Em primeiro lugar, deve-se entender o tipo imagens a que se refere. Se de deuses, ou de qualquer coisa que venha a receber culto de adoração, a resposta é não. De fato, não se pode adorar nada e ninguém a não ser a Deus.
Se se refere a imagens de culto de veneração, que servem para indicar uma realidade, avivar a fé, inspirar piedade, então deve-se concordar com a Bíblia de que a resposta é sim.
Entretanto, a Bíblia revela que o culto do verdadeiro Deus continha imagens, e que essas estavam nos lugares mais importantes da adoração a Deus, e de Sua comunicação com o Povo eleito, e serviam de sinal e meio de realização da ação de Deus.
Assim, as imagens sagradas estão de acordo com o plano de Deus, enquanto que os ídolos são contrários à Vontade santa do Senhor Javé.
Os ídolos constituem tudo o que recebe adoração, roubando a glória de Deus, podendo ser imagens ou quaisquer outras coisas. As imagens, portanto, podem ou não ser ídolos. Para muitos, não obsta que imagens e ídolos sejam identificados na Bíblia, em muitas passagens, já que se servem dessa distinção para reprovar mais diretamente as imagens. Sendo assim, o Novo Testamento jamais refere-se a tal proibição, reservando a interdição apenas ao ídolos.
A interpretação de que a proibição é referida somente ao uso cultual das imagens, e não às mesmas em si, é incompleta e, finalmente, errônea. O texto do Êxodo proíbe a confecção, posse e culto das imagens, e não apenas o último. Essa é a leitura literal, corroborada pelo contexto.
Uma imagem de personagem civil ou de uma imagem para adorno não seria proibida, enquanto que uma imagem sagrada o seria, por receber veneração, adoração, culto. No entanto, um questionamento é importante: o texto do Êxodo é anterior ou posterior à feitura da imagem da serpente? Obviamente anterior. Deus havia proibido imagens, e naquele momento ordena que seja feita uma imagem. Há claramente diferença entre imagens, umas sendo proibidas e outras lícitas.
E o uso que o Senhor Deus fez da imagem que mandou Moisés edificar é esclarecedor. O povo rebelde é castigado com o envio de serpentes venenosas que picavam e feriam mortalmente os israelitas. Moisés intercede pelo povo e esse recebe o perdão. Para aplicar o perdão, Deus manda Moisés construir a serpente e colocá-la em lugar alto e visível no acampamento, para que fosse instrumento de cura aos que olhassem para ela.
De fato, sabendo que Deus os havia perdoado, olhando aquela imagem terrível com a fé de receber a cura, os fieis veneravam aquele objeto, por Vontade divina. Não eram curados quem não olhasse para a imagem, mas somente os que a fitavam.
Vivendo o povo de Deus em um tempo e entre religiões altamente idólatras, é magnífico que o Senhor Deus, com toda a Sua sabedoria, tenha instituído um meio de ensinar o Povo Sua economia salvífica, expondo o Salvador por um sinal material, uma imagem de escultura! E essa imagem acompanhou os israelitas por praticamente 500 anos!
Entende-se assim, que as imagens são lícitas no culto a Deus. Deus escolheu um meio natural, mas perigoso diante do coração pecador e apegado à idolatria: as imagens. Mas, escolhendo essa forma, não há como negá-la, pois as imagens são do agrado de Deus, desde que não adoradas.
E o que é adoração?
Para muitos, é uma questão exterior e material: ajoelhar seria idêntico a adorar! Então, ajoelhar diante de uma imagem seria o mesmo que adorar a imagem. Essa interpretação é estranha, pois leva a ter os atos como absolutos, quando na verdade são relativos, dependendo muito da intenção do coração. Certamente, por isso, muitos ajoelham-se em louvores afirmando estar adorando o Senhor! E o coração? Acompanha o ato exterior? Pode modificá-lo? É aquilo que o determina?
A doutrina bíblica é de que a adoração é feita em espírito e verdade, indicando o que se passa no interior, não num local visível e material apenas, como o era no Antigo Testamento, que apenas reconhecia o Templo de Jerusalém como local de adoração.
O Novo Testamento é de adoradores em espírito e verdade (cf. João 4), adoradores que adoram a Deus em todos os lugares. Tendo isso em mente, pensemos na adoração interior, que é o reconhecimento do senhorio de Deus sobre nossa vida e todo o universo.
Se alguém não reconhece os santos e, portanto, nem suas imagens como “senhores” de suas vidas, não existe adoração. Se eles não tomam de Deus qualquer atributo, nem reconhecimento, nem levam a glória divina, não há adoração. Ajoelhar então, nesse caso, é apenas uma expressão de amor e homenagem, o que chamamos mais propriamente de veneração.
Gledson Meireles
domingo, 22 de maio de 2016
segunda-feira, 16 de maio de 2016
O chamado de Jesus Cristo a São Pedro
Os discípulos de Jesus como
embaixadores
Ninguém negará que, em certo
sentido, todos somos embaixadores de Cristo, pois devemos anunciar a Palavra de
Deus em Nome de Jesus. Mas, em 2 Coríntios 5,20, a forma pela qual essa palavra
é apresentada denota o sentido de embaixador como pertencente à liderança da
Igreja, ao grupo dos apóstolos, em primeiro lugar, e certamente aos epíscopos
(bispos) presbíteros. É um uso que tem a ver com a hierarquia, e não com todos.
Nesse ínterim, depois de termos a visão clara sobre a doutrina do primado de
Pedro, é importante considera-lo como embaixador de Cristo de uma forma
especial, como aquele que está à frente, assim como o apóstolo Pedro estava em
relação aos outros apóstolos, não em uma hierarquia diversa, mas numa função
peculiar, a de confirmar na fé os irmãos. Essa doutrina tem repercussões
belíssimas, e não pode ser negligenciada.
“Não somos perfeitos. Pedro
não era perfeito. Não somos infalíveis. Pedro não era infalível.”
Essa frase tem como fundo a
ideia de que a infalibilidade do papa, segundo a doutrina católica, significaria
uma perfeição moral de Pedro e de todos os sucessores, em que nenhum deles
erra, não cometem pecado, e tudo o que dizem e ensinam está em perfeita relação
com a verdade, ou melhor, tudo o que dizem é verdade, é infalível. O problema é
que esse entendimento não é cristão católico, e um católico bem informado não
crê nisso. Pelo contrário, ele crê que o papa é um pecador, que não é infalível
em tudo o que qualquer ser humano não é também infalível. A única exceção em
que o papa tem o carisma da infalibilidade é nos momentos em que irá pronunciar
uma definição doutrinal ou moral que deve ser acatada como pertencente ao
conteúdo da revelação oficial, e assim essa infalibilidade da Igreja tem ali
seu local de expressão, na pessoa do papa em virtude de sua posição de líder
visível da Igreja.
Em geral, o protestante não
crê que Pedro tenha sido líder da Igreja, nem em sua acepção visível, pois São
Paulo diz em 1 Coríntios 3,11 que não há outro fundamento a não ser Cristo.
Dessa forma, pegando as palavras de São Paulo em sua significação absoluta,
ensinam que não existe outro fundamento, seja qualquer um que se possa
imaginar, nem visível, nem invisível, pois somente Cristo Jesus é o fundamento.
Porém, quando vamos mais
fundo nessa questão, essa “absolutização” do argumento tirado principalmente de
1 Cor 3,11 é desfeito, de certa forma, mas de modo que não afeta a consciência
de quem o faz, e esse pode conviver com essa tênua contradição. Isso diz
respeito que, em geral todos devemos concordar que Efésios 2,20 chama de
fundamento os apóstolos e profetas. Sendo esses homens considerados fundamentos
da Igreja, em algum sentido, seja ele qual for, há outro fundamento para a
Igreja.
Partindo dessa premissa, a
leitura de 1 Cor 3,11 não deve invalidade o sentido de Ef 2,20. Então, para
harmonizá-los temos que afirmar, segundo as Escrituras, que Cristo é o único
fundamento em sentido absoluto e invisível, sobre o qual repousa todo o
edifício espiritual da Igreja, mas também os apóstolos e profetas são
fundamento, em conjunto, da mesma Igreja que está assentada sobre Cristo. Tendo
então esse fundamento humano, que é de outra natureza, podemos afirmar que Cristo
é o fundamento em sua acepção de base e alicerce sem o qual não há o edifício,
sendo assim o fundamento espiritual e invisível.
Assim, os apóstolos e
profetas são o fundamento visível que tem a coesão em Jesus Cristo. Agindo de
jeito, onde podemos entender a palavra fundamento em mais de um significado,
temos que 1 Coríntios 3,11 trata de um assunto específico e Efésios 2,20 de
outro.
Nesse momento, entra a
alegoria de Pedro como fundamento em outro sentido, não aquele de 1 Cor 3,11,
mas naquele de Ef 2,20. Sendo a liderança da Igreja, o primeiro dos apóstolos,
Pedro é entendido como fundamento visível, e não há na Escritura e na razão,
como mostrado acima, nenhum motivo para negar essa verdade.
Dito isso, a seguinte
afirmação sobre a Igreja não tem lugar na verdade cristã: (a Igreja) “estaria
sendo sustentada por um alguém tão humano e falível quanto qualquer um de nós.”
Pedro não é fundamento como
o que está descrito por São Paulo em 1 Cor 3,11, ele é um homem como todos os
demais, apenas usufruindo de uma posição que ganhou de Cristo para apascentar
seus cordeiros e ovelhas. Vale afirmar que São Pedro não pode, assim como
nenhum papa, criar doutrinas e proclamar dogmas à vontade, pois ele não é infalível
como pessoa, nem tem a possibilidade de ser em virtude do cargo que ocupa, mas
apenas em momentos em que o Espírito Santo guia a Igreja para a verdade, quando
define questões em momentos de controvérsias.
As afirmações consideradas não tiradas do livro A História não contada de Pedro. (http://apologiacrista.com/a-historia-nao-contada-de-pedro)
Segue abaixo a refutação ao capítulo 1, com adaptações.
Capítulo 1
O Pedro de Roma e o Pedro da Galileia
Nessa
resposta os argumentos que o livro propõe serão analisados devidamente. No
decorrer do texto, as linhas em preto e azul são partes da resposta, enquanto
que as verdes de mais cores são oriundas do livro em análise.
O livro reconhece que os discípulos
são “verdadeiros
embaixadores de Cristo.” (p. 6) Essa doutrina do Evangelho deve nos
inspirar nessa consideração, de que somos representantes de Nosso Senhor Jesus
Cristo, e que os líderes da Igreja, como os apóstolos, realizam a evangelização
como verdadeiros embaixadores do Senhor Jesus.
O foco do livro é um dos doze apóstolos, o
apóstolo Simão Pedro. De caráter irresoluto, mas fiel, firme na fé, de grande
amor pelo Salvador, era rude nas palavras e nos atos, cheio de zelo e de
entusiasmo. Mas não foi isso que o fez apóstolos, mas sim o seu chamado por
Cristo.
Bem,
a fé cristã católica tem o fato de que Pedro morreu em Roma, e essa é a fundação histórica
para a primazia de Roma. [cf. Enciclopédia Católica] Não são as suas
prerrogativas de capital do império, que advém do seu pode e influência, mas os
escritores da Igreja apontam a herança dos apóstolos Pedro e Paulo como motivo
para que Roma seja considerada o centro da fé, a mãe das demais comunidades
cristãs locais espalhadas pelo mundo.
Essa
informação é de extrema importância, e isso ficará mais claro quando for
tratado o tema em capítulo específico. A Igreja não tem outros detalhes históricos
constitutivos da vida do apóstolo Pedro como base histórica para a afirmação da
primazia da Igreja de Roma, mas apenas o seu martírio. Por ter vivido algum
tempo, e morrido, em Roma, aquela Igreja guardou a fé do apóstolo e seu primeiro
bispo.
O
que está dito aqui não pode corroborar com o que foi objetado no livro, pois
aquele nega o caráter do primado Petrino, nega a estadia de Pedro em Roma, nega
a sua função episcopal na cidade, e afirma que as características pessoais de
Pedro o fizeram importante entre os demais apóstolos, embora isso não seja o
caso, pois essa importância advém do fato do apóstolo ter sido indicado com
especial atenção pelo próprio Cristo.
O
livro tenta fundamentar as menções especiais a Pedro, por parte de Jesus, como
fruto natural, e único, de sua personalidade, que era de muita iniciativa, pois
era um apóstolo participativo, o que levava-o a acertar e também a errar muitas
vezes. E faz comparação com a maioria dos discípulos hoje.
Então, passa a mostrar as premissas que
orientaram sua comparação com o papa: “Não somos perfeitos. Pedro não era perfeito. Não
somos infalíveis. Pedro não era infalível. Reconhecemo-nos como pecadores (Lc.5:8),
choramos amargamente quando cometemos um pecado (Lc.22:62).” (p. 7)
Essa
insinuação de que Pedro não era infalível diz respeito ao objetivo de criticar
a infalibilidade do Papa, que é o sucessor de Pedro. No entanto, o livro comete
um erro inicial: ao afirmar a infalibilidade do papa nenhum cristão católico
crê que o papa é “impecável”. A infalibilidade não implica em sua
impecabilidade. Sabemos que o papa mesmo confessa ser pecador, assim como Pedro
(cf. Lc 5,8). Portanto, o que o livro traz nessas linhas é inócuo.
É
comum que teólogos eminentes cometam esses erros. Assim o fez o pastor Augustus
Nicodemus, o revendo Hernandes D. Lopes, e também o pastor e apresentador Éber
Cocareli, e tantos outros, quando ao falar da infalibilidade tocam na questão
da impecabilidade, e confundindo ambas supõem ter dirimido a questão ao refutar
uma, justamente aquele que o próprio Catolicismo refuta.
Ainda:
“Infelizmente,
com o passar do tempo, esse Pedro humano, pecador e falível como todos nós, foi
substituído por um outro “Pedro”, alguém que a Igreja de Roma
quer passar a ideia de um ser infalível, chefe de todos os cristãos, o
supra-sumo da cristandade, a própria rocha sobre a qual a Igreja (todos nós)
está edificada. Ao invés de Pedro ser um cristão igual a nós, fomos obrigados a
crer que não apenas nós, mas também todos os apóstolos, profetas, e pasme: o
próprio Senhor Jesus Cristo(!), estão todos edificados sobre uma pedra humana,
falível e pecadora.”
O
livro tenta fazer um contraste imaginário entre a verdadeira biografia e imagem
do apóstolo são Pedro e uma suposta “lenda” e “falsa imagem” que teria sido
passada pela Igreja na figura do papa. E, então, ensina ao leitor que a Igreja
Católica professa a fé de que Jesus e todos os cristãos estão edificados sobre
Pedro. Obviamente, não faz citação de nenhuma fonte, apenas conclui daquilo que
entendeu. Mas, seu entendimento é falho, pois a Igreja Católica crê que a
fundação da mesma é Jesus Cristo, e que são Pedro tem sua força proveniente do
mesmo Senhor Jesus Cristo.
Um
cristão católico verdadeiramente esclarecido não tem o papa como fundamento da
Igreja, como quis passar o livro em análise, e assim a informação que o mesmo
traz não tem validade alguma no sentido de gerar qualquer mudança no nosso coração.
Somente
no sentido de governo, de uma liderança visível, é que a Igreja Católica crê
que Pedro é a pedra fundamental. Talvez alguém queira introduzir nesse momento,
e novamente, a negação de que Pedro não foi o líder, não exerceu primazia, não
exercia jurisdição e etc., e passam por cima de qualquer outra evidência para
continuar sua argumentação a partir dessas afirmações.
E
essa verdade coloca Pedro sobre o fundamento de Cristo, pois o papa não teria
autoridade se essa não lhe fosse dada por Jesus. O Catecismo no número 424
mostra que a Igreja está fundada sobre Jesus, afirmando que a confissão de
Pedro é a pedra de fundamento. Eis um exemplo do documento oficial explicando o
sentido de Mateus 16,18 de forma espiritual, com foco em Jesus Cristo como
fundamento da Igreja. Portanto, o que o livro afirmou acima não é verdade.
Em
continuação, o livro afirma: “Um Pedro infalível, que manda e que desmanda, que cria
dogmas e que ai de quem vai contra ele ou ousa questionar a sua autoridade!” (p.
7)
Deve-se
saber que o papa segue a tradição cristã e não pode criar dogmas, nem tem
qualquer autoridade senão pela verdade. O que o livro coloca acima é uma
crítica vazia, e um julgamento errôneo da fé católica. Normalmente, o papa toma
decisões que estão em concordância a maioria de bispos e presbíteros e teólogos
em todo o mundo.
O
objetivo do autor é “desmistificar” o que considera o “mito” sobre o apóstolo
são Pedro, de ser o fundamento da Igreja, de sua primazia, de sua
infalibilidade, de ser o único vigário de Jesus, de sua autoridade máxima, de
ser bispo de Roma, portanto, de ser papa, de usar o título de Sumo Pontífice,
dos papas serem sucessores de são Pedro, e de Roma ter a primazia entre as
igrejas. Então, deseja que ao terminar o livro o leitor não creia em nada mais
do que aponta numa lista, que inclui o que foi citado acima, e termina o
capítulo com as palavras: ““Pedros” que não sejam o original serão desmascarados. E
um povo sábio e consistente na Palavra de Deus será erguido.” (p. 8)
Uma
das afirmações que o livro propõe para criticar é: “Pedro era o único vigário ou
representante de Deus na terra”. (p. 8) Para entender essa questão
deve-se saber o que a Igreja ensina:
“No serviço eclesial do
ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja, como
Cabeça do seu corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifício
redentor, mestre da verdade. É o que a Igreja exprime quando diz que o padre,
em virtude do sacramento da Ordem, age in
persona Christi Capitis – na
pessoa de Cristo Cabeça:” (Catecismo da Igreja Católica, 1548). [ênfase
do original]
A Igreja ensina que Jesus
Cristo é o Cabeça da Igreja, que é o Pastor, o Sumo-Sacerdote, e que o padre
age em Seu Nome, em Sua Pessoa. Isso equivale a dizer que o padre é o Seu
representante. Isso está naquilo que foi dito a respeito do ser embaixador de
Cristo.
“Esta presença de Cristo
no seu ministro não deve ser entendida como se este estivesse premunido contra
todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio, contra os erros, isto é,
contra o pecado.” (Catecismo, 1550).
O
cristão católico deve professar a fé de que todos somos pecadores, mesmo os
ministros santos de Deus. Isso inclui o papa. Quando o livro quis inculcar que
a fé católica tem o papa como “impecável” ele está introduzindo erro. Esse
artigo não está no nosso credo.
“Cada bispo tem, como vigário de Cristo, o encargo pastoral da
Igreja particular que lhe foi confiada.” (Catecismo, 1560).
Temos,
então, que o papa possui o primado que Jesus deu ao apóstolo são Pedro, judeu,
pescador da Galileia, e que foi testemunha de Jesus, primeiro dos apóstolos,
pregador do Evangelho em Roma, e que vivendo nessa cidade por algum tempo,
sofreu nela o martírio. Essas informações estão na Bíblia, e são corroboradas
pelas tradição, em vários documentos.
Ainda,
que assim como são Pedro, o papa é um homem falível e pecador, e em virtude do
cargo é fundamento e sinal de unidade na Igreja. Por seu cargo o papa é
infalível.[1]
Nesse número, 1560, o
Catecismo ensina que todo bispo é “Vigário” de Nosso Senhor. Sendo assim, temos
muitos vigários. Se o livro disser que há somente um vigário, o papa, estará
cometendo outro erro, que não é de fé católica. O papa não é o único Vigário.
Portanto, a ideia que o livro ataca não existe.
Pelo
que o livro trouxe até o momento, fica claro que seu entendimento básico da
doutrina católica sobre o primado de Pedro é defeituoso. O autor não o
compreende e julga uma concepção não católica da mencionada doutrina.
É
preciso, antes de continuar, entender o básico da questão, da mesma forma que o
cristão católico entende, e só a partir daí tecer a contra-argumentação. Afirmar
que o católico crê que o papa é o fundamento da Igreja conforme o sentido de 1
Cor 3,11, quando na verdade o católico não crê nisso, não adianta. Afirmar que
o católico crê que o papa é impecável quando sabemos que o papa é um homem como
outro qualquer, sendo pecador, e que a infalibilidade
não é isso, também não adianta. E tantas outras coisas. Para que a crítica seja
correta, poderíamos fazer assim: “O Catolicismo ensina que o papa é infalível,
mas isso não quer dizer impecabilidade. É apenas infalível nas questões de fé e
moral quando fala na condição de pastor a toda a Igreja, no momento de confirmar
a todo na fé. Sendo assim, nesses raros momentos, a Igreja goza da
infalibilidade na pessoa daquele que a está visivelmente conduzindo, pois o
Espírito Santo afirma que guiará a Igreja a toda a verdade”. Então, essa é a
posição do Catolicismo.
Agora,
tente contra-argumentar contra a ideia católica de que o papa é pecador, e que
é infalível naquele âmbito descrito, de que a Igreja em questões de fé e moral não
pode errar em geral, pois isso estaria contra João 14,26 e etc.
Há
quem tenha facilidade em afirmar esse último passo, mas logo chega ao conceito
de “ecclesia”, da Igreja invisível, e que essa não pode errar ou ser destruída,
distinguindo-a da Igreja visível. Dirão que sua negação tem a ver com a Igreja
visível e não com a invisível e etc., mostrando apenas que o sentido do dogma
existe, havendo mais ou menos divergência em sua aplicação.
Com
intuito de auxiliar nessa reflexão, leiamos o que nos informa o grande
historiador da Igreja, Eusébio de Cesaréia:
“Logo depois, sob o reinado de Cláudio, pela benigna e graciosa
providência de Deus, o grande e poderoso Pedro que, por sua coragem era o líder
de todos os outros, foi conduzido a Roma...”
Essa
linguagem é bastante cristã católica, e não parece em nada com o modo de
entender do Protestantismo. De fato, um protestante dificilmente se referiria a
Pedro como “o grande e poderoso Pedro”. Talvez, também não o considerariam como
o “líder de todos os outros” apóstolos. Mas, a fé cristã é justamente essa, que
a História Eclesiástica testemunha nesse registro.
Assim,
o que Eusébio escreve aí traz pelo menos duas informações importantes: de que
Pedro é o líder dos apóstolos, e que foi levado a Roma pela Divina Providência.
“Mas uma grande luz de
piedade iluminou a mente dos ouvintes de Pedro, de modo que não lhes era
suficiente ouvir uma vez nem receber o ensino não escrito da proclamação
divina, mas com todo tipo de exortação suplicaram a Marcos, cujo Evangelho
temos, que, como companheiro de Pedro, lhes deixasse um registro escrito do
ensino que lhes fora dado verbalmente.”
Essa
atestação da pregação de Pedro em Roma é inequívoca. O Evangelho Segundo São
Marcos foi escrito tendo por referência as pregações de são Pedro em Roma.
“Ora, Pedro menciona
Marcos em sua primeira epístola, que teria composto na mesma cidade de Roma,
coisa que, segundo dizem, ele mesmo indica, referindo-se à cidade
metaforicamente como Babilônia, com as palavras: “a eleita na Babilônia vos
saúda e também Marcos, meu filho” (1 Pe 5,13)”. [História
Eclesiástica, II, 14.15]
Essa
outra informação importante afirma que os cristãos antigos entendiam que Pedro
refere-se a Roma quando escreve “Babilônia”, usando um termo metafórico. Essa é
uma prova da antiguidade dessa interpretação de 1 Pd 5,13.
Quanto às atenções especiais a são
Pedro, essas são sinais da sua primazia. Ainda nos momentos em que sua
personalidade não é evidenciada, e que o mesmo esteja em situação idêntica a
dos demais, o Senhor Jesus o destaca como líder.
Ao
encontrar os apóstolos dormindo, quando deviam vigiar, o Senhor disse a Pedro: “E, voltando para os
seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma
hora pudeste velar comigo?” (Mateus 26,40)
Não
foi o apóstolo sozinho quem dormiu, mas todos adormeceram. No entanto, a
especial atenção, e exortação, vai ao líder. É preciso ver o contexto de toda a
passagem, sendo as premissas até aqui vistas, para que não venham com listagem
do primado de Paulo, de Tiago, de Judas Iscariotes, etc., tentando negar o
óbvio. É preciso refutar cada argumento acima, e só assim passar para as
comparações irônicas desse tipo.
Noutro
momento, temos que o Diabo pede para perseguir os apóstolos, mas o Senhor diz a
Simão Pedro: “Disse
também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos
cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.”
(Lucas 22,31-32)
Essas
são provas da liderança do apóstolo São Pedro sobre os demais apóstolos, e essa
promessa foi feita antes da revelação de que o apóstolo iria negar o Mestre. A
liderança aqui não é vista como uma jurisdição de mandar e desmandar, de julgar
ou não, de impor ou não a sua autoridade. Naquele momento não havia
circunstância para isso, e todos os apóstolos iriam ser cheios do Espírito
Santo, infalíveis na pregação do Evangelho. O que vemos é a primazia que traz
em si toda a semente da ideia de liderança, jurisdição etc.
Penso
que essas palavras já são suficientes para afirmar que o apóstolo Pedro, que
nasceu na Galileia, é aquele mesmo Pedro que foi martirizado em Roma, o qual
tem por sucessores os bispos de Roma, os papas da santa Igreja Católica.
Vai,
realmente, valer a pena ler o livro até o fim, e responder a seus erros, e
fazer cair os mitos em Nome de Jesus Cristo.
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