de seus pecados, pois Cristo pagou por todos eles, mas essa mesma relação de causa e efeito pode perdurar para o bem daqueles que amam a Deus, para que reconheçam mais fortemente seus pecados, mesmo que leves, e voltem-se para o Senhor.
Norman Geisler reconhecer duas verdades importantes nesse contexto.
1)      Os cristãos devem suportar as adversidades causadas pelo pecado durante a vida
2)      Deus usa as circunstâncias e experiências para castigar e purificar os que são Seus (cf. 2 Cor 4,17; Gl 6, 7; Hb 12, 4-11)
Geisler alude a uma “completa purificação na morte”. Se isso fosse verdade, não haveria nenhum motivo para o fogo testar as obras no juízo. Esta é uma incoerência doutrina dos protestantes. A morte é o salário do pecado, mas não purifica todo e qualquer pecado. Não purifica o pecado eterno, pois esse só o sangue de Cristo. Não purifica o pecado venial ou as consequências do pecado, pois esses só o sangue de Cristo. O purgatório é o momento da justiça de Deus em favor do salvo.
Todos os crentes não precisam sofrer no purgatório, pois a doutrina católica afirma que existem aqueles que não estão suficientemente santos em sua vida com Cristo, o que logicamente afirma que há quem termine a vida com a santidade suficiente realizada pelo Espírito Santo, e que entre imediatamente no céu.
As consequências temporais e eternas foram compensadas por Cristo. Isso é um fato, mas ainda continua a ser realizada a salvação, no sentido de aplicação dos méritos de Cristo naquele que crê, e por meio de castigos o Pai santifica os filhos, o que mostra existirem tanto as consequências naturais, como ainda os ativos castigos de Deus para purificar, para santificar os cristãos. Lembremos o pecado de Davi. A morte do primogênito não foi advinda da relação causa e efeito do pecado, mas foi um castigo imposto por Deus para o pecado perdoado de Davi.
Voltemos àquilo que católicos e protestantes concordam. Em primeiro lugar o crente deve suportar as adversidades, que surgem por causa do pecado, em qualquer tempo. Se essas adversidades existem, é porque Jesus permite que elas existam para o bem dos redimidos. Por isso, não se pode apresentar essas adversidades para falar contra a suficiência da morte vicária de Cristo.
Em segundo lugar, admite-se que Deus usa as circunstâncias e as experiências para a purificação dos salvos. Isso equivale a dizer, em outras palavras, que isso é o purgatório dos crentes ainda em vida. Se existe essa purificação, se Deus utiliza tudo isso para a santificação dos que são Seus, nada disso pode ser usado para falar qualquer coisa contra a suficiência da morte de Jesus Cristo em favor dos pecadores salvos. Dessa forma, a morte de Jesus não suspende ou inviabiliza automaticamente os castigos temporais, os modos pelos quais Deus purifica Seus filhos.
Por tudo isso, raciocinando com os dados da Bíblia Sagrada, pelo mesmo motivo Deus não suspende automaticamente as purificação do purgatório, ou as consequências das faltas dos salvos, antes que eles estejam totalmente preparados. Não se pode falar por causa da purgatório qualquer coisa contra a suficiência da morte de Cristo.
Os textos citados por Geisler afirmam coisas que não negam o purgatório.
2 Cor 4,17
A tribulação presente prepara para um peso eterno de glória no céu. Mesmo para os cristãos mais fieis isso é uma realidade. Imagine agora os cristãos que perderão seus prêmios pelo fogo.
Gl 6, 7
“O que o homem semeia, isso mesmo colherá.” É uma verdade tremenda. E não pense que isso se refere apenas a coisas materiais. O verso 8 afirma que quem semeia na carne, ou seja, com seus pecados e vícios, esse colherá corrupção. A corrupção é a condenação. Aquele, porém, que semeia no Espírito, com suas obras segundo a Lei de Cristo, esse colherá a vida eterna. É uma das passagens mais importantes para falar das obras e da salvação. Há uma estreita ligação aqui com a semeadura no Espírito, que é o modo de proceder a vida conforme a vontade de Deus, onde o resultado é a vida eterna. Isso é o mesmo que afirmar que as obras possuem relação com a vida eterna. O contexto é sobre as obras realizadas em Cristo.
E o texto de Hb 12, 11 afirma que a correção causa momentaneamente pesar, mas depois ganha “fruto de justiça e de paz”. É isso que se espera daquele que passa pelo purgatório.
 
 

O purgatório e a doutrina da Cruz

 “A cruz de Cristo é o único fundamento pelo qual Deus perdoa pecados” (STOTT). No purgatório, então, o perdão só é possível pelos méritos da cruz. John Stott elabora uma resposta, sobre o perdão baseado na cruz, tendo como base o escrito do arcebispo santo Anselmo, o qual afirma que o motivo da cruz é a gravidade extrema do pecado:
Quando a percepção que temos de Deus e do homem, da santidade e do pecado, é tortuosa, então nossa compreensão da expiação provavelmente também será tortuosa”.
Essa reflexão está diretamente ligada ao problema do purgatório. Muitos questionam o motivo de se ter de “sofrer” algo a mais após o perdão, se a cruz tudo perdoou, se o sangue de Cristo nos livrou de todo o pecado.
Essas questões, embora sejam interessantes e necessárias, não oferecem problema algum para a doutrina ortodoxa da purificação no purgatório.
Stott afirma que “o pecado não é mero dano pessoal” (p. 45). Ainda, que Deus é amor, mas o amor divino é santo, “amor que anseia pelos pecadores enquanto que ao mesmo tempo se recusa a tolerar o pecado”.
Alguém dirá: mas o pecado uma vez perdoado na cruz não existe mais. E o purgatório tornar-se-ia assim sem sentido. Por isso, é necessária maior elaboração para uma resposta a essa argumentação.
As objeções rápidas, e frequentemente erradas, a respeito do purgatório (em sua negação) devem-se ao fato de que seus proponentes não “pensaram cuidadosamente na seriedade do pecado nem na majestade de Deus”, para usar as palavras de John Stott a respeito das respostas que muitos dão com relação à cruz.
Desse modo, a doutrina da cruz pode ajudar a compreender o purgatório. Todavia, não anula a doutrina do purgatório, mas a estabelece, e ilumina. No exame de Stott sobre a “santidade e a ira de Deus” ele questiona: “Mas podemos pensar que Deus "pune" ou "julga" o mal?”. Deveras, esse é o ponto básico para pensarmos no purgatório: o amor e a santidade de Deus, também a ira e a justiça divina.
Deus é bom, amoroso, santo e justo. Essas características não podem ser perdidas de vista quando pensamos na doutrina do purgatório.
E sabendo que Deus é imutável, o mesmo no passado, no presente e no futuro, que Cristo é “ontem, hoje e sempre” (cf. Hebreus 13:8), escreve Jonh Stott quanto à ira divina:
“Certamente não podemos descartá-la dizendo que o Deus de ira pertence ao Antigo Testamento, ao passo que o Deus do Novo é amor”.
Continuando a expor sobre a santidade de Deus o autor escreve: "A santidade de Deus expõe o pecado e a sua ira se opõe a ele" (p. 57). O assunto aqui é a cruz do Senhor pela salvação da humanidade.
O livro não trata diretamente da questão do purgatório. Contudo, pelo fato do assunto da Cruz surgir frequentemente nas objeções protestantes quanto ao purgatório, é importante resgatar essa questão mais de perto. Dessa maneira, é possível fazer ligações das afirmações doutrinárias referentes à cruz para iluminar a questão concernente à purificação do pecador.
É verdade cristã fundamental que toda purificação é feita em Cristo. Ele proveu a satisfação pelos pecados. É preciso entender profundamente essas noções cristãs para captarmos a necessidade do purgatório para o cristão. Ainda há a questão do sofrimento, tão horrível que é à mente humana, que naturalmente requer, da parte do pecador, que seja o mais rápido e facilmente afastado.
Por isso, há objeções a respeito da reconciliação do sofrimento com a justiça e o amor de Deus. Como pode haver sofrimento no mundo, e mais ainda, como pode haver sofrimento após o perdão.
John Stott, ao tratar da questão do purgatório, alude ao "sofrimento redentor", quando escreve: "A igreja Católica Romana tradicionalmente tem falado de "sofrimento redentor". Seu ensino oficial é que, mesmo depois que a culpa de nossos malefícios é perdoada, seu castigo ainda deve ser completado aqui nesta vida ou no purgatório (que é "a igreja sofrendo")".
A doutrina protestante é contrária a esse ensino. Ainda que vislumbre verdades relativas a ele, e que consiga enxergar lampejos de sua existência, não consegue compreendê-la, por apegar-se à tradição protestante.
Stott continua: "Assim, o perdão não cancela a penitência, pois o castigo será acrescentado ao perdão." Essa afirmação necessita de maior elaboração.
De forma impressionante, o autor trata da questão da disciplina divina em relação ao pecador. A palavra disciplina tem sentido múltiplo e pode ser mal entendida em seu emprego em diversos contextos.
Existe a disciplina que o cristão realiza, mantém e desenvolve na vida cristã, através de exercícios espirituais, suscitados e auxiliados pela graça, e que orienta a vida na graça. Por outro lado, existe a disciplina que Deus efetua no pecador, segundo Sua justiça e amor, para que sejam corrigidos aqueles pontos que mesmo a disciplina do cristão não conseguiu fazer.
Há, então, uma mão-dupla de disciplina: aquela de Deus em relação a nós, e aquela que está em nossa responsabilidade realizar, para nosso próprio bem. Nessa última a Igreja nos orienta.
Nesse sentido, Jonh Stott afirma, expondo a doutrina católica: "As melhores penitências, além do mais, não são as designadas pela igreja mas as enviadas pelo próprio Deus — a saber, "cruzes, enfermidades, dores"— as quais propiciam o nosso pecado."
A disciplina das "cruzes, enfermidades, dores" estão no contexto do purgatório. Certamente, o autor não se deu conta dessa implicação. Em seguida reconhece:
"Esse tipo de ensino, que parece tanto subestimar a perfeição com a qual Deus, mediante Cristo, nos redimiu e nos perdoou, como atribuir eficácia expiadora a nossos sofrimentos, é muito ofensivo à mente e consciência protestante".
Essa questão já foi algumas vezes apontada no presente exame.  Ainda que nada que façamos passa conseguir salvação, os sofrimentos que Deus, muitas vezes, utiliza para purgar as penas dos pecados, está estritamente ligado a ela. Ou seja, cada ação de Deus em prol do pecador tem certa associação com a salvação.
Concluindo sobre o sofrimento, Stott parece estar descrevendo algo do purgatório:
"Combinam-se assim o ensino bíblico e a experiência pessoal, com o propósito de ensinar que o sofrimento é o caminho para a santidade ou maturidade.
Ora, o "caminho para a santidade" é o cerne da doutrina do purgatório. E, quando Jonh Stott, questionando sobre a razão do sofrimento, outra afirmação ilumina, mais uma vez, o tema:
Sendo assim, às vezes indago se o teste real de nossa fome por santidade não é a disposição em experimentar o sofrimento, em qualquer grau, se tão-somente através dele Deus nos tornar santos (p. 179)”.
Mais adiante o autor diz: “Na passagem aos colossenses ele diz que seus sofrimentos preenchem o que resta das aflições de Cristo.
É necessário estacionar por um tempo ao tratar da doutrina revelada por São Paulo em Colossenses. Por isso, far-se-á uma reflexão para compreender exatamente o que essa doutrina traz como consequência no assunto em debate. Aliás, esse ensino está muitíssimo ligado à comunhão dos santos.
Pois bem. Colossenses 1, 24 é um texto de dificuldade insuperável para o Protestantismo. Assim, não é possível que Stott compreenda a passagem completamente (ou perceba que essa é de fato a posição católica), no sentido de poder desenvolvê-lo até atingir o seu fim, já que a lê segundo a perspectiva protestante.
O texto afirma: “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja.
São Paulo "padece por vós", ou seja, pelos cristãos de Colossos, cumprindo na sua carne "o resto das aflições de Cristo", em favor da Igreja: "pelo seu corpo, que é a igreja". Isso ele o faz em alegria ("regozijo", escreve). Esse sofrimento do apóstolo é parte do sofrimento de Cristo ("o resto") ofertado em favor dos cristãos.
É certo que São Paulo não está tornando-se "corredentor" no sentido de adicionar algo à Cruz ou de completar o que nela falta, pois é completa, mas no sentido de cumprir a parte que o Senhor deixou para nós. E, realmente, essa parte real deve ser experimentada de alguma forma por cada membro do Seu corpo.
 A doutrina cristã católica ensina que em Cristo não falta nada quanto à salvação, como Cabeça da Igreja, mas faltam aflições em Seu corpo, a Igreja. São João Crisóstomo fala dos sofrimentos de Cristo na Igreja.
Portanto, essas tribulações acontecem no Seu Corpo místico. Esses sofrimentos em união com Cristo podem ser destinados a outros, em favor deles, aplicando os méritos de Cristo, e é nesse sentido que ainda faltam tribulações.
Stott não pode explicar ainda, apenas nega o sofrimento de caráter expiatório, sofridos pelos outros: "Podemos ter certeza de que Paulo não está atribuindo eficácia expiadora a seus sofrimentos, em parte porque sabia que a obra expiadora de Cristo fora concluída na cruz, e em parte porque usa a palavra especial "aflições" (thlipseis) que denota suas perseguições. São estas que não estavam terminadas, pois ele continuou a ser perseguido na sua igreja".
No entanto, como São Paulo era católico, sua teologia também é católica. Por isso, Stott faz um questionamento arrepiante para a mente protestante: "Parece um absurdo. Será que Paulo realmente pensa que seus sofrimentos obterão a salvação e a glória deles? Sim, ele pensa."
Sendo essa a condição, São Paulo é, nesse sentido, um "corredentor" com Cristo nosso Senhor.
Tais palavras parecem "blasfêmia" para a mente protestante, que não as pode nem mesmo ouvir. Mas elas explicam o que está escrito. A noção que o texto de Colossenses apresenta é importantíssima para compreender a doutrina da salvação. E que sentido de corredenção é esse?
Stott conseguiu captar. De fato, não é o sentido direto, de sofrer e alcançar a graça salvadora, mas indireto: "Não diretamente, contudo, como se seus sofrimentos possuíssem eficácia salvadora como os de Cristo, mas indiretamente porque estava sofrendo pelo evangelho que eles deviam ouvir e aceitar a fim de serem salvos".
Os sofrimentos e o serviço caminham juntos, diz Stott, "e os sofrimentos do apóstolo eram um elo indispensável na cadeia da salvação deles."
Comentaristas bíblicos protestantes demonstram esforço para explicar essa passagem bíblica. Após fazer referência à doutrina católica, Barne explica: “…mas que havia muito ainda faltando de sua parte antes que ele devesse estar inteiramente conformado ao Salvador em seus sofrimentos, e que sua presente condição foi tal como que para cumpri-la rapidamente.”
Tal explicação ainda não contempla o texto de Cl 1,24 quanto à aplicação dos sofrimentos em favor dos outros.
Clark chama atenção quanto ao uso dos termos, aflições em lugar de paixão, como fez Stott. Matthew Henri limita-se a explicar que: “Mas Ele (Cristo) sofreu para a redenção da igreja, nós sofremos por outros motivos...” Ainda assim a nota explicativa não atingiu o cerne do texto.

Jonh Gill, em sua exposição mais extensa, tenta desfazer qualquer sentido de “corredenção” com foi exposto antes.

No seu esforço ele apresenta o seguinte: “por amor do seu corpo, que é a igreja, não no lugar e em substituição da igreja, e do povo de Cristo, como foram os sofrimentos pessoais de Cristo, ou para isentá-los dos sofrimentos que todos têm a sua parte nesta vida, nem pelos seus pecados para expiar por eles, e obter a remissão deles, nem para redimi-los, ou obter a salvação para eles, tudo isso é completado por Cristo, mas para o seu bem e lucro, para que o Evangelho possa continuar e ser abençoado para a conversão de muitos, para o aumento da igreja e acréscimos a ela, e para a promoção do Evangelho, e para que tais que o professavam possam ser estabelecidos e confirmados nele, pelos sofrimentos do apóstolo por ele: e esses bons efeitos seguem seus sofrimentos e aflições; eles eram para a consolação de muitas almas, o fortalecimento dos crentes fracos, e para causar até mesmo pregadores do Evangelho para obrar mais confiantes, e pregar com mais ousadia o Evangelho sem medo de homem”.

No entanto, essas coisas que “seguem seus (do apóstolo) sofrimentos” trazem o “bem e lucro”, a benção e a conversão e confirmação dos crentes em Cristo. E ao aludir à obra da cruz, indiretamente é reconhecida a realidade de que o sacrifício do Senhor não isenta a Igreja de sofrer: "ou para isentá-los dos sofrimentos que todos têm a sua parte nesta vida".
Voltando às graças recebidas da árdua obra apostólica, como "bem e lucro", isso significa a garantia do perdão, a reconciliação, a redenção, a salvação, o que quer dizer, em última instância, que os sofrimentos do apóstolo serviram para que a graça de Cristo atingisse aqueles aos quais a obra da pregação era oferecida. Esses efeitos são indiretos, como explica a doutrina católica, e como bem expressou Jonh Stott. Realmente, essa é a doutrina cristã católica.
Sendo assim, o purgatório está totalmente em consonância com a Cruz, já que os sofrimentos que a ele estão ligados são aqueles que a Igreja sofre como corpo de Cristo, e recebendo a devida disciplina de Deus. Ainda mais, estando na comunhão dos santos, a igreja padecente pode receber auxílio pelas obras dos cristãos, baseados no mesmo princípio de que uns recebem a graça pelo desenvolvimento da obra de outros. Enfim, restam os sofrimentos que a cruz de Cristo não aboliu, os quais visam o crescimento dos membros da Igreja na graça.
Assim, fazer caricatura de uma doutrina para condená-la mais facilmente é o que acontece com frequência quanto ao purgatório. As palavras que muitas vezes explicam conceitos bíblicos nem sempre são encontradas na Bíblia. O que importa, porém, é que o conceito esteja lá.
Deus exige uma satisfação à Sua justiça. Essa satisfação foi alcançada na cruz. Portanto, o purgatório é amparado na própria Cruz do Senhor.
 
 
[1] A Treatise on the Soul.
[2] Disponível em: <http:> Acesso em: 02/11/2011</http:>
Disponível em: <http:> Acesso em: 01/12/2011.</http:>
[1] Esse ponto é interessante, pois ele não é o único protestante a afirmar que “encontrou” incoerências a doutrina católica. Certamente, isso se dá porque há princípios que os protestantes não compreendem. Precisam aprofundar seus estudos, e o presente texto é uma oportunidade.
 [3] A obra sobre os Puritanos é de Samuel Bolton, Nathaniel Vincent e Thomas Watson, prefácio de Albert N. Martin. Disponível em:http://www.editorapes.com.br/.
[1] Os calvinistas diriam que Cristo não apenas tornou possível, mas que realmente e infalivelmente perdoou os eleitos, que receberão o perdão com toda a certeza e serão salvos.
STOTT. John. A Cruz de Cristo.
BACCHIOCHI, Samuele. Disponível em: Popular Beliefs: are they biblical?
WEISS, Karl. A Igreja que veio de Roma. ed. Gráfica Universal LTDA. 1999.
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática, CPAD, 2010.






[1] O apologista Norman Geisler afirma que Onesíforo estava vivo, e não faz qualquer tentativa de fundamentar essa afirmação. Portanto, não há força alguma de sua parte, sobre esse texto, contra a doutrina da oração pelos mortos, da qual o texto de 2 Tm 1,18 é um exemplo.

Sobre os feitos do sofrimento pelos outros: A explicação de Norman Geisler de Cl 1,24 não chegou a tanto. A primeira razão que apresenta é que o sacrifício de Cristo é suficiente, o que está correto. A segunda razão, ele expõe através de Fl 1,29, onde é dito que sofremos por Cristo. Mas, em Colossenses 1,24 o sentido é diverso, já que implica em sofremos por outros irmãos, pela Igreja. Geisler concede que sofremos a dor como parte do Corpo espiritual de Cristo, o que significa como parte da Igreja, mas somente o que Jesus sofreu fisicamente é eficiente pelos pecados. Ele não explica que o texto de Cl 1,24 trata do sofrimento físico do cristão em favor dos outros, com resultados espirituais. Ao mostrar a terceira razão, a apologista afirma que mesmo aceitando o sofrimento pelos outros, não encontra passagem bíblica para que aceite sofrer pelos mortos, parte da negação da doutrina do purgatório. As falhas de Geisler perpassam seu argumento, pois que a suficiência de Cristo não é afetada pelas palavras de Cl 1,24, como ele sabe, mas que elas têm um sentido espiritual, que deve ser explicado, o que não foi feito pelo teólogo, e que sua recusa em aplicar aos mortos não tem respaldo bíblico, pois o Corpo de Cristo continua espiritualmente o mesmo, já que os santos mortos estão em união com Jesus, pois nem a morte os separa do amor de Deus testemunhado em Cristo. (Rm 8, 38-39)