sábado, 28 de julho de 2018

Uma palavra em Mt 13,56 e o artigo Quem foram os irmãos de Jesus?

Uma opinião quanto à palavras "todas" em Mateus 13,56:
 
É enfática, para fins de análise quanto ao tema “irmãos e irmãs de Jesus”, a palavra “πᾶσαι” (pasai), que quer dizer “todas”, referindo-se às “irmãs” de Jesus naquele versículo.

É digna de nota essa observação, e já a tinha percebido o antigo teólogo São Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim. De fato, ao dizer “todas” parece, naturalmente, sem forçar em nada o contexto, que o evangelho refere-se a um grupo mais ou menos numeroso, e não apenas a duas, três ou quatro pessoas. Ao dizer todas as suas irmãs já vem à nossa mente várias mulheres, talvez de sete pra lá, porque até mesmo cinco ou seis não é tão condizente com a expressão “todas essas pessoas estão aqui”, por exemplo.

É certo que tal elucubração é apenas aproximada, pois pode sim que o texto refira-se a quatro ou a cinco pessoas, mas menos provavelmente a três ou a duas, isso é logicamente certo. Mas que razoavelmente podemos pensar em um grupo em torno de sete pessoas para cima, ou seja, sete irmãs de Jesus referidas naquela frase: “Não estão conosco todas as suas irmãs”. (Mateus 13,56)

Isso fica mais forte ainda quando comparado com o versículo anterior, que cita cada um dos irmãos do Senhor, mas deixa de citar as irmãs nominalmente, preferindo indicá-las por “todas as suas irmãs”, o que pressupõe serem tantas que ficaria cansativo citá-las nessa narrativa. Percebemos que, em um texto, a citação de cinco nomes em diante já é um pouco longa.

O artigo menciona o fato de que estudiosos católicos traem a fidelidade à doutrina cristã católica e afirmam heresias, como a de que os irmãos de Jesus eram de fato irmãos de sangue, nascidos de Sua mãe, como o padre John P. Meyer.

Um ponto interesse que toca esse artigo é que Maria teria dificuldades de viajar com, por exemplo, cinco crianças pequenas, quando o evangelho afirma que todos os anos ela ia a Jerusalém para celebrar a páscoa, quando somente os homens eram obrigados a celebrar anualmente essas festas.

A cena indica que apenas José, Maria e Jesus iam todos os anos a Jerusalém, e deixa claro que naquele momento só os três estavam lá.

Outra grande prova, diria assim, que está no contexto da identificação dos irmãos de Jesus como seus verdadeiros primos, está na passagem de João 19,25, onde o evangelista São João enumera pessoas da seguinte forma: “a mãe dele E a irmã da mãe dele Maria de Clopas E Maria Madalena”.

Essa enumeração é muito sugestiva, já que enfraquece outras interpretações que querem ver nessa passagem quatro pessoas e não somente três. De fato, o evangelista conta Maria com a sua irmã com Maria Madalena, pela conjunção “e”, o que não antecede a expressão “Maria de Clopas”, que por esse motivo está como uma explicação da identidade da outra Maria mencionada.

O artigo é bom ao explicar que aqui também o termo “irmã” não quer dizer filha dos mesmos pais, mas uma parente da mãe de Jesus, certamente sua prima, ou como o  artigo mostra na interpretação de Hegésipo, pode tratar-se de uma “parenta”, pessoa pertencente à família, no sentido de “concunhada”.

A explicação de que os evangelistas usavam o termo “irmão” ao referir-se aos primos de Jesus é bastante provável, e portanto plausível. Pode-se ter consagrado o texto pelo seu uso tradicional, e isso mostrou-se na tradução, um hebraísmo. Assim, não há motivo de ficar alarmado com o caso.

Algo interessante tem a ver com a identificação de Clopas, tio de Jesus, que pode ter falecido anos antes da Sua vida pública, e um discípulo chamado Cléofas, que aparece no evangelho de Lucas. É uma possibilidade, e as explicações são bem fundadas quanto ao uso do termo irmão em relação aos filhos de Clopas quanto ao parentesco com Jesus. Artigo muito bom.
 
Gledson Meireles.