Uma opinião quanto à palavras "todas" em Mateus 13,56:
É
enfática, para fins de análise quanto ao tema “irmãos e irmãs de Jesus”, a
palavra “πᾶσαι” (pasai), que quer dizer “todas”, referindo-se às “irmãs” de
Jesus naquele versículo.
É digna de nota essa
observação, e já a tinha percebido o antigo teólogo São Jerônimo, tradutor da
Bíblia para o latim. De fato, ao dizer “todas” parece, naturalmente, sem forçar
em nada o contexto, que o evangelho refere-se a um grupo mais ou menos
numeroso, e não apenas a duas, três ou quatro pessoas. Ao dizer todas as suas
irmãs já vem à nossa mente várias mulheres, talvez de sete pra lá, porque até
mesmo cinco ou seis não é tão condizente com a expressão “todas essas pessoas
estão aqui”, por exemplo.
É certo que tal
elucubração é apenas aproximada, pois pode sim que o texto refira-se a quatro
ou a cinco pessoas, mas menos provavelmente a três ou a duas, isso é
logicamente certo. Mas que razoavelmente podemos pensar em um grupo em torno de
sete pessoas para cima, ou seja, sete irmãs de Jesus referidas naquela frase:
“Não estão conosco todas as suas irmãs”. (Mateus 13,56)
Isso fica mais forte
ainda quando comparado com o versículo anterior, que cita cada um dos irmãos do
Senhor, mas deixa de citar as irmãs nominalmente, preferindo indicá-las por
“todas as suas irmãs”, o que pressupõe serem tantas que ficaria cansativo
citá-las nessa narrativa. Percebemos que, em um texto, a citação de cinco nomes
em diante já é um pouco longa.
Quanto ao artigo Quem
foram os irmãos de Jesus?
O artigo menciona o fato de que estudiosos católicos
traem a fidelidade à doutrina cristã católica e afirmam heresias, como a de que
os irmãos de Jesus eram de fato irmãos de sangue, nascidos de Sua mãe, como o
padre John P. Meyer.
Um ponto interesse que
toca esse artigo é que Maria teria dificuldades de viajar com, por exemplo,
cinco crianças pequenas, quando o evangelho afirma que todos os anos ela ia a Jerusalém
para celebrar a páscoa, quando somente os homens eram obrigados a celebrar
anualmente essas festas.
A cena indica que
apenas José, Maria e Jesus iam todos os anos a Jerusalém, e deixa claro que
naquele momento só os três estavam lá.
Outra grande prova,
diria assim, que está no contexto da identificação dos irmãos de Jesus como
seus verdadeiros primos, está na passagem de João 19,25, onde o evangelista São
João enumera pessoas da seguinte forma: “a
mãe dele E a irmã da mãe dele Maria de Clopas E Maria Madalena”.
Essa enumeração é muito
sugestiva, já que enfraquece outras interpretações que querem ver nessa
passagem quatro pessoas e não somente três. De fato, o evangelista conta Maria
com a sua irmã com Maria Madalena, pela conjunção “e”, o que não antecede a
expressão “Maria de Clopas”, que por esse motivo está como uma explicação da
identidade da outra Maria mencionada.
O artigo é bom ao
explicar que aqui também o termo “irmã” não quer dizer filha dos mesmos pais,
mas uma parente da mãe de Jesus, certamente sua prima, ou como o artigo mostra na interpretação de Hegésipo,
pode tratar-se de uma “parenta”, pessoa pertencente à família, no sentido de
“concunhada”.
A explicação de que os
evangelistas usavam o termo “irmão” ao referir-se aos primos de Jesus é
bastante provável, e portanto plausível. Pode-se ter consagrado o texto pelo
seu uso tradicional, e isso mostrou-se na tradução, um hebraísmo. Assim, não há
motivo de ficar alarmado com o caso.
Algo interessante tem a
ver com a identificação de Clopas, tio de Jesus, que pode ter falecido anos
antes da Sua vida pública, e um discípulo chamado Cléofas, que aparece no
evangelho de Lucas. É uma possibilidade, e as explicações são bem fundadas
quanto ao uso do termo irmão em relação aos filhos de Clopas quanto ao
parentesco com Jesus. Artigo muito bom.
Gledson Meireles.